29.4.14

semana 5








(12 horas de escala no Dubai e a visita possível)

Estou estranhamente calma e, consequentemente, racional. Estou a tentar aproveitar as lições das experiências anteriores. Na última gravidez  fui a correr para o médico. Fiz ecografias todas as semanas. Morria de ansiedade, desespero e stress entre cada ecografia. Havia sempre alguma coisa que não estava aparentemente bem, mas que podia não significar nada. Havia que esperar pela ecografia seguinte. As semanas pareciam demorar meses e a verdade é que não adiantou de nada. Na realidade quando algo corre mal nesta fase inicial, os médicos pouco ou nada podem fazer. De modo que desta vez não vou cair no mesmo erro. Consulta e ecografia só daqui a mais umas semanas, quando já for possível ver o embrião e ouvir o coração. Até lá vou tentar manter-me calma e feliz, e ir gozando os sintomas ao sabor do correr dos dias. Ah, e também vou viajando, a melhor fonte de distracção possível. Vemo-nos por aí, na Croácia, amanhã! 

27.4.14

à terceira é de vez! :)

Untitled
(incenso em espiral, Hong Kong)


Sempre fui dada a correr riscos. Não me refiro a atirar-me de cabeça de um precipício, mas correr riscos depois de ponderar os prós e os contras e depois de ter presente qual a pior situação em que poderia ficar, caso o arriscar me corresse mesmo mal. Foi isso que fiz depois do segundo aborto. Sabia que queria fazer todos os exames possíveis para tentar encontrar uma possível causa para as duas gravidezes com fim espontâneo e precoce. Mas, por outro lado, não queria esperar meses pelos resultados dos exames e sabe-se lá mais quantos meses depois disso até tornar a engravidar. Já não tenho vinte e poucos anos, nem sequer trinta. Decidi fazer as duas coisas em simultâneo. Fazer os exames médicos sem deixar de tentar engravidar. Da última vez entre o aborto e a nova gravidez passaram 6 meses. Ninguém me garantia quanto tempo demoraria a tornar a engravidar desta vez. Tomei esta decisão numa postura de economizar tempo.

E economizei. Na verdade, economizei muito mais tempo do que alguma vez poderia ter imaginado. Hong Kong é um sítio mágico para mim, ao qual tenho associados alguns dos melhores momentos da minha vida. A viagem mais recente foi fabulosa e na melhor companhia possível. Temperaturas de Verão, caminhadas muito longas, muito cansaço, muitos templos, molhar os pés no mar do Sul da China, revisitar sítios onde já não ia há quase 20 anos. Enfim, fui verdadeiramente feliz naquela semana passada noutro clima e noutro fuso horário. Esqueci-me das gravidezes que não chegaram a bom porto e conscientemente ignorei um "mini-tratamento" que devo fazer todos os meses e sem o qual dificilmente conseguiria engravidar. Quis viver aquela semana de forma plena, sem nuvens a pairarem-me sobre a cabeça e sem esperanças falsas.

Ainda em Hong Kong senti-me grávida. Já tinha lido relatos destes e achava que eram um disparate pegado. Como é que alguém pode saber que está grávida uma semana antes do sinal evidente de uma gravidez? Eu sabia. Talvez o ter passado por outras duas gravidezes no espaço de um ano me tenha deixado a memória fresca, talvez esteja particularmente alerta a pequenos sinais e sintomas, talvez agora conheça o meu corpo como não conhecia antes. E ainda em Hong Kong havia um sinal que me deixava de pé atrás. Cheguei a Portugal e os pequenos sintomas foram-se acumulando. Uns dias antes do que era suposto já tinha um teste positivo nas mãos. 

Ainda não tenho os resultados dos exames que fiz para tentar encontrar uma causa para os abortos, de modo que estou num arame sem rede. Tudo se pode repetir ou, se o que me aconteceu foram dois acasos infelizes, tudo pode correr bem. Mas, neste momento, o que me interessa é que poucas semanas depois estou grávida. Ainda estou um pouco incrédula, sem saber muito bem como lidar com a novidade tão recente e inesperada. 

Estou grávida! 

Já vos disse que adoro Hong Kong? :)

24.4.14

dias de felicidade

Voltei à cabine de chão transparente do teleférico que vai até Lantau. Não há como descrever estes quase 6 Km de percurso.




21.4.14

19 anos depois

Já tinha voltado a Hong Kong entretanto, mas a Repulse Bay não ia desde 1995. O mesmo sítio da foto do post anterior com 19 anos de distância:


11.4.14

mala feita

Untitled

Semana terrível com muito trabalho, muitas confusões, sem tempo para caminhadas ou piscina. Esta semana basicamente existi e ponto final. Consegui fazer tudo o que era suposto, mas cortei nas horas de sono e no que mais gosto de fazer. Foi a primeira vez desde que cheguei a Itália em que trabalhei diariamente mais horas do que aquelas que posso declarar. Fui a primeira a chegar ao trabalho e a última a sair todos os dias. Chegava e tinha o estacionamento só para mim. Saía e o estacionamento ficava vazio. Estou de rastos.

E estou feliz. Trabalhei que me fartei porque tudo resolveu acontecer na semana antes das férias. Mas hoje, daqui a pouco, desligo o pc, arrumo a papelada e rumo directamente para o aeroporto. Ásia de novo, o continente que me faz mais feliz. A foto é de Hong Kong, tirada no tempo em que ainda se usava rolo e se esperava voltar para casa para se ver como tinham ficado as fotografias. Hong Kong foi a minha primeira viagem longa e talvez por isso me tenha caído no goto desta forma e me tenha deixado memórias excelentes, e um amigo para a vida. A verdade é que voltei há poucos anos e o encanto manteve-se. Afinal podemos voltar aos lugares aonde já fomos felizes e voltarmos a sê-lo. Fui três vezes a Hong Kong, e das três vezes fui muito feliz, ainda que de formas muito diferentes.

Até já, do meu lado preferido do mundo! 

8.4.14

hoje vou dormir mais descansada

Como é que esta foto foi tirada?




Assim :D


Hoje foi um dia bom no trabalho. Os is começam a ter os pontos no sítio certo. Claro que a minha dose de paciência para atitudes menos felizes também vai aumentando à medida que as férias se aproximam! Mas, independementemente disso, hoje foi um dia bom. Tenho andado mais sensível e intolerante e com os níveis de paciência a roçar valores negativos. Hoje alguém assumiu um disparate de todo o tamanho de há uns meses. Mais vale tarde que nunca. Não apaga o desconforto que me provocou, mas deixa-me mais leve. 

consequências

(lago Maggiore, como quase sempre)

Tenho lido relatos e desabafos de mulheres que têm dificuldade em engravidar ou que já sofreram vários abortos. Grande parte delas refere-se à dificuldade que têm em contactar com grávidas, em acompanhar as gravidezes de amigas e colegas de trabalho. Relatam também, com tristeza, a inveja que sentem das grávidas com que se cruzam na rua, das que lhes são mais próximas e especialmente de quem engravida com a mesma facilidade com que respira.

Há poucos dias uma amiga contou-me que estava grávida. Senti-me genuinamente feliz por ela. Uns minutos depois dei comigo a pensar quanto tempo mais manteria esta minha neutralidade. Quanto tempo mais irá passar até eu sentir uma pontada de inveja antes de me sentir feliz pela felicidade de quem me é próximo? Tenho mais receio de me tornar uma pessoa amarga do que de não ter um filho.

talvez não seja tão cinzenta como pensava!

Os meus colegas de trabalho a olharem com ar de espanto para os meus pés. Quero lá saber!

7.4.14

cinzento por dentro, explosão de cor cá fora

(do passeio junto ao lago, desta vez sem se ver o lago)

Não sou muito colorida na forma de me vestir. De vez em quando lá cometo uma extravagância, mas não uso frequentemente cores apelativas e muito menos padrões chamativos, e muito menos misturo as duas coisas. Tenho para mim que é um mecanismo inconsciente de lidar com o cinzento de alguns dias mais recentes, mas ultimamente dei comigo a usar peças coloridas. Ainda que a cor esteja escondida na lingerie, ela está lá. É como se apenas eu precisasse de saber que a explosão de cor está ali, e não os outros. É apenas para mim, e para mais ninguém. Eu é que preciso de ter dias coloridos! Mas toda a regra tem uma excepção. Ainda agora não consigo explicar nem como nem porquê, mas vi estas sapatilhas e foi amor à primeira vista. E, nem me reconheço a dizer isto, mas quero um dos casacos da mesma colecção. Os italianos são, de uma forma geral, bastante vistosos a vestir. Estarei a italianizar?

italiano

(da caminhada de ontem, com 27ºC e sabor a Verão)

Frequentemente acho que não aprendi grande coisa de italiano desde que aqui cheguei, mas a verdade é que aos poucos me vou apercebendo que antes não sabia como dizer isto e aquilo e agora sei, e há pequenas frases que me vão saindo com naturalidade. Aquela ideia de que para um português o italiano é básico não é totalmente verdade. Sim, confirmo que para quem vem a Itália de férias é fácil safar-se, ir a um restaurante e comprar bilhetes não exige propriamente grandes conhecimentos. Também confirmo que para um português é fácil ler e perceber italiano. Mas já não me é tão simples falar, manter um diálogo em italiano. E escrever? Os outros portugueses não sei, mas eu demoro imenso tempo quando tento escrever meia dúzia de frases gramaticalmente correctas. Também é verdade que trabalhar num contexto internacional em que todos interagimos em inglês não me ajuda muito a aprender italiano. Sim, se quiser consigo fazer-me entender, mas 10 meses depois exijo um pouco mais de mim. 

Soube hoje que desta vez o exame oral de italiano implica fazer uma apresentação oral durante 15 minutos. O tema é à escolha do freguês. Desconfio que vou fazer um relato de uma viagem e fica o assunto arrumado. Nada como falar de algo que muito me agrada para tornar a tarefa mais aliciante

do fim-de-semana


Lake Maggiore We

4.4.14

agarrar o touro pelos cornos

(a minha casa italiana)

A Primavera já está por aqui há algumas semanas, embora de vez em quando o céu volte aos tons de Outono. Finalmente o frio parece ter desaparecido de vez. A casa está rodeada de flores, mas as que mas me enchem as medidas são as magnólias. Acordar, abrir as portadas e ver aquela árvore imensa cheia de flores anima as minhas manhãs, mesmo nos dias menos sorridentes.

Continuo a processar tudo o que aconteceu e está a acontecer. Ainda tenho dificuldade em escrever sobre os últimos acontecimentos, não porque me aumente a dor, mas porque a amálgama de emoções e pensamentos é enorme. Durante alguns dias pensei também se seria assunto a abordar no blog de forma frequente. Depois pensei "Por que não?". E as únicas razões que encontrei para me calar sobre a maternidade, a gravidez e os abortos estavam relacionadas com os outros, este é um assunto que não interessa a grande parte de quem me lê. Mas a verdade é que este blog (como os outros que tive antes) é um pouco de mim, apenas isso, sem pretensões a nada. E o meu eu agora inclui a maternidade, a gravidez e o aborto, como antes incluiu paixões, amores, desamores e questões profissionais. Os blogues que fui tendo, a dada altura, foram uma espécie de sofá de psiquiatra nuns dias e sacos de boxe noutros. Cumpriram sempre a sua função, não resolvendo-me os problemas, mas permitindo-me escrever e reflectir sobre eles, ajudando-me a organizar ideias e tornando os problemas mais leves. Desconfio que é disto que vou precisar nos próximos tempos, de modo que não vou excluir esta faceta da minha vida no blog. Com bastante pena minha, um destes dias cruzei-me com a infertilidade (nunca até ao segundo aborto tinha pensado em como é possível ser infértil, apesar de conseguir engravidar) e, para já, ela continua por cá, no blog e na vida. Só há uma coisa a fazer: enfrentá-la.

2.4.14

quando me apetece gritar escrevo, sempre foi assim, e assim continua

Quando abortei a primeira vez achava que era um caso quase único. Sabia de uma situação ou outra semelhante, mas não mais que isso. Depois fui contando o que se tinha passado comigo e penso que não houve ninguém que não me tivesse dito que conhecia alguém que tinha passado pelo mesmo ou que tivesse vivido uma situação semelhante na primeira pessoa. Fui obrigada a concluir que a situação era comum, o que era incomum era falar-se sobre isso. Achei que se falava pouco sobre o aborto espontâneo porque quem vivia esta experiência preferia não a partilhar. Entretanto vivi um segundo aborto e começo a mudar de opinião. Desconfio que quase não se fala sobre o aborto não porque quem por ele passa não quer falar, mas porque os outros não querem ouvir. É algo que nada lhes diz, que é distante e, especialmente, é desagradável. Para além disso, quando o aborto é numa fase inicial, naquela fase em que os outros não vêem a gravidez, para esses outros a gravidez nunca existiu, pelo que, por muito próximos que sejam da mulher que abortou, nunca viram nem sentiram quem ela perdeu. Esta falta de compreensão e sensibilidade leva-os a não saber o que dizer e, sentindo-se na obrigação de dizer algo que não o mais honesto "não sei o que te diga", saem preciosidades com sabor a disparate aos ouvidos de quem abortou. Eu sei que não é dito por mal, mas não, eu não quero ouvir:

- de certeza que da próxima vez vai correr bem! (já vos provei que não é bem assim)

- a Maria Albertina, prima da Genoveva, amiga da Felisberta, abortou 197 vezes e à 198ª vez foi bem sucedida! (ah, pronto, já só me falta passar por 196 abortos, fico muito mais descansada)

- agora é tornar a treinar muito!, dito com um sorriso maroto no rosto (ainda bem que alguém me recorda do "como", das vezes anteriores foi por geração espontânea)

- tens que ter calma, a ansiedade não faz nada bem (da primeira vez nem sabia que estava grávida, de modo que esta é capaz de não encaixar muito bem no meu caso)

- antes agora que mais tarde (pronto, depois desta frase de sabedoria profunda sinto-me muito melhor)

- a minha prima Anastácia abortou dezenas de vezes, até que os médicos a aconselharam a desistir de tentar (haja quem nos anime!)

- podes sempre adoptar (o que eu gosto de pessoas com esperança!)

Aos ouvidos de quem abortou, estas frases só servem para minimizar a dor, é uma forma de dizer "esquece lá isso, já passou, bora lá voltar à vida normal". Lamento informar que ainda que continue de sorriso no rosto e de bem com a vida passei por dois abortos em pouco mais que meia dúzia de meses. Um aborto é muito mais do que a perda de uma criança, é a perda de um milhão de pequenas possibilidades. Isto é coisa para me fazer pensar em coisas em que nunca tinha pensado. E, garanto-vos, conheço-me muito bem e sei bem a capacidade de adaptação que tenho. Não sou de ficar a chorar pelos cantos, nem de ficar a lamentar o que passou. Mas, minha gente, eu não posso, nem quero, passar uma borracha em partes da minha vida, por muito difíceis que elas possam ser. Eu sou eu e as minhas circunstâncias, já Ortega y Gasset dizia.

Há dias dei comigo a recordar que pensei várias vezes ao longo da minha vida que poderia vir a ter dificuldade em engravidar (todas as mulheres pensam nisto, não?), mas nunca coloquei a hipótese de não conseguir levar uma gravidez até ao fim. 

só a mim

Fim-de-semana prolongado em Portugal. Aproveitei para fazer uma lista considerável de análises. Não contei, mas eram seguramente mais de 10 frasquitos cheios de sangue. Depois de me sentir sugada por um vampiro respirei fundo e pensei de mim para mim que agora havia que ser paciente e esperar um mês pelo resultado da análise mais demorada. Depois, com o resultado na mão, logo se verá se há ou não razão para os abortos repetidos.

Mas eu sou aquela pessoa a quem acontece tudo o que é improvável, recordam-se?

De modo que estou eu quase a chegar ao aeroporto quando me telefonam e pedem para voltar ao laboratório porque se esqueceram de tirar sangue para a tal análise mais demorada. Impossível voltar, o tempo não chega. Sendo assim, não só falta um mês para ter o resultado da análise como falta mais um mês, que é o tempo que vou demorar a tornar a ir a Portugal, altura em que finalmente me tirarão o sangue.

Eu não preciso de ir ao médico, preciso de ir à bruxa!