Tive consulta no dia 18 de Junho e foi aí que confirmei que o que andava a sentir eram contracções e a dilatação já ia nos 4 centímetros. O H. ia viajar na quinta seguinte e o regresso seria na sexta. Comentei o nosso calendário com a obstetra e para ela era claro que o João iria nascer durante a semana, muito provavelmente antes de sábado. Fiquei de ir ao hospital na terça, caso não houvesse novidades antes, e a médica veria a evolução da coisa. No sábado, muito provavelmente resultado de fazer a mala de maternidade (que ainda não estava feita!) e limpar a casa toda, tive contracções atrás de contracções (sem dor, mas a sensação era familiar e não havia margem para dúvida - eram mesmo contracções!). A dada altura achei que da noite de sábado para domingo não passaria. Mas passou. Domingo foi um dia sereno, sem contracções. Na segunda as contracções regressaram. Achei de novo que durante a noite poderia haver novidades, mas a verdade é que nada aconteceu.
Terça de manhã fui ter com a médica. Estava a torcer para que a dilatação não tivesse aumentado, mas a verdade é que já ia a meio do caminho: 5 centímetros de dilatação e eu feliz da vida e sem dores. A obstetra, que me acompanha desde o meu primeiro mês em Itália, que é o mesmo que dizer que me acompanha desde a primeira gravidez, teve receio por mim e decidiu fazer papel de mãe. Teve medo que o João decidisse querer nascer durante a noite quando o H. não estivesse e eu estivesse sozinha com o Miguel. Segundo ela, dado que seria o segundo parto e que já estava com 5 centímetros de dilatação, seria tudo muito rápido e desconfio que teve medo que eu não chegasse ao hospital a tempo. Foi pragmática e perguntou-nos se não preferíamos que o João nascesse antes do H. viajar. Acrescentou que ela ficaria mais descansada, que no hospital "tomariam conta de mim" e que assim poderíamos deixar o Miguel com os nossos amigos, sem pressas nem contratempos. Concordámos que era a opção mais racional. Mandou-me estar no hospital na quarta, dia 22 às 8 da manhã, caso não entrasse em trabalho de parto antes. Não havia motivos para induzir o parto, de modo que a obstetra me sugeriu uma forma alternativa de acelerar o parto. Mandou-me tomar óleo de rícino às 6 e depois às 7 da manhã de quarta.
Nunca tinha ouvido falar do óleo de rícino como indutor do parto, mas a verdade é que uma pesquisa breve não deixou margem para dúvidas. Na verdade, o óleo de rícino provoca contracções no intestino e, nesta situação, acaba por provocar também contracções uterinas. Se alguém me tivesse recomendado tomar óleo de rícino com este fim não iria na conversa. Tendo sido a minha obstetra, em quem confio plenamente, não duvidei nem da intenção nem da eficácia. Às 6 da manhã primeira colherada de óleo, às 7 mais uma e às 8 estava no hospital já com 6 centímetros de dilatação, sem dor e sem contracções.
Senti-me uma ave rara quando vinham ter comigo ao quarto e me perguntavam se sentia dor e eu respondia que não. Estive ligada ao CTG: algumas contracções ainda muito espaçadas e sem dor. Entretanto levaram o CTG e lá fiquei eu no quarto, sentadinha na cama, agarrada ao telemóvel para me entreter e ver se o tempo passava. Grande parte do tempo estive sozinha. O H. estava com o Miguel. O Miguel esteve no quarto connosco algumas vezes, mas quem segura um pequeno mafarrico de 18 meses num espaço tão pequeno sem destruir o que o rodeia? E também nos parecia que o João iria demorar bastante tempo a nascer, de modo que não havia necessidade de deixar o Miguel com ninguém tão cedo.
Ora bem, o H. saiu para almoçar com o Miguel quando faltava um quarto de hora para o meio-dia. Nessa altura já tinha algumas contracções com dor, mas achei que o caminho ainda seria longo. Entretanto ligaram-me de novo ao CTG. Estava sentadinha no cadeirão. Se no primeiro parto estar sentada parece ter acelerado a coisa, decidi repetir a posição.
Faltavam 2 ou 3 minutos para o meio-dia e meio e as contracções eram mais fortes e mais prolongadas. Eram muito diferentes das contracções que tinha sentido no parto do Miguel, que eram verdadeiramente dolorosas e faziam o CTG ir até aos 100%, mas ainda assim achei que se calhar tinha chegado o momento de fazer força e conhecer o rebento. Pedi à rapariga que estava comigo no quarto que tocasse a campainha para chamar uma enfermeira (eu ligada ao CTG não chegava à minha campainha!). Veio uma enfermeira, expliquei o que sentia com toda a calma do mundo. Esta enfermeira foi chamar uma outra que me disse "vamos para a sala de partos!, traga a roupa do bebé". Peguei no saquinho com a fatiota e enviei SMS telegráfica ao H: "sala partos!" Comi o "de" porque naquela altura percebi que o tempo escasseava verdadeiramente. Lá vou eu com a enfermeira, o saquinho da roupa e o telemóvel e a enfermeira pergunta-me: "Escadas ou elevador?" Respondi "elevador" enquanto me ria, porque acredito que se fosse pelas escadas o João não teria nascido no bloco de partos! Entrámos no bloco de partos e o João começou verdadeiramente a nascer quando ainda não tinha chegado à marquesa. Sentia a cabeça dele. Deitar-me na marquesa não foi tarefa fácil. Deitei-me e o João nasceu naquele momento. Eram 12:35. Não senti a sensação de explosão que senti no parto do Miguel. Não precisei que ninguém me dissesse para fazer força. Não pensei, como tinha acontecido da primeira vez, que tinha que fazer força de forma contínua porque havia muitas barreiras a transpor e que só assim o bebé nasceria. Desta vez foi completamente intuitivo: senti que o João ia nascer, fiz força durante 2 ou 3 segundos et voilà "habemus João!". Desta vez não houve episiotomia, nem houve tempo para nada. Entre enviar SMS a dizer que ia para a sala de partos e o João nascer passaram-se 4 minutos. Fiquei a perceber porque é que há grávidas que têm os bebés a caminho do hospital, é que não há como controlar mesmo!
O H. chegou poucos minutos depois do João nascer, ainda a tempo de lhe vestir a primeira fatiota.
Sobre as contracções, percebi finalmente porque é que me diziam que as contracções eram como dores de período mais fortes. O meu primeiro parto foi induzido com oxitocina e as contracções são completamente diferentes! Contracções com oxitocina são mesmo muito dolorosas, nada que se assemelhe a dores de período. Já no segundo parto foram muito mais brandas e, sim, confirmo que são como dores de período mas mais intensas (só na fase final é que não!, mas mesmo estas não têm comparação com as contracções que se têm com oxitocina).
Logo a seguir ao parto dei mama ao João ainda na sala de partos e uns minutitos depois descemos para o quarto, desta vez pelas escadas!
(Sim, mais uma vez foi um parto sem epidural. Em Itália a epidural não é administrada de forma comum, como em Portugal. Apesar de ter tido partos rápidos, claro que preferiria não ter sentido dor, o que podia muito bem ter acontecido já que tanto de uma vez como de outra cheguei ao hospital já com dilatação suficiente para me darem epidural.)