Muito trabalho, muitas reuniões (grande parte sem interesse nenhum), outras tantas chatices profissionais, aulas de italiano, prazos que se aproximam a olhos vistos, ou seja, o cenário ideal para não pensar muito na gravidez, para o bem e para o mal.
O médico português a que fui da última vez que estive em Portugal disse-me que assim que engravidasse de novo devia reduzir a actividade física e intelectual*. Eu tento, juro que tento, mas como é que se limita a actividade intelectual? Bom, eu bem que prometi a mim mesma pelo menos não me irritar e andar em paz com o mundo, mas parece que há criaturas que insistem em me testar os limites e eu, sendo calma, não sou amorfa, e há alturas em que não consigo ficar calada, ainda que sabendo que vou irritar os outros e me vou irritar também. Ontem a meio de uma reunião lá disse meia dúzia de verdades que mereciam ser ditas e ouvidas, mas senti claramente o nervosismo que aquela situação me provocou e só pensava "Não te podes irritar, não te podes irritar". Claro que quando se tem um pensamento destes já a tampa nos saltou há muito.
O que é mesmo relevante: amanhã tenho consulta e estou mortinha por ver no ecrã o que se passa cá por dentro, já que o que se vai sentindo é um misto de fome e enjoo permanentes que não consigo colocar por palavras. Quem se lembrou de chamar a isto "enjoos matinais" esqueceu-se do pequeno pormenor de que isto dura o dia todo, desde que acordo até que me deito. E, ainda assim, acredito que é um bom sinal. Estou-me a transformar num ser estranho, fico contente por ter enjoos! E ontem, a meio da reunião, juro-vos que tive pena de não ter vontade de vomitar ali mesmo, que seria uma belíssima forma de exprimir o que me ia na alma! E... continuo a achar que é desta, mais do que alguma vez achei na segunda gravidez.
De resto, faz por estes dias um ano que me mudei para Itália!
*É certo que também olhou para nós e exclamou "Vocês têm os dois bom aspecto, não têm problema nenhum!", que é sempre uma coisa simpática de se ouvir quando se passou por dois abortos seguidos e queremos encontrar uma razão médica para o sucedido, de modo que o que ele diz vale o que vale.
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