20.5.14

diferenças

Do meu ponto de vista a diferença entre engravidar depois de um  aborto (ou mais) e engravidar sem experiências anteriores menos felizes encontra-se claramente na limitação dos sonhos e dos planos. Na primeira gravidez eu imaginava a minha vida daí a nove meses. Agora o meu limite temporal encurtou e está carregado de "ses". Continuo a acreditar que desta vez é diferente, mas não posso nem quero esquecer as minhas experiências anteriores. Vivo esta gravidez, pelo menos para já, semana a semana.

Na primeira gravidez comprei dois livros sobre gravidez e maternidade. Quase não tive tempo para os ler. Quando as coisas correram mal acabaram numa prateleira, no meio de outros livros. Fiquei sem saber o que fazer com eles, naquela altura nem sequer colocava a hipótese de conseguir engravidar de novo. Ficaram ali, semi-escondidos, para não avivar memórias. Já eu tinha abortado quando chegaram dois babetes que tinha encomendado online. Já nem me lembrava deles. Perguntei ao H. o que fazer com eles: dá-los a uma amiga grávida? Sugeriu guardá-los para uma próxima vez. Não sei onde ele os guardou e desconfio que nesta altura já nem ele deve saber. Devem estar bem arrumados - escondidos - algures. Na segunda gravidez não olhei para os livros, não comprei nada e nem sequer me lembrei dos babetes. Não fizemos planos e é com dificuldade que me lembro da data prevista do parto.

Desta vez comprámos uma chupeta (com um bigode!), em jeito de quem quer mostrar que acredita, que desta é de vez. Ontem peguei num dos livros e folheei-o. Mas no nosso discurso há sempre duas hipóteses: se correr bem fazemos isto, se não correr bem fazemos aquilo. Antes das duas riscas cor-de-rosa estávamos a planear uma viagem fantástica, neste momento estamos em standby sem saber o que fazer. Se correr bem talvez não seja prudente ir para o outro lado do mundo, correndo o risco de precisar de assistência médica de um momento para o outro. Se correr mal podemos ir frente com o plano da road trip. Se correr bem dificilmente conseguiremos passar o Natal em Portugal, se correr mal a tradição mantém-se.

Não pensamos em roupinhas, carrinhos de bebé e decoração de quartos. Muito menos fazemos apostas sobre se é menino ou menina. Enquanto os casais "sem passado" se perdem também nestas questões, nós focamo-nos simplesmente no Será que é desta? Será que na próxima ecografia o coração vai continuar a bater? Será que na próxima ecografia vai ter o tamanho certo? Será?

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