Tenho pensado nos motivos que nos fazem querer ter filhos. Eu não queria, ou nem pensava nisso porque sabia que não podia. A partir do momento em que percebi que era possível, a vontade de ter filhos cresceu em mim e eu corri atrás dela, sem nunca a perder de vista. Porquê? No meu caso não é a concretização de um sonho de sempre. Não é uma forma de tentar ser feliz, porque feliz já eu era antes. Aliás, as tentativas para engravidar trouxeram-me momentos de muito pouca felicidade, que culminaram com momentos de felicidade maior, isso é certo, mas quando iniciei este caminho não sabia ao que ia. Também é verdade que ao longo destes meses daquilo que eu chamo de gravidez intermitente (grávida - não-grávida - grávida...), e especialmente nestes últimos meses, tenho vivido os momentos de felicidade mais genuína que já vivi até hoje, mas isso eu também não sabia quando decidi que queria ter um filho.
Vou ter um filho porque estava com a pessoa certa no momento certo, mas muito provavelmente se não tivesse havido uma gravidez casual inicial não estaríamos agora grávidos. A gravidez resulta dos sentimentos que nos unem, mas não são esses sentimentos a causa da nossa decisão de ter um filho.
O motivo parece-me egoísta, o que não soa bem, mas soa-me a realidade. Quis ter um filho porque senti que tinha o poder de criar um outro ser humano, embora este não seja um pensamento consciente. Venham-me cá falar de influência, força, dinheiro, que a mim só me ocorre que o poder maior é poder criar um outro ser. Bolas, pá, isto é uma capacidade incrível e ao alcance de quase todos (e lamento mesmo muito não poder eliminar o quase nesta frase). Não foi consciente, nem sei se a razão de querer ter um filho é mesmo esta, mas a partir do momento em que percebi que podia dar origem a um outro ser humano não descansei (está no singular, porque sou eu que escrevo, mas tenho a certeza que poderia estar no plural).
É uma vontade puramente egoísta. Eu não sou imortal, um dia destes desapareço, mas deixarei por cá um ser que saiu de dentro de mim e que tem muito de mim. Um filho traz-me a sensação de não finitude. Mais do que todos os artigos e capítulos que possa escrever, mais do que qualquer foto tirada por mim que circule pelo mundo inteiro, mais do que qualquer outro legado que eu possa deixar para assinalar que estive aqui, eu posso deixar um ser humano, criado por nós. É quase impossível resistir a esta possibilidade imensa que quase todos guardamos em nós. Eu não resisti.
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