Ainda antes de me mudar para Itália comentei com quem me é mais próximo que tinha dúvidas sobre se iria levar o meu contrato até ao final. Não por passar a viver em Itália, mas pelo trabalho que iria fazer. Apesar de ainda estar bastante às escuras e não saber o que me esperava, tinha noção que me iria deparar com muita burocracia e uma vertente mais política do que investigativa. Este não é para mim o contexto ideal, longe disso. Então por que foste em frente? Porque precisava de me desafiar, de mudar de ar, de mudar de pessoas, de conhecer outro contexto profissional (estava há mais de uma década no mesmo sítio). A vinda para Itália foi uma decisão importante, e apesar de óbvia (não tive dúvidas), não foi fácil. Deixei que a razão vencesse, mas o coração mandava-me para Timor. Se não tivesse vindo para Itália, trabalhar em algo que nada me diz, continuaria a trabalhar no mesmo sítio, mas num projecto novo, criado por mim, que me levaria a Timor de vez em quando, durante dois anos. Caiu-me tudo nas mãos ao mesmo tempo. No dia em que vim à entrevista no sítio onde agora trabalho, soube que o meu projecto sobre Timor tinha sido aprovado. Rebentei de felicidade e lamentei virar costas ao sonho. Mas há alturas em que há que virar costas a tudo e todos. Não tivesse tomado esta decisão e hoje não estaríamos aqui juntos, a três.
Não me arrependo.
Mas não é isto que quero. A intuição disse-mo antes de eu me mudar, e o conhecimento de causa confirma-o. Investigação a sério não se faz das 9 às 17. Investigação também se faz noite dentro, e em fins-de-semana sem vida para além do computador e da papelada. Investigação a sério faz-se de forma fluida, não tendo que pedir três mil autorizaçãoes de cada vez que tenho de dar um passo. Investigação a sério faz-se com paixão e não porque não sei quem me pede um relatório sobre uma coisa sobre a qual não consigo encontrar o menor interesse. Investigação a sério faz-se com colegas em quem confiamos, não com chefes que se aproveitam da sua posição, nem com colegas que nos tentam passar a perna, se isso os fizer subir mais um degrau. E, para além disso, quero que o que faço tenha impacto, e não sejam apenas relatórios cheios de blá blá blá que vão parar a mãos e às gavetas de políticos sem o menor interesse genuíno no assunto em questão. Já tenho mais umas linhas de peso no CV, aqui não ganharei mais nada.
E, sendo assim, parece que daqui a uns tempos será altura de me mudar (nos mudarmos). Para onde? Não faço ideia. Para longe daqui, com toda a certeza.
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