6.9.14

cá e lá

Dois dias depois de ter voltado levantei-me cedo, peguei na máquina fotográfica e caminhei serenamente pelos sítios que já foram os meus. Estes sítios continuam a ser os meus. Se voltasse agora recomeçaria a minha vida como se nunca de cá tivesse saído. É estranha esta sensação de não estar mas, ao mesmo tempo, de poder retomar os dias como se sempre cá tivesse estado. Vimos cá quase todos os meses, ultimamente mais do que isso, continuamos a ir aos sítios do costume (não sei sequer se os empregados dos "nossos" restaurantes já se aperceberam que agora não vivemos cá), e vamo-nos apercebendo dos novos sítios que nascem. Os vizinhos no prédio são os mesmos, a rapariga da pastelaria cumprimenta-nos como se nos visse todos os dias, continuo a ter o nome na porta do meu antigo gabinete.

À medida que o M vai crescendo dentro de mim a nossa vontade de regressar é maior, por nós, mas mais pelos nossos pais e pelo bebé. Sinto-me a privá-los de algo a que deveriam assistir em contínuo. Agora conseguimos vir a Portugal uma vez por mês, e depois do M nascer, conseguiremos fazer o mesmo? Ou será que a logística se complicará e a frequência das viagens terá de diminuir? Se estivéssemos cá os avós veriam o M todos os dias. Se estivéssemos cá o bebé M não teria de ir para a creche quando entrar no quarto mês de vida, em Itália não temos alternativa. Se estivéssemos cá o bebé teria o seu quarto com tudo a que tem direito, em Itália terá um quarto temporário, sem grandes mariquices porque sabemos que será o seu quarto por um curto período. Se estivéssemos cá o M conheceria desde o nascimento os filhos dos nossos amigos e teria contacto com muito mais pessoas. Se estivesse cá poderia gritar em português durante o parto.

Temos margem de manobra, os nossos contratos estão longe do fim, mas a ideia de regressar faz mais sentido a cada dia que passa.

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