Ainda estava em Hong Kong e já tinha a sensação que estava grávida. Era uma sensação apenas. Não a comentei com Ele, não o queria a pensar que eu estava louca ou obcecada. Mas a verdade é que alguns dias antes do (não) esperado período fiz o teste e vi as duas riscas cor-de-rosa. A segunda era muito clara, estava lá, via-se, mas era mesmo muito ténue. Fiz o teste de manhã muito cedo numa casa que já não é a nossa. Vi as duas riscas e sorri por poder confirmar a sensação que tivera ainda noutro continente. Ele ainda estava a dormir, mostrei-lhe o teste, comentei o resultado. A reacção foi quase nenhuma. Imagino que entre o sono, a falta de luz e a risca clara (que ele simplesmente não via) tenha achado que eu estava a alucinar. Uns minutos depois, mais desperto, olhou bem para o teste e ficou a olhar para mim com um ar que li como E agora? Tinha abortado poucas semanas antes e tenho a certeza que o que imaginou foi a repetição do mesmo cenário pela terceira vez.
Envolveu-se sempre, vibrou com cada vitória, com cada medida dentro dos padrões normais, com cada ecografia em que víamos o M. a crescer, chorou quando soubemos que não havia qualquer alteração cromossómica, e chorou quando soubemos que era um menino, mas noto que só muito recentemente tudo o que está a acontecer se tornou verdadeiramente real. Agora delicia-se com o ondular da minha barriga, está mais ansioso que eu por poder pegar no filho e garante que vai desmaiar quando cortar o cordão umbilical.
Não há volta a dar, o envolvimento dos pais e das mães é necessariamente diferente. As mulheres sentem a gravidez desde início no seu corpo, com o que isso tem de bom e menos bom. Os homens limitam-se a ouvir relatos das sensações e mesmo vendo o embrião nas ecografias ainda lhes custa a acreditar que é real e a envolverem-se a outro nível. As mulheres sentem desde início, os homens limitam-se a escutar e a observar. Mais lá para a frente sentem finalmente os movimentos e esse parece-me o primeiro momento em que têm um banho de realidade: há mesmo um ser a mover-se debaixo da pele por baixo da mão deles. Os sentimentos envolvidos são os mesmos nuns e noutros, mas os tempos são muito diferentes (o que nem sempre é fácil de digerir por quem vai lá mais à frente nesta caminhada).
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