16.1.13

já passou...

[Tive vários anos difíceis no trabalho. Chamar-lhes anos difíceis é um eufemismo. Vivi o que não desejo a ninguém (quase ninguém, que Madre Teresa só houve uma e há por aí duas ou três pessoas a quem eu desejo o inferno pelo qual passei). A dada altura, pesei prós e contras e concluí o que me pareceu óbvio: manter a minha sanidade mental devia ser a minha prioridade. Disse que não, bati o pé e bati com a porta. Ter dito que não a alguém que nunca deve ter ouvido um não na vida tornou-me um alvo a abater. Num momento de exaustão, desespero e injustiça, ter-lhe dito as verdades todas, uma por uma, também não jogou a meu favor (nunca me arrependi de o ter feito).

Se o que tinha vivido até ali era mau, o que se seguiu conseguiu ser bem pior. Alturas houve em que o meu lugar esteve em jogo. Houve ameaças, houve muito jogo sujo, houve muitas movimentações de bastidores (suponho que desconheça muitas delas). Fui em frente, tendo a certeza que não havia outro caminho a seguir. Descobri que era muito mais forte do que alguma vez tinha imaginado. Não vacilei, nunca me arrependi de nenhum dos passos que dei. Aprendi a pensar cada passo, cada palavra, cada acção. Aprendi a ser subtil e a entrar a matar nos momentos certos. Fui fiel aquilo em que acreditava (e acredito cada vez mais), bati de frente com quase tudo e todos. Foram poucos, mas houve momentos em que não consegui controlar as lágrimas. Chorei em frente a quem nunca pensei chorar. Fui mais forte do que algum dia poderia imaginar, mas a dor e o sofrimento estavam lá, escondidos por baixo da armadura que criei para me proteger. Mas houve momentos, situações, ocasiões em que a injustiça e a dor foram tão grandes que nem a armadura me valeu.

Dividi a energia entre trabalhar, trabalhar, trabalhar e assim assegurar o meu emprego, e pensar na melhor forma de agir contra todas as injustiças com que me fui deparando. Passei vários anos sem ter férias, passei verões a trabalhar no gabinete. Fui a mais produtiva, ganhei prémios internacionais. Eu, quase sozinha (tive um pilar inabalável de força que nunca duvidou de mim; nunca terei obrigados suficientes para lhe agradecer), contra tudo e todos. O que se passava era demasiado grave, demasiado rebuscado para que pudesse ser verdade aos olhos dos outros. Pequenos erros, pequenos movimentos mal pensados do outro lado, foram-me dando razão. Mas o outro lado era forte e poderoso, e ainda que eu pudesse ter razão, os outros consideravam mais seguro manter-se longe de mim. Recebi nãos que me desiludiram, que me magoaram, que nunca tinha pensado ouvir. Desisti de tentar fazer parcerias com quem não me ouvia, com quem não me queria ouvir, com quem não me dava o benefício da dúvida.

Mantive-me fiel às minhas convicções e fui em frente. Anos de um caminho quase solitário. Os outros na mesma posição que eu tinham apoio, tinham quem os levasse ao colo. Eu, além de não ter esse apoio, tinha quem me empurrasse para o fundo.

Hoje, vários anos depois, sou totalmente independente de quem me infernizou a vida e tenho o meu grupo de trabalho, criado por  mim e só por mim, à custa do meu trabalho, de anos sem férias, de noites muitas curtas. Hoje, vários anos depois, tenho quem me disse não quando precisava de um sim, a querer associar-se a mim. Não dei o braço a torcer quando sabia que o meu emprego estava em jogo, fui fiel aquilo em que acreditava; hoje mantenho-me igual, tendo a certeza que ser coerente e seguir as minhas convicções  foi o que me deu força para avançar e foi o que acabou por mostrar a realidade a quem a quis ver. 

Há poucos dias alguém me disse que era uma mulher admirável, que lutava de forma assertiva pelo que queria, que me admirava também pela minha independência. Sorri.]

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