31.8.14

socorro!

Uma das avós foi tomada por um espírito qualquer que a impede de parar de fazer compras para a criança. Juro-vos que nesta fase (e só estou agora a entrar no sexto mês) já podia abrir uma loja de artigos de bebé, tal é a quantidade de tralha acumulada lá em casa! E pior, não me parece que o espírito demoníaco a vá abandonar tão cedo. Não estou bem a ver como é que vamos transportar aquilo tudo para Itália e talvez tenhamos que mudar de apartamento de novo para termos onde guardar o stock da loja que ela deve estar a pensar abrir. Help, help!

melhor início de férias não podíamos ter

Continua a mexer-se imenso (na eco), embora eu só o sinta pontualmente. Está crescido: quase 600 gramas. Todas as medidas remetem mais para as 23 semanas do que para as 22. Há que lembrar que o pai nasceu com quase 5 quilos e eu também não era um bebé pequeno (medo do que me espera lá para o final do ano!). Respiramos de alívio e agora, finalmente, podemos aproveitar o bom tempo, a família e os amigos, e os dias no nosso habitat natural.

29.8.14

22 semanas

Um dia antes das 22 semanas, o bebé M decidiu que era altura de dar um ar de sua graça. A meio do jantar decidiu mostrar que se mexe freneticamente. Eu parei de mastigar e fiquei estática a confirmar que se estava a passar o que me parecia que se estava a passar. O pai ficou com um sorriso de orelha a orelha. Finalmente senti-o sem margem para dúvidas.

A barriga deu mais um saltito. Despida não engano ninguém, estou claramente grávida e não gorda! E começo a achar que mesmo vestida só os mais distraídos é que podem achar aquela acumulação de gordura normal. Parece que estou oficialmente grávida em todos os sentidos.

Amanhã, já em Portugal, haverá nova eco. Estamos a torcer para que não haja nenhuma novidade menos feliz e possamos entrar em modo férias da melhor maneira possível.

No local onde trabalho a mobilidade dos funcionários é enorme. Assim o habitual é o pessoal quando está de mudança colocar à venda o que já não lhes faz jeito ou o que não dá jeito levar para outro país. Ontem puseram à venda um carrinho de bebé fabuloso. Já fui esquisita com isto, mas hoje não me faz confusão nenhuma ter coisas em segunda mão, desde que em bom estado. Entrei em contacto com o vendedor, mas claro que mais uma vez tive uma pontaria desgraçada. Eu vou hoje embora e ele não tinha o carrinho aqui por perto para eu o poder ver e confirmar o estado em que está. Só o traz na próxima semana. De modo que uma amiga minha ficou encarregue da na próxima semana ir ver o carrinho e, caso esteja em bom estado, passamos a ter carrinho de bebé. Tudo a torcer, que o carro é giro e moderno como eu queria, e a um bom preço!

28.8.14

o bom filho à casa torna

As chaves apareceram! Yeah!

Eu sei que merecemos ser gozados: estiveram o tempo todo no bolso das calças delE. Sim, eu e ele mexemos e remexemos nas calças não sei quantas vezes. O bolso tem uma espécie de segundo compartimento, que nunca tínhamos reparado que existia, e ficaram lá encaixadinhas naquele espaço diminuto, a rir-se da nossa figura de desespero enquanto as procurávamos em todo o lado.

27.8.14

se calhar a luz da gravidez ainda não baixou sobre mim, mas...

... sou só eu acho que acho as barrigas de gesso uma coisa assim a puxar para o creepy?

procura-se bruxa!

A chave sumiu ontem à tarde, depois de termos estacionado o carro já dentro da área do prédio, termos dado meia dúzia de passos, subido as escadas e entrado em casa. Em casa o raio da chave não está, já viramos tudo do avesso e nada de chave. Lá fora também não a encontramos. Se a chave caiu, caiu dentro da área do prédio. Se algum dos vizinhos a encontrasse facilmente perceberia a que carro pertence e já a teria devolvido. 

Opção 1: deixamos a chave dentro da mala do carro e o carro trancou.

Antes de entrarmos em casa fizemos festas ao cão dos vizinhos, que é um bicho simpático e carente, que mal nos vê abana freneticamente a cauda, arrebita as orelhas e põe a língua de fora de satisfação.

Opção 2: o cão comeu a chave.

A chave suplente está em Aveiro. Ou melhor, espero que a chave suplente esteja em Aveiro, porque não faço a menor ideia onde raio a pus.

Portanto, estamos sem carro até sexta. Andamos à boleia no carro dos amigos e alguém terá que nos levar ao aeroporto.


Vejamos: 
1) temos o casamento marcado
2) eu sou brindada com uma gravidez de risco e a consequente baixa  
3) a data do casamento coincide com a baixa médica
4) o meu chefe não me permite casar porque se estou de baixa nada de devaneios
5) resolvemos a questão colocada pelo chefe
6) perdemos a chave do carro, deixamos de ter meio de transporte para nos rasparmos daqui para fora
7) se continuamos em Itália não há casamento em Portugal

Ou o universo me está a tentar dizer alguma coisa ou tenho de ir à bruxa.

começar bem o dia

Cadê as chaves do carro? 

26.8.14

o futuro

Ainda antes de me mudar para Itália comentei com quem me é mais próximo que tinha dúvidas sobre se iria levar o meu contrato até ao final. Não por passar a viver em Itália, mas pelo trabalho que iria fazer. Apesar de ainda estar bastante às escuras e não saber o que me esperava, tinha noção que me iria deparar com muita burocracia e uma vertente mais política do que investigativa. Este não é para mim o contexto ideal, longe disso. Então por que foste em frente? Porque precisava de me desafiar, de mudar de ar, de mudar de pessoas, de conhecer outro contexto profissional (estava há mais de uma década no mesmo sítio). A vinda para Itália foi uma decisão importante, e apesar de óbvia (não tive dúvidas), não foi fácil. Deixei que a razão vencesse, mas o coração mandava-me para Timor. Se não tivesse vindo para Itália, trabalhar em algo que nada me diz, continuaria a trabalhar no mesmo sítio, mas num projecto novo, criado por mim, que me levaria a Timor de vez em quando, durante dois anos. Caiu-me tudo nas mãos ao mesmo tempo. No dia em que vim à entrevista no sítio onde agora trabalho, soube que o meu projecto sobre Timor tinha sido aprovado. Rebentei de felicidade e lamentei virar costas ao sonho. Mas há alturas em que há que virar costas a tudo e todos. Não tivesse tomado esta decisão e hoje não estaríamos aqui juntos, a três.

Não me arrependo.

Mas não é isto que quero. A intuição disse-mo antes de eu me mudar, e o conhecimento de causa confirma-o. Investigação a sério não se faz das 9 às 17. Investigação também se faz noite dentro, e em fins-de-semana sem vida para além do computador e da papelada. Investigação a sério faz-se de forma fluida, não tendo que pedir três mil autorizaçãoes de cada vez que tenho de dar um passo. Investigação a sério faz-se com paixão e não porque não sei quem me pede um relatório sobre uma coisa sobre a qual não consigo encontrar o menor interesse. Investigação a sério faz-se com colegas em quem confiamos, não com chefes que se aproveitam da sua posição, nem com colegas que nos tentam passar a perna, se isso os fizer subir mais um degrau. E, para além disso, quero que o que faço tenha impacto, e não sejam apenas relatórios cheios de blá blá blá que vão parar a mãos e às gavetas de políticos sem o menor interesse genuíno no assunto em questão. Já tenho mais umas linhas de peso no CV, aqui não ganharei mais nada.

E, sendo assim, parece que daqui a uns tempos será altura de me mudar (nos mudarmos). Para onde? Não faço ideia. Para longe daqui, com toda a certeza.

a lentidão dos dias cinzentos

Ecografia no Sábado e o tempo que parece que não passa. Depois de ter refilado porque não consigo sentir o bebé a mexer, pareceu-me que nesse dia à noite ele me fez a vontade e eu senti algo fora do comum. Pensei "Ah, agora é que é! Começou!" Mas depois disso voltamos à ausência de movimentos. Resumindo e concluindo: estou na mesma. Acho que senti alguma coisa, mas como não se repetiu não sei se senti ou não. *

Os dias cinzentos deste Verão incomum também não ajudam a afastar as nuvens mais escuras que de vez em quando teimam em pousar em cima da minha cabeça. No ano passado devo ter tido o Verão mais quente de que tenho memória, se me esquecer do Verão fora de tempo timorense. Este ano não houve Verão. Houve muita chuva, muitos dias cinzentos e lá pelo meio um ou dois dias de calor e sol. O estio repõe-me a energia e a vontade, mesmo quando tudo o resto joga contra. Estamos no fim de Agosto e nada de sol nem calor. Não me dou bem com dias cinzentos de chão molhado.

Estou a poucos dias de sair daqui pelo período mais longo desde que me mudei para cá. Uns dias serão passados de papo para o ar ao sol (esperamos nós, esperemos que o tempo não decida ser irónico connosco), outros a circular por Portugal. Não eram estas férias sossegadas que tínhamos em mente, mas, dadas as minhas circunstâncias, achamos que uma vez na vida devíamos ser ponderados. Venham daí as férias de praia que nem eu nem ele apreciamos por aí além. Por outro lado, e agora que nos habituamos a passar quase todos os fins-de-semana italianos fora de casa, achamos que talvez não fosse má ideia passear por Portugal, algo que não fazemos há muito tempo. Temos ainda a vantagem de ter sempre um hospital por perto, caso seja necessária assistência médica.


* E porque a criança é bem capaz de ter um feitio tão arrevesado como o dos pais, parece-me que enquanto escrevia este post comecei a sentir uma leve e invulgar pressão no lado esquerdo da barriga. 


25.8.14

habemus casamento!

Yeah! 
Depois de toda esta confusão parece que a questão está resolvida. ElE estava confiante e sempre achou que tudo se resolveria, eu tinha os pés mais assentes no chão e considerava todas as possibilidades. Assunto resolvido depois de uma semana com os nervos em franja. Agora é só esperar até o chefe levantar um novo problema. O que eu gosto de trabalhar aqui.

22.8.14

não resisti ao morango!



(que não haja confusões, o morango é para o bebé, não para mim!)

a diferença entre esta vez e as outras

Já me perguntaram várias vezes se fiz (ou estou a fazer) alguma coisa de diferente nesta gravidez, algo que possa explicar o sucesso (pelo menos até já) desta vez. Apliquei progesterona a partir do momento em que percebi que estava grávida até às 13 semanas, mas já na segunda gravidez o tinha feito. A única diferença é mesmo estar a tomar cardioaspirina desde as 6 semanas. Normalmente as grávidas que têm algum tipo de trombofilia simples tomam cardioaspirina do início até ao final (ou quase) da gravidez. A cardioaspirina torna o sangue menos espesso. Não me foi detectado qualquer tipo de trombofilia, aparentemente não há nenhum problema com o meu sangue, mas como a cardioaspirina mal também não faz, a obstetra achou que seria uma boa opção. Parece ser um "tratamento" comum para quem já passou por vários abortos sem motivo aparente. Não sei se a cardioaspirina é a responsável pela minha gravidez actual ter chegado até aqui, ou se simplesmente tive mesmo muito azar nas duas primeiras vezes, mas, pelo sim pelo não, a minha cardioaspirina matinal já faz parte dos meus hábitos.

21 semanas!

Passamos o meio do caminho. Esta semana não houve sustos nem idas às urgências, nem aquela sensação de peso no fundo da barriga que já senti algumas vezes. Depois do pulo da barriga às 18 semanas parece que, por agora, estabilizou. Continuo a não parecer claramente grávida, mas pareço ter uma camada extra de gordura na barriga. Tenho cumprido as ordens da obstetra "O ideal é engordar um quilo por mês", mas tenho perfeita noção de que o desafio do peso se coloca daqui para a frente. Embora me pareça que o tecto está acima do desejável, tenho usado esta página para, em cada fase, ir vendo o que é mais ou menos normal. Obtemos um gráfico deste tipo, bem claro e elucidativo.


De vez em quando sinto uma movimentação adicional na barriga, mas continuo sem sentir movimentos nítidos que me indiquem que são mesmo fruto da actividade do bebé. Um dia destes lanço-lhe um ultimato. Mas que raio, já ultrapassamos o meio do caminho e o rapaz não se decide a fazer-se sentir de forma clara. Cá para mim vai ser desajeitado como os pais e nada de pontapés ao jeito de jogador de futebol. 

Os enjoos passaram antes das 12 semanas, a azia rondou-me apenas durante dois ou três dias, e já foi há umas boas semanas. Não sinto mais fome que o habitual, mas depois de cada refeição, mais ou menos leve, sinto-me muito cheia. Depois de nas primeiras semanas ter ficado com o paladar completamente alterado, tudo voltou ao normal já há algumas semanas. Voltei a conseguir beber água com gás, que adoro, mas que nas primeiras semanas de gravidez tinha um sabor ácido e intragável. Sinto falta dos chás que bebia de manhã à noite, mas depois de ter pesquisado percebi que os chás de que gosto não são indicados nesta fase. Vingo-me no próximo ano (ou quando deixar de amamentar). Não tenho desejos, mas felizmente o que me sabe melhor são comidas simples e saudáveis. Eu sei que é desinteressante, mas peixe cozido com brócolos sabe-me bem como nunca antes soube. E fruta, salivo por fruta. Não digo que enjoei, mas já quase não posso ver pizzas, massas e risotos à minha frente. A cozinha italiana, depois de mais de um ano por estes lados, tornou-se aborrecida e muito pouco diversificada. Há mais ou menos um mês apercebi-me que se estiver o dia toda sentada, no final do dia fico com pezinhos de Fiona, mas é coisa que, pelo menos para já, se resolve caminhando durante ou dia ou tendo os pés um pouco elevados (o que, estando em casa, não é difícil de fazer). 

21.8.14

o casamento (complicado!)

Quem me acompanha há bastante tempo sabe que eu atraio situações incomuns. Está-me nos genes ou coisa que o valha, não sei explicar, mas eu consigo complicar as situações mais normais. Ou melhor, não sou eu necessariamente que as complico, mas quando dou conta estou presa no meio de um novelo de lã sem saber muito bem como lá fui parar e muito menos como sair. Acho sempre que já me aconteceu de tudo, até que me deparo com uma nova situação invulgar (invulgar é eufemismo, como já vão perceber). E parece que o estado de graça me trouxe muitas novidades, mas livrar-me deste meu íman que atrai situações e gente que não interessam a ninguém não foi uma delas.

Ora, então, resumidamente é isto: Rosinha foi pedida em casamento há uns bons meses. Deixámos a coisa a marinar que, para dizer a verdade, nem eu nem elE somos muito dados ao matrimónio (isto só quer dizer que ter o papel assinado ou por assinar não muda absolutamente nada em termos dos sentimentos que nos unem). Entretanto ocorreu-me que giro giro seria casar em Las Vegas e, já que estávamos para aquele lado do mundo, juntava-se uma road trip na Califórnia ao pacote. Andávamos todos entusiasmados a tratar do roteiro, já havia capela escolhida e tudo, quando bebé M se juntou a nós. Dado o historial começámos a achar que talvez o casamento pela mão do Elvis não fosse a ideia mais brilhante, e que talvez fosse mais prudente fazermos a coisa de modo mais convencional e no nosso continente habitual. Tratámos dos trâmites legais e habemus casamento marcado. Só nós (descobrimos que não há necessidade de haver testemunhas), num dia de semana, sem pompa e com as nossas circunstâncias. Eis senão quando eu vou ao tapete e sou remetida para casa com um belo atestado médico. Estaria tudo muito bem se eu não estivesse em Itália, se o casamento não fosse em Portugal e se eu não tivesse um chefe filho da mãe que desde que eu não me mostrei receptiva às suas investidas de carácter sexual me faz a vida negra. Lá informei sua excelência sobre o casamento, porque sou obrigada a fazê-lo para ter direito à justa licença de casamento (e me permite poupar nas férias, que no próximo ano, já a três, me serão muito úteis). Mas por acaso o casamento está marcado para um dia antes do final da minha baixa médica. Pois que a criatura põe em causa o casamento porque eu estou de baixa, logo, segundo ele, não me posso deslocar para Portugal.

E é isto. Estamos a tentar resolver o imbróglio. Talvez nos casemos um dia destes, ou talvez não.

19.8.14

o lado B de Itália

Eu sei que todos já ouvimos vezes sem conta aquela conversa sobre só valorizarmos o nosso país depois de nos apanharmos lá fora. Estando ainda em Portugal e ouvindo este discurso até percebemos algumas coisas, mas ficamos sempre de pé atrás. Emigrante há um ano e pouco, devo assumir que já dei o braço a torcer várias vezes e a mais recente tem a ver com a licença de maternidade. Sem conhecermos a realidade italiana, assumimos que as condições para a mãe e o pai serão mais interessantes que as portuguesas. Vejamos então:
- em Itália a mãe tem direito a 2 meses de licença de maternidade antes do parto e três a seguir. Numa situação normal fará sentido ficar 2 meses antes em casa? Enfim. E perguntam vocês: então e não pode ficar os 5 meses depois do parto? Não! Na melhor das hipóteses poderá ficar apenas 1 mês antes em casa (o que implica que um médico ateste que a grávida pode continuar a trabalhar) e 4 depois, nunca 5 meses depois da criança nascer.
- em Itália o pai tem direito a 1 dia de licença de paternidade. Reparem nesta fartura: 1 dia! Mas sublinhe-se que, caso a mãe não use na totalidade a licença de maternidade, o pai tem direito a mais 2 dias de licença de paternidade. Claro que terá que fazer um pedido formal para poder usufruir destes 2 dias.

18.8.14

lá atrás

Há uns anos era próxima de uma pessoa de quem acabei por me afastar naturalmente. Os interesses divergem, as disponibilidades mudam e os caminhos seguem em separado. É um processo natural. Assim como é lógico que a partir do momento em que seguimos caminhos distintos as nossas vidas mudem e nós mudemos com elas.

Quase que deixámos de ter contacto há sete anos. Há dias reencontrámo-nos e falou-me em pessoas e situações dessa altura, como se eu tivesse ficado parada naquele ponto lá tão atrás. Fez-me confusão. Talvez o problema seja meu que às vezes me sinto muito mais velha do que o corpo indicia, de tantas vidas que já me parece que vivi. Há sete anos eu era outra pessoa. E, sim, vivi muito bem os meus anos até aqui. Fiz o que bem me apetecia, na maior parte das vezes sem pensar duas vezes e sem sentimentos de culpa. Não fui irresponsável, a questão é que não tinha de prestar contas a ninguém e não tinha que me preocupar com mais ninguém a não ser comigo. Viajei para onde bem quis, beijei quem me apeteceu, percorri meio mundo, apaixonei-me as vezes que calhou, corri muitos riscos pessoais e profissionais. Passei por situações que não lembram ao diabo e foram essas vivências que me transformaram na pessoa que sou hoje e de quem muito gosto. São todas as experiências que ficaram lá trás que me ajudam a lidar da melhor forma com as dificuldades e os obstáculos com que me deparo hoje.

Respeito as opções de vida de quem fez aquele comentário com um tom crítico, mas temos claramente formas de viver diferentes, e eu, naturalmente, aprecio muito a minha, agora e há 7 anos. 

(Timor-Leste, há 3 anos eu também era outra pessoa)

amor à primeira vista

Eu sei que acabarei por comprar um carrinho mais normal, mas quando os meus olhos se cruzaram com este foi amor à primeira vista. 


não são precisas mais palavras, pois não?

Podia dizer muito sobre as pessoas com quem trabalho, mas penso que esta situação me poupa a discursos e esclarecimentos longos.

Quando fiquei em casa, por ter uma gravidez de risco, informei por mail as três pessoas que deveria informar. Não sou obrigada a explicar o motivo da minha ausência, sou apenas obrigada a informar que tenho um atestado médico que justifica a minha ausência, e a entregá-lo directamente aos serviços médicos. Assim fiz. Os três sabem que estou grávida e os três sabem que existem duas gravidezes anteriores recentes. Até hoje não tive qualquer resposta a esse mail. Até hoje ninguém me perguntou se estou bem ou se o bebé está bem.

do que deveria ser sempre sinónimo de felicidade, mas nem sempre é

Até ter tido a primeira interrupção de gravidez o meu conhecimento sobre o aborto espontâneo era quase nulo. Sabia que acontecia de vez em quando, mas achava mesmo que este de vez em quando era muito pouco frequente. Depois esta realidade bateu-me à porta. Informei-me, procurei outros casos e procurei causas e percebi que era muito mais comum do que poderia imaginar. Descobri casos de pessoas próximas e li sobre outros, mundo fora. Na maior parte das situações os abortos aconteceram no 1º trimestre da gravidez, como me aconteceu também. Cruzei-me com fóruns cujos tópicos estavam divididos por trimestres, li alguns dos casos dos 2º e 3º trimestres, mas não quis aprofundar o conhecimento (e a dor) e centrei-me no meu problema. Até há poucas semanas não conhecia de viva voz ninguém que tivesse passado por uma interrupção da gravidez depois das 12 semanas. Agora conheço. Não sei dizer em que situações a dor é maior, cada uma de nós lida com a sua dor de forma diferente (conheço mulheres que ficaram desfeitas depois de uma perda às 8 semanas), mas ninguém deveria passar por um parto e sair da maternidade de mãos a abanar. 

Ontem disse para uma amiga "o quarto do bebé". Ela respondeu-me "Ainda não dizes que é o quarto do M..." Sai-me de vez em quando, outras vezes não. Ainda estou em processo de defesa e penso que só deixarei de estar depois de ver o bebé M com os meus próprios olhos e depois de o poder sentir quente com o meu corpo.



(da parte mais austríaca de Itália, este fim-de-semana - Bolzano)

14.8.14

20 semanas!

Meio caminhado percorrido, outra metade para percorrer.

Há já algumas semanas que sentia uma espécie de latejar na barriga e dava comigo a pensar "Será? Não será?" Agora a sensação é mais frequente e um pouco mais notória e, como foi coisa que nunca senti antes de estar grávida, suponho que seja o bebé a dar sinal. Mas, uma vez que tenho placenta anterior (isto é, está localizada entre a minha barriga e o bebé), é natural que sinta os movimentos do bebé de forma menos intensa.

Já estou de volta a Itália, mas daqui a pouco tempo regresso a Portugal (e não só) para uns dias de descanso a sério. A próxima ecografia será feita nessa altura. Se bem que tivemos direito a uma eco inesperada quando, mais uma vez no dia em que ia viajar, fui parar às urgências. Desta vez tive direito a cadeira de rodas e dei comigo a pensar "Mas desta vez que até estou serena, apesar do susto, é que tenho direito a este aparato todo?" Mais uma vez não se encontrou uma razão para a perda de sangue e tudo continua bem. 

Resolvi começar a dar uma vista de olhos em carrinhos de bebés e afins e devo dizer que é mais fácil comprar um carro para gente crescida do que um carrinho de bebé! Que confusão!

9.8.14

19 semanas

Apenas a uma semana de chegar a meio do caminho. Continuo incrédula por ter chegado até aqui. Quatro meses e meio para quem até este momento nunca tinha conseguido chegar ao final do segundo. Estou em casa, na minha casa a sério, a de sempre, a quem tem por perto os amigos e a família. Já abri as várias encomendas que chegaram entretanto e todas as roupinhas são mais bonitas do que nas fotos.  Estes últimos dias têm sido perfeitamente normais, sem surpresas daquelas que me levam às urgências em desespero. Desconfio que o trabalho me estava realmente a fazer mal. Os avós estão enternecidos e a transbordar felicidade. Já foram às gavetas que há décadas não eram abertas procurar o que restava dos nossos tempos de bebés. Apareceram mantas, cobertores, babetes e afins. Vai dar-me um gozo especial usar com o bebé M o que um dia foi usado em mim e nelE.

Ainda que o tempo cinzento não esteja a ser o nosso melhor amigo, estar em Aveiro repõe-nos as energias e os sorrisos. E, há que admitir, também nos deixa os estômagos mais confortados. Os pastéis de nata da Costa Nova podem não me manter na linha, mas fazem-me feliz. E finalmente tenho à mão de semear o peixe grelhado que pelos meus lados, em Itália, é impossível encontrar.

E ontem comprámos um ursinho na H&M:


6.8.14

a casa e as 18 semanas

Mudámos de apartamento no dia a seguir a ter chegado de Riga. Agora temos um quarto vazio à espera do bebé e, neste momento, já temos uma casa arrumada e funcional. Claro que nos primeiros dias numa casa nova nos sentimos sempre apaixonados pelo novo poiso, mas desta vez sinto que é para cá ficarmos enquanto estivermos por estes lados. Tenho espaço, tenho luz, tenho sossego. Imagino-me a viver em Aveiro, ou noutro sítio qualquer, neste apartamento. Não é uma casa com características locais (com excepção do tecto de madeira inclinado, que eu adoro), é uma casa normal em qualquer lugar no mundo.

Às 18 semanas a barriga decidiu que era altura de se tornar mais visível. Mas, para já, e para quem não sabe, estou só mais gordita numa zona muito específica. Mais umas semanas e terei mesmo uma barriga visivelmente de grávida! Assustam-me estas mudanças no corpo. Na verdade, lido com uma mistura de sentimentos. Por um lado, estar grávida (e apesar de ainda nem ter chegado a meio do caminho) é passar por uma experiência difícil de descrever. Saber que dentro do meu corpo habita um outro corpo completo e perfeito (espero eu) em pleno crescimento é efectivamente um milagre. Por outro lado, sinto que este é um processo violento em termos físicos. É um processo natural, o corpo está preparado para ele, mas ao mesmo tempo é-lhe exigido um esforço hercúleo. Há momentos, como no dia em que tive a hemorragia, em que tenho receio que o corpo não esteja à altura do que lhe é exigido. Daí não ter sequer resmungado quando me foi dada a possibilidade de ficar em casa nas próximas semanas.

5.8.14

faltam 5 meses

Faltam 5 meses. Por um lado faltam uns longos 5 meses, mas, por outro lado, acho que estes meses vão passar num abrir e fechar de olhos. Faltam 5 meses para termos a vida virada do avesso, no bom sentido, espera-se. Falta-nos praticamente tudo para receber o bebé com pompa e circunstância, mas nós já cá estamos cheios de vontade de o abraçar, de modo que nos parece que o essencial já cá está. Eu lá me vou aventurando no mundo das roupas e pequenos acessórios, mas as coisas maiores estamos intencionalmente a deixar lá mais para o final. Não falamos sobre isso porque nem precisamos, mas ambos pensamos que mais vale jogar pelo seguro. O passado não se apaga, não nos diminui a alegria presente, mas torna-nos mais prudentes.

Ontem comprámos o primeiro brinquedo. Na verdade, foi o segundo. O primeiro espera pelo bebé há mais de um ano. Já teve vários donos, mas ainda não conheceu nenhum. Acredito mesmo que desta vez já não mudará de dono.

4.8.14

as encomendas, o pirata e a zebra

As primeiras roupas encomendadas online já chegaram a Aveiro há uns bons dias, mas eu só as vou ver no final desta semana quando lá for passar mais um fim-de-semana prolongado. Os correios italianos são uma verdadeira desgraça, de modo que tudo o que compro online é enviado para Portugal. Pelo menos por agora, que lá vou uma vez por mês. A ver vamos o que acontece quando o bebé M nascer.

Em Itália nunca se sabe se as encomendas chegam e, caso cheguem, em que estado as encontramos. Há quase um ano encomendei uns livros e é certo que chegaram, mas no dia da entrega (por transportadora, nem as transportadoras se safam por estes lados!) estava a chover. O que fez o estafeta? Enviou-me uma SMS a dizer que a encomenda estava à porta de casa. Quando cheguei realmente vi o pacote à porta de casa (nenhum transeunte o tinha levado, estava mesmo ali à mão de semear), mas estava todo molhado (talvez por isso ninguém se tenha apropriado dele). Os meus livros ficaram com um aspecto ondulado do qual não se livraram até hoje. Depois disto jurei que enquanto tivesse outras hipóteses, correios italianos nunca mais! 

Entretanto tenho andado a explorar o mundo, até aqui desconhecido, das roupas de bebé e afins e admito que me começo a apaixonar e tem sido difícil resistir. Ainda não apareceram as colecções de Inverno e, por mim, já tinha enchido a casa de mini-fatiotas! Desgracei-me um bocadinho em Riga e entretanto comprei online estas leggings (na Peanut and Pope):



Tenho para mim que vou tirar muitas fotos ao rapaz e que daqui a uns anos farei chantagem com elas. Qual é o adolescente que quer que os amigos saibam que um dia ele já andou de leggings com uma zebra no rabo?


2.8.14

18 semanas

Às 18 semanas pesa 218 gramas e mexe-se imenso. Sabíamos que era um menino pelo teste Harmony feito há umas semanas, mas hoje vimos a prova da verdade. Todos os órgãos que era suposto verem-se nesta fase foram vistos. O coração continua a bater forte e depressa e todos os vasos sanguíneos que deviam ser identificados o foram. Respirei de alívio e estou a rebentar de felicidade!

As perdas de sangue (sim, no plural; durante a semana tive direito a mais uma visita às urgências) podem ser provocadas pela posição baixa da placenta e, para já, sendo esse o motivo, não há razão para alarme, mas há razão para repouso. A médica, que me acompanha desde o primeiro aborto e conhece bem o meu historial menos feliz, não quer arriscar e aconselhou-me a continuar em casa. Noutra fase não acataria bem esta decisão, sou workaholic há muito tempo, mas agora as prioridades viraram-se do avesso e quase que dei por mim a agradecer o poder ficar em casa e viver intensamente cada segundo desta fase que não sei se algum dia se repetirá.

Aumentei 3 quilos, o que é normal para esta fase, as análises estão perfeitas e sinto-me bem, hoje menos ansiosa que o habitual. A próxima eco será feita em terras lusas, durante as férias.

Já vos disse que estou muito feliz? :)