19.12.13

2013

(Burano, Dezembro 2013)

Fui-me mudando aos poucos, mais nuns anos do que noutros. Cheguei a 2013 e mudei tudo de uma só vez. Mudei de país. Deixei tudo para trás, bati com algumas portas e fechei outras suavemente. Virei costas e dei comigo a viver em Itália. Deixei uma porta entreaberta e tu aproveitaste, entraste, e vieste ter comigo uns meses depois. Em 2013 deixei de pensar e viver no singular e passei a referir-me a nós. Um nós que chegou mais tarde do que era suposto, depois de anos de silêncio e afastamento, mas que, surpreendentemente, chegou. Estas poderiam ter sido mudanças menores se a maior não tivesse tido um fim menos feliz.

Em 2013 estive grávida. Da gravidez que não chegou a bom porto ficou uma dor imensa, uma sensação de vazio difícil de colocar em meia dúzia de palavras. 2013 trouxe-me muitas lágrimas, trouxe-me momentos em que nem sequer me atrevi a chorar, porque as forças não podiam ser desperdiçadas dessa forma. 2013 mostrou-me que sozinha consigo sobreviver a muita coisa, confirmou que me sei concentrar nos meus objectivos, que consigo encontrar mais oportunidades do que aquelas a que consigo dar resposta. 

No final do ano veio o convite para regressar a Timor. Mais uma vez a possibilidade de regressar a um dos lugares onde fui mais feliz. Infelizmente não consigo conciliar as obrigações italianas com Timor. Fico triste de cada vez que penso que estarei aqui  todo o Inverno, no meio da neve e do frio, quando poderia estar a beber água de côco, na praia, junto ao mar, a ver o pôr-do-sol mais bonito de que tenho memória. Há alturas em que até eu sou racional, este é um desses casos, por muito que me custe.

Viajei muito, tirei muitas fotografias, fui muito feliz. Senti que era felicidade a mais para o meu tamanho.

Vivo num apartamento com uma vista invejável. No Verão acordava e ia para a varanda beber café, apanhar sol, ver o lago e as montanhas. Começar os dias assim fazia com que eles não pudessem ser maus dias. Mas aquele também é o apartamento onde chorei a minha maior perda, aquele também é o apartamento onde passei 4 noites sozinha, sabendo que o teu coração já não batia, apesar de ainda estares dentro de mim. Aquele é o apartamento onde cheguei depois de ter chorado enquanto andava de bicicleta sem querer saber o que os outros poderiam pensar. 2014 vai começar numa nova casa. Vou continuar junto ao lago, mas outro lago. Vamos deixar de viver num apartamento e vamos ter uma vivenda só nossa. Vamos ter uma praia privada, não vamos ter uma varanda como temos agora, mas vamos ter um terraço no meio das árvores. Não vamos ter duas plantas na janela, vamos ter muitas plantas à nossa volta. Vamos poder ter um cão. E, mais relevante que tudo o resto, vamos continuar a ter-nos. 

2013 foi O ano. Dissessem-me há um ano que agora estaria a viver em Itália, contigo, prestes a mudarmo-nos para uma vivenda de paredes brancas e com uma mansarda, com uma praia privada junto a um lago, e eu rir-me-ia e viraria costas. Há já muito tempo que acredito que a realidade supera a ficção, 2013 só o confirmou. 

Em 2014 vamos continuar a viajar. Já há várias viagens na calha e o regresso à Ásia está marcado.

2014 vai ser muito bom, não pode ser de outra forma.

16.10.13

cor em tempo frio

Depois de muitos dias de céu coberto de nuvens, e de outros com chuva, eis que chega um dia com sol. Estava um frio que me fez lembrar o frio de Inverno de Portugal, mas está sol, e isso basta para me alegrar os dias. Sabe-me bem o frio exagerado que me parece fora de tempo. Gosto de desfasamentos, de peças fora do sítio no puzzle. Deve ser por isso que me agradam as mudanças (de ser eu própria a peça estranha), de explorar o desconhecido, de comemorar o aniversário em países diferentes a cada ano que passa. 


orange & green window pots at window

7.10.13

calor no frio

Cheguei a meio de Maio. Estava frio e chovia muito e quase todos os dias. Um mês depois começaram os dias quentes e de sol, aos quais se seguiram semanas de calor abrasador. Quando voltei de férias os dias em que o sol magoa a pele tinham passado e, agora, há mais de uma semana que não se vê o sol e a chuva parece que veio para ficar. Aqui as transições entre estações não são suaves: é mesmo Outono. Os dias são cinzentos, molhados, frescos e mais curtos. A luz é pouca e diferente. Desde miúda que não vivia uma transição tão nítida entre o Verão e o Outono. Ontem, numa cidade próxima, mas mais fria, quase que senti o cheiro do Inverno misturado com o cheiro quente das castanhas assadas.


30.9.13

serenidade

De vez em quando batem-me à porta pessoas do passado. Pessoas que em dado momento acreditei poderem vir a fazer parte dos meus dias de forma permanente, ou que eu quis que fizessem e que acabaram por entrar e sair da minha vida em tempo record. Normalmente depois do adeus forçado ou de comum acordo não olho para trás e corto todo o contacto. Parece-lhes cruel, ou no mínimo estranho, mas é assim que sou. Não toco nas feridas (nem nas minhas nem nas dos outros) quando ainda estão em carne viva, nem que seja um toque suave que tem apenas como intenção atenuar a dor. Não quero qualquer contacto e fujo a qualquer tipo de aproximação. 

Reapareceste agora do nada, tanto tempo depois. Falei contigo normalmente e reconheci as conversas fluidas que tivemos e que a dado momento deixámos de ter. Queixaste-te das vezes que não quis falar contigo. Não me apeteceu explicar-te que naquela altura uma simples conversa contigo me fazia doer tudo cá dentro, me fazia recordar cada momento bom e me recordava do que nunca teríamos juntos. Agora, tanto tempo depois, tanta vida depois, voltei a ser capaz de falar contigo. Perguntei-te por ela, perguntaste-me por ele. Sem sabores amargos, nem dores, nem falsos discursos. Agora somos perdidamente felizes, cada um no seu mundo.

27.9.13

assédio no local de trabalho

Ganha outra dimensão quando nos bate à porta. Confirma-se que não fui feita para aturar gente sem escrúpulos e princípios, e subir na vida na posição horizontal não faz parte da minha forma de pensar nem de agir. E se fosses para o c#/%¿'(º¡$, hein?

Finalmente sexta. Esta foi a semana mais longa dos últimos tempos.

17.9.13

4 meses italianos


- durante algumas semanas tive dois corações a bater dentro de mim
- vivo numa casa com uma vista de sonho: adoro acordar e adormecer com o lago
- voltei a ter carro, mas continuo a vir de bicicleta para o trabalho
- continuo a não ter TV e não me faz falta
- nunca antes comi tanta pizza e tanta massa
- tenho aulas de italiano
- fui a Portugal três vezes
- aqui o Outono já chegou nas temperaturas matinais e de fim de tarde, e nas folhas acumuladas junto ao lago
- fui a Bruxelas, comi os melhores macarons de sempre e senti-me a fazer algo realmente importante
- fizemos uma road trip Portugal - Itália, cheguei morta de cansaço e a transbordar de felicidade
- comecei a aventura italiana sozinha, mas poucos meses depois passou a ser uma aventura a dois (quem diria, quando eu vim, que tão pouco tempo depois te juntarias a mim?)
- pela primeira vez tenho que cumprir um horário de trabalho
- estou fã do meu horário flexível
- fomos à Suíça num passeio de Domingo - ainda não me habituei a estar numa posição mais central e a não estar numa ponta da Europa
- tenho muito mais trabalho do que tinha antes: ao trabalho novo juntam-se muitas tarefas do antigo, que vou mantendo como posso, e enquanto for possível
- em breve vou voltar a Bruxelas e irei a Barcelona
- mantenho a minha paixão por Timor
- fazemos caminhadas ao final da tarde para explorar as redondezas
- temos várias viagens planeadas e a passagem de ano já está marcada

11.9.13

recomeçaram as aulas de italiano, aleluia!

Percebo praticamente tudo, construir frases é que não é muito comigo, pelo menos para já. Quero acreditar que em pouco tempo a coisa vai ao sítio. Pelo menos já perdi a vergonha de falar numa espécie de dialecto da selva ("mim Tarzan, tu Jane"). Uma pessoa tem que se desenrascar, quero lá saber se as frases estão correctas ou não!

4.9.13

a ver vamos

Sempre fui muito pragmática em questões importantes. Ora, se há muitos anos me havia sido dito que teria muitas dificuldades em engravidar, essa foi ideia que deixou de me atravessar o pensamento. Se com vinte e poucos anos seria difícil engravidar, não seria com mais quinze anos que criaria ilusões. Até que, estranhamente, engravidei. Tive uma série de sintomas que não deixavam margem para dúvidas, mas recordei-me do tom pesaroso com que o médico me comunicou há mais de uma década que ter filhos não seria nada fácil. Assim, e apesar dos sintomas, assumi que não poderia estar grávida, apesar de tudo e do teste de gravidez conclusivamente positivo. Achei realmente que estava doente. Fui à net, pesquisei o que poderia estar na origem da minha aparente gravidez e concluí que estava mesmo muito doente. Uma semana depois fui ao médico preparada para ouvir o pior, e saí do consultório com a imagem de uma ecografia com um embrião minúsculo. Não vou dizer que pulei de felicidade, porque não é verdade. Fiquei sem reacção, completamente incrédula. Eu grávida? Ele chorou de emoção, contou aos amigos todos, rebentou de felicidade e eu continuava sem acreditar que tinha ouvido um coração, que não o meu, a bater dentro de mim. Aos poucos a realidade foi-se apoderando de mim e idealizei os sete meses que teria pela frente e o que se seguiria. Ponderei questões práticas, que isto de se estar sozinha num país diferente há meia dúzia de dias e descobrir que se está grávida é coisa para nos fazer pensar muito. Fui muito feliz nestas semanas, semanas estas que foram curtas, com um desfecho muito afastado do esperado.

Ora, mas se aconteceu uma vez por acaso e sem nenhum tipo de plano nem cuidado, é bem possível que se repita. E já não estar sozinha em Itália é capaz de ser um ponto muito favorável na conjuntura. Ainda me soa estranho pensar e escrever isto, mas a verdade é neste momento tenho muita vontade de ser mãe. É isto. A ver vamos no que dá.

2.9.13

a dois

Setembro será lembrado como o mês em que deixámos de estar um cá e o outro lá. A partir de agora somos dois em Itália. 

Recebi a notícia da tua vinda no momento em que abri os olhos depois da anestesia, no dia em em que deixei oficialmente de estar grávida e em que engoli todas as lágrimas que quis chorar. Uma espécie de compensação que tornou esse meu dia menos agreste.

5.8.13

Ainda não sei bem como escrever sobre este assunto.

Achei que tinha vindo para Itália sozinha, mas enganei-me. Dentro de mim vinha um ser minúsculo que eu nem imaginava existir. Só quando os sintomas se tornaram impossíveis de ignorar coloquei a hipótese de estar grávida. Era uma hipótese muito remota dado o meu historial médico, mas não era totalmente impossível, como se veio a confirmar. Contra tudo o que os médicos me haviam dito, a ecografia mostrou-me um útero habitado. Só aí acreditei que era real. Antes, quando havia visto as duas riscas cor-de-rosa à minha frente, não consegui crer. Estes dias de felicidade imensa, expectativa e receio duraram poucas semanas. Bem sei que tudo nos parece mais injusto quando a dor bate à nossa porta, mas por que raio de razão me é dado a saber que afinal é possível, se logo a seguir essa alegria maior me foi retirada?

Chorei baba e ranho no dia em que a notícia que não queria ouvir se confirmou. Não tornei a chorar, nem no dia em que completamente sozinha fui ao hospital para que os vestígios da curta gravidez me fossem retirados. Sozinha, rodeada de grávidas e de recém-nascidos num sítio em que ninguém fala outra língua que não seja italiano. Estranhamente penso que estar sozinha tornou mais fácil a tarefa de ultrapassar este momento.

Dois meses em Itália, o que mais me espera?

25.7.13

lugar errado

small things that make me happy
Pouco mais de dois meses fora do país e hoje foi o dia em que mais senti que estava no sítio errado. Viver noutro país é, para mim, estar onde quero, mas também é estar longe da família, de parte dos amigos, dos nossos sítios, mas, mais que isso, é não estar em momentos únicos, com significado, que não se repetem. Hoje foi um desses dias. O que mais queria era poder acompanhar-te de manhã à noite num dia de nervosismo, ansiedade, alegria e êxtase. Acompanhei-te o mais que pude, mas à distância. Teremos outros momentos importantes no futuro e nesses, sabemos agora, estaremos juntos. Mas hoje não se repete e estivemos tu aí e eu aqui.

"sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam"

happiness
Timor não me larga, ou eu não largo Timor. Ou não nos largamos um ao outro. Não sei qual das três descreve melhor a situação actual. Hoje comecei o dia com uma longa conversa telefónica para o outro lado do mundo e aquele português com sotaque moreno e sabor de água de côco avivou mais as saudades e as memórias de pessoas de sorriso doce e do pôr-do-sol cor de fogo. Parece que foi ontem e, ao mesmo tempo, foi há tanto tempo já. Eu mudei, aconteceu-me tanta coisa, mas a mais relevante foi ter-te reencontrado, por acaso, e desta vez sabermos que é para sempre. Ainda não sei se voltar ao outro lado do mundo em breve é uma possibilidade, mas sei que a ser só faria sentido contigo ao meu lado a partilhar o azul límpido e deserto de Jako e a silhueta de Ataúro.

23.7.13

anoitecer | fechar os olhos | acordar

Nos últimos dias tem sido assim, tons de fogo antes da escuridão. Um mês depois de me ter mudado não me canso desta vista, dos diferentes brilhos e cores ao longo do dia, e de como estes vão também mudando à medida que o Verão avança. Ontem, depois destes tons delico-doces, chegou uma tempestade imensa: relâmpagos, trovões, vento e chuva. Abanou e lavou as montanhas por fora e arrastou das minhas entranhas os vestígios da tristeza dos últimos dias. Nada como recomeçar com ar fresco e o verde das folhas ainda húmido do temporal da noite, uma espécie de renascer silencioso depois de um vendaval furioso que se abateu sobre mim.
 

22.7.13

The lake through my eyes
Se há coisa de que não me posso queixar é de monotonia, para o bem e para o mal. O que há dias me fazia escrever posts a transbordar felicidade transformou-se numa dor imensa. Não é que me achasse frágil, mas descobri que sou muito mais forte do que poderia imaginar. Passei sozinha por algo que deixa de rastos quem está rodeado de gente. Chorei quando a notícia me atingiu como uma bala (descobri que é possível chorar em conjunto por Skype, partilhar uma dor profunda à distância e, no entanto, em pura sintonia), depois respirei fundo, ergui a cabeça e avancei. Não chorei mais. Estive sozinha num sítio completamente desconhecido, nas mãos de quem não me entende quando falo, rodeada de felicidade e sorrisos, mas no extremo oposto dos sentimentos. No mesmo dia, aliás, no  exacto momento em que fechava um ciclo e iniciava outro, recebi a notícia que mais me poderia fazer feliz depois dos últimos dias de tristeza profunda. Dois meses em Itália e já me aconteceu tanto, mas tanto. Continuo a ter dificuldade em encaixar tantas vivências e tantos sentimentos em tão poucos dias.

10.7.13

dias felizes

Eu achava que já tinha tido momentos de felicidade pura, até que dei comigo a viver uma fase que superou tudo o que tinha vivido ou até imaginado. Às vezes sou demasiado comedida nos sonhos, com receio de que nunca passem disso mesmo, sonhos, e que eu me magoe entre o que é e o que gostaria que fosse. Digo-vos, agora, sabendo do que falo, que é possível que a realidade supere o que algum dia desejámos e que demos connosco a rebentar de felicidade de um momento para o outro. Timor foi importante, foi marcante, constituiu um ponto de viragem. Creio que se não tivesse estado em Timor não teria ido ao Cambodja, e não me teria libertado das poucas amarras que ainda me prendiam ao cantinho em que vivia. Sem Timor, muito provavelmente, não estaria agora em Itália. E Itália, mesmo antes de cá chegar, trouxe-me tudo o que poderia querer e aquilo que nem sabia que queria. 

summer flowers

céus coloridos

O silêncio continua a imperar por estes lados. Confirmo que a felicidade é sinónimo de poucas palavras escritas. Deixo-vos então com as cores que os meus olhos encontraram quando este fim-de-semana voltaram a Portugal.

Umbrella roof Colorful sky wonderland?

18.6.13

notícias de Itália

Pouco mais de um mês por estes lados. Escrevo-vos do terraço do apartamento para onde me mudei há poucos dias. Vivo num condomínio de férias, mas estou cá permanentemente (por tempo definido), o que é uma situação algo peculiar. Vi fotos deste sítio ainda em Portugal e foi amor à primeira vista. Cheguei cá, vi ao vivo e a cores e confirmou-se a paixão. Mudei-me sem pensar duas vezes. O lago fica aqui em frente e tenho começado os meus dias a beber café enquanto contemplo o azul e ouço as pequenas ondas. Não fazia ideia que se podia ouvir um lago. Não há barulho de carros e enquanto vos escrevo ouço crianças a cantar e alguém a mergulhar no lago. Num mês mudou muita coisa. Continuo sem carro, que me há de vir fazer companhia daqui a mais uns tempos. Vou e venho para o trabalho de bicicleta, vou às compras de bicicleta. Tão diferente dos hábitos de Aveiro. Já fui a Portugal uma vez. Foi um fim-de-semana de correria, mas que me permitiu abraçar e sentir a pele de quem mais falta me faz. Se havia dúvidas a distância tirou-as: estamos aqui para o que der e vier. Já fui a jantares de portugueses e não me senti propriamente em casa. Ou ainda estou cá há pouco tempo, ou o meu lado anti-social não me permite aproximar-me de certas pessoas só porque, por mero acaso, viemos do mesmo sítio. Tenho aulas de italiano duas vezes por semana e tenho pena de não poderem ser mais. E, apesar de todas as mudanças, desconfio que há mudanças bem maiores na calha. Estamos em Junho, não é? O resto meio ano que falta promete.

Fiquem então com a vista (durante o dia) do sítio de onde vos escrevo agora.

29.5.13

23.5.13

vivo no campo!

the other side of the lake

ciao!

Pensava que vinha para a Primavera, mas afinal voltei ao Inverno. Acho que ontem não choveu, e foi o único dia em que tal aconteceu. Ter trazido praticamente só roupa fina e fresca tem apelado à minha criatividade, coloquemos as coisas nestes termos. Ah, e aquecimento em casa é coisa que já não há. Funciona de Outubro a Abril, independentemente da temperatura exterior. Claro que o meu primeiro pensamento foi comprar um aquecedor, o que seria praticável se eu não morasse no fim do mundo, local onde não há onde comprar um aquecedor, e se não tivesse tido a brilhante ideia de vir sem carro. Uma alma caridosa emprestou-me um aquecedor. E, tendo pena da pobre portuguesa que não sabia ao que vinha, ainda me deu uma varinha mágica!

Morro de saudades da minha colecção de canecas. Só tenho umas mini-chávenas sem jeito nenhum. Confesso que já dei comigo a beber directamente do fervedor. Confessem lá, há quanto tempo não ouviam a palavra fervedor? Ontem enquanto arrumava um tacho encontrei uma torradeira escondida no armário da cozinha. Não tenho cafeteira eléctrica, não tenho microondas, nem uma caneca tenho, mas tenho uma torradeira, o que daria um jeitão se houvesse onde comprar pão. Não há. Há pastelarias que vendem bolos e bolinhos, pão não vendem. Lá me vou contentando com o pão manhoso do Carrefour (sim, há um mini-Carrefour), mas tenho fé que um destes dias vou descobrir que há por aí uma padaria escondida algures. No primeiro dia, à noite, decido carregar o computador, e concluo que o raio da ficha não entra na tomada. Mas, pelo amor da santa, esta gente tem fichas com 3 pinos fininhos? (Freud é capaz de explicar: acabei de escrever esta frase e tive pensamentos pouco católicos.) Mas isto lembraria a quem?

No trabalho tudo corre bem, se me esquecer do raio do teclado espanhol que me arranjaram. Devem ter pensado "Vamos dar o teclado espanhol à portuguesa que isto é tudo a mesma coisa!". Um inferno, está tudo fora do sítio. Agora que me começo a habituar ao maldito teclado espanhol engano-me a escrever no teclado português do portátil. Não sei se pareço ter problemas de motricidade fina ou problemas cognitivos. Venho o diabo e escolha.

21.4.13

Ao mesmo tempo que me assusta, agrada-me meter a minha vida numa mala com vinte e poucos quilos.  É uma espécie de recomeço, deixar tudo para trás e levar comigo o essencial. Ir eu, só eu. Lançar-me ao desconhecido. Aprender uma língua nova, viver num sítio completamente diferente, deixar para trás um trabalho que já pouco me estimulava e abraçar um novo desafio, deixar as minhas pessoas para trás, ir sem conhecer nada nem ninguém. Sair da minha zona de conforto com a certeza de que existirão momentos em que me questionarei sobre a decisão que tomei, mas ter quase a certeza que esses serão uma pequena minoria entre tantos outros que acredito que me preencherão e me farão crescer. 

Quero mesmo isto. É exactamente aquilo de que preciso nesta fase.

Mas... há sempre um "mas", não há? Mas na altura em que tomei esta decisão, na altura em que concorri, no momento em que dei pulos de alegria por ter tido a desejada entrevista, no dia em que acordei com um mail que me dizia que o lugar que queria era meu e só meu, ainda não fazias parte de mim.
Como é que se concilia a vontade de embarcar nesta nova aventura e a vontade de não deixar de te ter por perto?

Ainda faltam umas semanas, mas é cada vez mais real. Respirei fundo e comecei hoje a fazer a lista do que me vai acompanhar até Itália.

Enquanto me encontro por cá vou fotografando os dias comuns.

18.4.13

lágrimas

Continuas a ser a parcela mais dolorosa desta equação. Sempre soube que ao embarcar nesta aventura teria de lidar com o afastamento da família, dos amigos, dos meus lugares e das minhas coisas. Por mais que isso me custasse, era algo com que contava à partida. Tu voltaste quando não era suposto e preencheste-me, assim como preencheste os meus dias. E agora não há como evitar pensar como será daqui a poucas semanas quando as minhas noites e os meus dias não te tiverem.

9.4.13

Contrato novo nas mãos e carta de rescisão em cima da secretária.
Vamos acreditar que há uma razão para tudo, e que as lágrimas que agora teimam em me turvar os olhos se vão transformar em sorrisos. Na verdade o sorriso continua cá, mas esta mistura de sentimentos, o querer tanto ir, mas querer também ficar, deixa-me os olhos tristes e a alma semi-desfeita. Ninguém disse que seria fácil, eu sei.

28.3.13

Quando soube da novidade fiquei radiante. Tinha conseguido o que queria. Aliás, tinha à minha frente tudo o que queria em termos profissionais. Depois da novidade lembrei-me de ti, e garanto-te que durante estes anos me lembrei de ti poucas vezes. Eras um assunto encerrado e nesses eu raramente toco, nem das gavetas da memória tenho o hábito de os tirar. Mas naquele dia lembrei-me de ti. Ia embora, e não queria ir embora zangada contigo. O que nos afastou já tinha acontecido há demasiado tempo para nos continuar a manter em silêncio. 

Do meu lado um sorriso, apenas isso. Sabia que não precisava de dar mais explicações. Entendeste-o muito bem e poucos minutos depois estávamos a falar como antes. Voltaram as palavras e voltou o resto, maior, com mais vontade, mais amplificado. E agora? Que faço comigo, contigo e com o que tenho cá dentro se os meus dias por aqui têm as semanas contadas? Pela primeira vez tenho tudo o que poderia querer, mas em países diferentes. Consegui esquecer-me disto por algumas semanas, mas agora que o tempo começa a ser tão curto tenho uma bola de neve feita de ansiedade dentro de mim. Tive esperança que a minha ida fosse adiada, que tivesse que ficar por cá mais algum tempo. Não vai acontecer. O dia que eu sabia que marcaria um reviravolta na minha vida mantém a data, mas a reviravolta vai ser bem maior do que tinha imaginado.

Os que não sabem de ti dizem-me que devo estar feliz, que tudo aconteceu na altura certa. Eu sorrio da melhor forma que sei e posso e confirmo. Engulo a tristeza, as lágrimas, a ansiedade, a incerteza e faço de conta que vivo um momento perfeito. Mas cá dentro mora um vulcão prestes a explodir. O que farei com as minhas mãos quando as tuas não estiverem por perto? O que farei quando precisar do teu abraço? O que farei quando todos os meus receios só dispersarem com os teus beijos?

10.3.13

Quando me perguntam se já tenho a mala pronta morro um bocadinho por dentro. Quero tanto ir e queria tanto não te deixar.

8.3.13

[Uns esperam ansiosamente pelo fim-de-semana, eu espero ansiosamente pelos teus braços.]

estou, só com um "f", mas mesmo muito afraid

are you a(f)fraid?

das voltas e reviravoltas que a minha vida deu em poucas semanas

Timor foi uma paixão que se transformou em amor. Desconfio que será daqueles amores que duram para sempre, mesmo que nunca mais nos encontrássemos. Ficaram as memórias dos momentos doces e dos mais arrebatados, ficaram as memórias do sítio onde me virei do avesso, e onde mudei de rumo a tantos níveis. Timor será sempre o sítio onde fui puramente eu, sem querer saber do que os outros poderiam pensar. Timor foi a temperatura que nos queima por fora e nos faz ter sentimentos que nos queimam por dentro, foram sentimentos tropicais regados por noites de luar molhado, foram sorrisos doces, foram gestos repentinos e genuínos, foi a praia paradísiaca e o mar que não refrescava, foi o medo e a serenidade, foram olhares de desejo e lágrimas de dor. Pouco tempo depois de ter regressado ardi de saudades. Depois aprendi a lidar com elas e fui moderada e paciente o suficiente para conseguir ter o regresso assegurado. Sorri, chorei de emoção pelo regresso ansiado e conseguido a pulso, fruto do meu trabalho e da minha vontade.

Tinha na mão o que mais queria, mas foi-me posta na outra mão uma proposta inesperada e não tive a menor dúvida na opção a tomar. Uma paixão não resistiria a este adiamento, mas um amor resiste. Timor, não te troquei, apenas de adiei.
Do lado de dentro da minha janela é verão. Do meu lado de dentro também.

7.3.13

[Os meus silêncios são feitos das palavras que te queria dizer e às quais ainda não consigo dar voz.]

6.3.13

Se não fosse complicada não era eu. Se não tivesse dúvidas dez minutos depois de ter tido todas as certezas do mundo não era eu. Eu já sou normalmente este poço de confusões e reviravoltas, o contexto actual  ainda me vira do avesso mais do que o habitual. Inspiro fundo, expiro pausadamente. Recupero a calma até me recordar que daqui a dois meses não sei como será nada. Tudo seria tão fácil se fosse como estava planeado. De certeza que neste momento estaria a pensar nas viagens de fim-de-semana, a recolher informação sobre as redondezas, a sonhar com o que me espera. Pelo contrário, não planeio nada, sugo o tutano dos dias presentes, e desespero quando sinto que estou a desperdiçar momentos que mais tarde me alimentariam as saudades. Quero ir, mas... Este "mas" chegou quando eu achava que o timing era perfeito. Não foi, nunca é. Alguns estranham a aparente serenidade e a falta de entusiasmo. Disfarço, escudando-me no muito trabalho do momento. Não posso contar que desta vez quero seguir os passos todos, fazer tudo no momento acertado, dar tempo ao tempo, saborear as pequenas coisas, mas que me falta o essencial. Este tempo que tomamos como garantido falta-me agora. E tu vais-me faltar depois, quando estiver onde quero estar...

1.3.13

Angkor Wat, Cambodja

Estou diferente, sou mais cautelosa, e não consigo aqui escrever sobre o que me apetecia. Mas digo-vos que ter visto o primeiro nascer do sol em Angkor Wat, no Cambodja, foi coisa para me trazer felicidade aos molhos, muito para além do que podia sequer imaginar. Como acho que já escrevi algures, há bem pouco tempo, acontece que termos à nossa frente, e ao mesmo tempo, tudo o que desejamos pode ser complicado e difícil de gerir. Especialmente se ambicionamos incompatibilidades, não por inconsciência, mas por acharmos que nem no maior momento de sorte nos seria dado tudo o que mais queríamos. Acontece que há momentos com os quais nem nos atrevemos a sonhar e que um dia se dão, uns mais por acaso, outros porque nos fartámos de correr atrás deles. Um dia abrimos os olhos, abrimos o coração, e damos connosco felizes, como já não achávamos possível. Ainda trememos de insegurança e arriscamos deitar tudo a perder, mas é aí que percebemos que agora tudo é diferente, e que os receios de outrora deixaram de fazer sentido. O único senão desta felicidade que poderia ser quase completa é que um dos sonhos (agora quase realidade) me afasta do outro. Mas, também contrariamente a quem já fui, vivo o tempo em que ambos são possíveis sem dissecar por aí além o futuro. O que tenho agora ninguém me tira, quanto ao resto... logo se vê.

30.1.13

29.1.13

em contagem decrescente

Tudo ao mesmo tempo, tudo. No mesmo dia duas ofertas aparentemente irrecusáveis. Fico feliz pelas escolhas que tenho tido que fazer, mas dói-me cá dentro ter tido que dizer não a algo que queria tanto. Na hora de escolher parece que afinal não queria assim tanto. Na verdade queria, mas a razão levou-me para outro lado, e desconfio que lá no fundo, pesando tudo, as emoções seguiram a razão. Uns dizem "ainda falta tanto!", outros lamentam o pouco tempo que ainda nos sobra. Tenho os dias contados, penso de mim para mim. Começou a contagem decrescente. Há que fechar este capítulo no tempo que me resta e preparar a escrita do novo dentro do mesmo tempo.

Hoje fugi a correr, se ali continuasse íamos começar os dois a chorar. Os olhos já estavam húmidos e raiados de vermelho. Esperam-se tempos difíceis que, na verdade, são também desejados. 

28.1.13

quase em modo silencioso

Tantas emoções cá dentro e outra tanta falta de palavras para as partilhar. E, sejamos honestos, falta de vontade também. Como se o abrir a boca, ou o coração, pudesse trazer azar e deitasse por terra o que tanto se ansiou. O ser cada vez mais racional que sou, de vez em quando, volta a ser a miúda que contava até ao sétimo carro e só se fosse vermelho é que o João gostava dela.

Mudei tanto nos últimos tempos que, por vezes, me admiro. Hoje, por acaso, contei a uma amiga que há poucas semanas tinha estado, praticamente um ano depois, no mesmo espaço que o filho da mãe que há um ano me tentou atingir sem olhar a meios. Ela, admirada, perguntou-me como tinha sido capaz. Não soube o que lhe responder. Achei, simplesmente, que não deveria deixar de fazer algo que me apetecia porque ele lá estava. Se ignorei as acções dele há um ano, muito mais fácil seria ignorá-las todo este tempo depois. Continuo a achar que ignorar  e manter um low profile são armas poderosas. E foi também nisso que mudei. Há uns anos era uma bomba sempre pronta a explodir e a atingir quem merecesse. Passou a fase de explosão e, agora, considero que atingir alguém com silêncio e elegância é bem mais profícuo. Também aprendi a perdoar, ou a deixar passar o tempo. Fiz o impensável: um dia destes cumprimentei alguém que ignorava há anos. Precisava já de forçar a memória para me lembrar do que  tinha provocado o afastamento. Não fazia sentido continuar a fazer de conta que não o via. 

E é isto, tenho os assuntos que estavam por resolver resolvidos. O que desconfio que se nota aos olhos alheios, ou é isso ou ando a transbordar de charme e sensualidade, mas isto seria tema para outro post, se eu não tivesse medo que desse azar.

24.1.13

nunca o "vemo-nos por aí" fez tanto sentido

2013, em menos de um mês tornaste-te num ano que desconfio que será decisivo. A resposta esperada chegou tal e qual foi desejada. A decisão está tomada, o que não significa que os olhos não se vão encher de lágrimas. Os poucos que já sabem estão felizes e tristes ao mesmo tempo e eu também. Não tomo esta decisão de ânimo leve, embora possa parecer. Seria muito mais fácil ficar quieta, à espera que dias melhores viessem ou que a sorte desse um ar da sua graça, mas eu nunca fui pessoa de esperar passivamente e prefiro confiar no meu trabalho do que na sorte. Começar do zero dá-me uma liberdade tal que ao mesmo tempo me assusta.

17.1.13

Nem de propósito, ontem, nem sei bem porquê, escrevi aquele post. Hoje, uma das pessoas que se associou a quem tão mal me tratou, bateu-me à porta e pediu-me apoio para algo que aqui não vem ao caso. Podia ter dito que sim e, na hora da verdade, de forma anónima, ter votado contra. Teria feito boa figura. Mas não fui capaz de o fazer. As experiências menos boas do passado mostraram-me o valor da coerência e de ter uma espinha dorsal, para o bem e para o mal. Disse que não e expliquei os meus motivos. Custou-me ter esta atitude, mas não poderia ter outra.

16.1.13

já passou...

[Tive vários anos difíceis no trabalho. Chamar-lhes anos difíceis é um eufemismo. Vivi o que não desejo a ninguém (quase ninguém, que Madre Teresa só houve uma e há por aí duas ou três pessoas a quem eu desejo o inferno pelo qual passei). A dada altura, pesei prós e contras e concluí o que me pareceu óbvio: manter a minha sanidade mental devia ser a minha prioridade. Disse que não, bati o pé e bati com a porta. Ter dito que não a alguém que nunca deve ter ouvido um não na vida tornou-me um alvo a abater. Num momento de exaustão, desespero e injustiça, ter-lhe dito as verdades todas, uma por uma, também não jogou a meu favor (nunca me arrependi de o ter feito).

Se o que tinha vivido até ali era mau, o que se seguiu conseguiu ser bem pior. Alturas houve em que o meu lugar esteve em jogo. Houve ameaças, houve muito jogo sujo, houve muitas movimentações de bastidores (suponho que desconheça muitas delas). Fui em frente, tendo a certeza que não havia outro caminho a seguir. Descobri que era muito mais forte do que alguma vez tinha imaginado. Não vacilei, nunca me arrependi de nenhum dos passos que dei. Aprendi a pensar cada passo, cada palavra, cada acção. Aprendi a ser subtil e a entrar a matar nos momentos certos. Fui fiel aquilo em que acreditava (e acredito cada vez mais), bati de frente com quase tudo e todos. Foram poucos, mas houve momentos em que não consegui controlar as lágrimas. Chorei em frente a quem nunca pensei chorar. Fui mais forte do que algum dia poderia imaginar, mas a dor e o sofrimento estavam lá, escondidos por baixo da armadura que criei para me proteger. Mas houve momentos, situações, ocasiões em que a injustiça e a dor foram tão grandes que nem a armadura me valeu.

Dividi a energia entre trabalhar, trabalhar, trabalhar e assim assegurar o meu emprego, e pensar na melhor forma de agir contra todas as injustiças com que me fui deparando. Passei vários anos sem ter férias, passei verões a trabalhar no gabinete. Fui a mais produtiva, ganhei prémios internacionais. Eu, quase sozinha (tive um pilar inabalável de força que nunca duvidou de mim; nunca terei obrigados suficientes para lhe agradecer), contra tudo e todos. O que se passava era demasiado grave, demasiado rebuscado para que pudesse ser verdade aos olhos dos outros. Pequenos erros, pequenos movimentos mal pensados do outro lado, foram-me dando razão. Mas o outro lado era forte e poderoso, e ainda que eu pudesse ter razão, os outros consideravam mais seguro manter-se longe de mim. Recebi nãos que me desiludiram, que me magoaram, que nunca tinha pensado ouvir. Desisti de tentar fazer parcerias com quem não me ouvia, com quem não me queria ouvir, com quem não me dava o benefício da dúvida.

Mantive-me fiel às minhas convicções e fui em frente. Anos de um caminho quase solitário. Os outros na mesma posição que eu tinham apoio, tinham quem os levasse ao colo. Eu, além de não ter esse apoio, tinha quem me empurrasse para o fundo.

Hoje, vários anos depois, sou totalmente independente de quem me infernizou a vida e tenho o meu grupo de trabalho, criado por  mim e só por mim, à custa do meu trabalho, de anos sem férias, de noites muitas curtas. Hoje, vários anos depois, tenho quem me disse não quando precisava de um sim, a querer associar-se a mim. Não dei o braço a torcer quando sabia que o meu emprego estava em jogo, fui fiel aquilo em que acreditava; hoje mantenho-me igual, tendo a certeza que ser coerente e seguir as minhas convicções  foi o que me deu força para avançar e foi o que acabou por mostrar a realidade a quem a quis ver. 

Há poucos dias alguém me disse que era uma mulher admirável, que lutava de forma assertiva pelo que queria, que me admirava também pela minha independência. Sorri.]

da Tailândia em tons laranja


15 dias em 2013

Uma semana depois voltei ao ritmo habitual, sem tarefas pendentes e esquecidas. Pus ordem nos sonos. A casa ainda está em desordem, mas antes ela que eu. A  meio do mês já recebi várias notícias boas e continuo à espera daquela. 2013, estou a gostar de ti.

O ano é novo, mas eu sou (mais ou menos) a mesma de há três semanas. De modo que mudou o último algarismo do calendário, mas os meus devaneios não se alteraram com as doze badaladas, que na verdade tiveram som de música de discoteca passada no meio de uma rua asiática invadida por uma multidão pacífica de locais e estrangeiros. Começo o ano a caminhar no arame, tendo perfeita noção de que voltar a terra firme ou pôr o pé em falso é uma decisão apenas minha. Para que lado me pende a vontade? Será necessário responder? Eu e a atracção pelo abismo continuamos grandes amigas. Mantenho-me fiel à minha máxima de sempre - manter-me fiel a mim própria - e isso basta-me.

fim de ano e início de outro: foi assim, no Cambodja

9.1.13

2013

O meu ano começou do outro lado do mundo entre tons de laranja, amarelo e rosa, entre olhares de espanto e magia, entre chá quente e temperaturas de verão, entre olhos de muitos formatos e peles de muitos tons. Foi o melhor início de ano que poderia ter. Que ano me espera não sei, que o ponto de partida dificilmente poderia ser melhor tenho a certeza. 

Depois de pouco mais de uma hora de sono comecei o ano a ver o nascer do sol num lugar de sonho que para mim foi realidade, e é assim que quero que continue a ser: transformar sonhos em realidade. Não esperar que os sonhos me batam à porta, mas continuar a lutar por eles, pelos mais acessíveis e pelos mais distantes. Se há um ano me imaginava a passar o ano no Cambodja? Nem pensar. Se há um ano imaginava que o meu dia 1 começaria com um nascer do sol de tons fortes do outro lado do mundo? De forma nenhuma. Se imaginava que o dia 1 terminaria com um pôr-do-sol visto do alto de um outro templo? Também não. E tanto, mas tanto, que não imaginava há um ano e hoje trago dentro de mim.

Que 2013 seja feito dos meus sonhos, da minha vontade de seguir em frente, de visitar novos lugares e de me reencontrar noutros locais que já foram sinónimos da minha felicidade. Que 2013 seja feito daquelas pessoas que me preenchem os dias comuns e daquelas que me encontraram naqueles dias que parecem não pertencer à minha realidade. Que 2013 continue a ser preenchido por sentimentos intensos, que haja paixão e desassossego, que haja muitos pores-do-sol e outros tantos nasceres.