28.6.15

ficar em casa até a mini-criatura ter 1 ano

Pesámos vantagens e desvantagens a vários níveis e chegámos à conclusão que me parece sabermos desde o início que seria esta: vou tentar ficar em casa com o mini-panda até ele ter 1 ano. Agora é preciso que a hierarquia concorde. Lado complicado da coisa: o chefe mudou desde que eu vim para casa, o que significa que o chefe actual não me conhece de lado nenhum, o que pode não jogar muito a meu favor quando esta "estranha" lhe disser que quer ficar em casa até final do ano.

Esta decisão tem a forma de um rombo orçamental considerável, mas tem um sabor doce, tão doce, que não é possível para nós tomar outra decisão nesta fase. Agora é torcer para que o mundo penda para o nosso lado.

26.6.15

8 anos

Acho que foi a primeira vez que não me lembrei do aniversário do doutoramento. Passaram 8 anos no final do mês passado e à hora a que defendi a tese devo ter estado a tentar adormecer a pequena criatura (é o que mais faço durante o dia, dadas as longas lutas contra o sono do pequenote). 8 anos, valha-me Deus! 8! Estava com a vida pessoal virada do avesso. Escuso-vos aos pormenores, mas que bastariam para uma pequena comédia romântica (sem final feliz), bastariam! Ainda hoje me rio quando me lembro que separei dois marmanjos que decidiram chegar a vias de facto supostamente por minha causa. Devia tê-los deixado digladiar-se e assistir da bancada. Enfim, aquela já não sou eu.

coisas boas cá do sítio

O sítio onde vivo tem muita coisa má (as transportadoras e as entregas estão no cimo da minha lista de desgraças locais), mas há que admitir que também há coisas bem boas. Não vou falar dos gelados, vou passar logo para o lado mais sério da coisa: a saúde. Tenho razão de queixa de muita coisa, mas a verdade é que a parte dos cuidados de saúde funciona. Bom, o que se paga paga-se e muito bem (análises que em Portugal faço por menos de 10 euros aqui custam quase 100), mas os profissionais de saúde são competentes e atenciosos (a parte da simpatia é coisa rara na zona de Itália onde vivo). Durante a gravidez tornei-me cliente habitual do hospital cá do sítio e fui sempre atendida de imediato, nada de filas de espera. E agora o pequeno urso tem direito a pediatra gratuito escolhido por nós, disponível todos os dias da semana (se for preciso telefono de manhã e pouco depois tenho consulta), com excepção do fim-de-semana. Para o médico de família nem precisamos marcar, é aparecer e esperar uns minutitos. E também não se paga. Vá, nem tudo é mau!

25.6.15

a parede

Antes, quando morava na minha casa (aonde agora vou de visita e vou sentindo cada vez menos minha) sentia falta de uma varanda. Na verdade essa minha casa tem uma varanda minúscula onde devo ter estado uma meia dúzia de vezes, porque é mais um devaneio de arquitecto do que uma verdadeira varanda. Agora, em Itália, tenho uma varanda a sério (tive uma em cada uma das quatro casas onde já vivi desde que mudei de país), e sinto falta de algo que tenho e não tenho (sim, sim, isto anda bonito!). Queria uma parede para poder furar à vontade e pôr fotos das viagens e do mini-urso. Sim, tenho aqui duas paredes a piscar-me o olho e tenho umas molduras que comprei antes do bebé nascer e outras que se mudaram cá para casa já depois do nascimento. Tenho tudo, até berbequim, mas estas paredes não são minhas. Daqui a uns meses arrumamos as tralhas, pegamos em nós e vamos sabe-se lá para onde. Não me apetece furar as paredes todas para daqui a pouco tempo termos o trabalhão de tapar os buracos todos, tentar deixar tudo bonitinho, não acertar com o tom de branco e deixar as paredes às bolinhas brancas amareladas. Ainda antes do pequenote nascer agarrei-me ao berbequim e foi um fartote de furos: o quarto do mini-urso está furado tipo passador e ainda tem um vinil gigante. Meti na cabeça que o miúdo havia de ter um quarto mais ou menos normal, ainda que numa casa temporária. Nessa altura parece-me que ainda não tinha bem noção que o tempo por estes lados tem os dias meses contados. Ou então nessa altura não tinha tanta vontade de sair daqui, também é possível que seja isso. De modo que tenho ali fotografias e molduras à espera de serem penduradas, mas falta-me uma parede mais permanente.

raro momento caseiro de silêncio

Um dia e um momento atípicos: oito da noite e reina silêncio em casa. Dormem os dois. Sobro eu de olhos abertos e olheiras ainda mais acentuadas que o normal: o pequenote na noite passada decidiu acordar já não sei quantas vezes (não é forma de dizer, é que me perdi mesmo nas contas na madrugada, tantas foram as vezes em que os meus pés saltaram da cama e tocaram o chão). Ser mãe tornou-me menos explosiva e mais ponderada, apesar do cansaço. Antes disparava a torto e a direito se algo não me agradava. Agora raramente me queixo e quando isso acontece não é sob a forma de uma explosão vulcânica, fico-me pelo arremesso de uma única farpa certeira. Comecei a engolir os momentos de fúria e explosão quando estava grávida. Não me apetecia que culpassem as hormonas quando os culpados eram outros. Depois do Miguel se juntar a nós essa forma mais recatada de reagir apoderou-se de mim de uma forma suave. Não me apetece gastar energia com o que não a merece, é a conclusão a que chego. Não é uma resolução intencional, nem um ponto de partida, é uma forma intuitiva de valorizar o que é relevante. Tenho os meus momentos de fúria interior, em que em silêncio grito tudo o que me mói a alma, mas até agora esses gritos nunca chegaram a ecoar realmente. Ainda estou em processo de mudança (nunca se deixa de estar, certo?) e a tentar perceber o que quero e o que não quero e como lidar com decisões futuras. Continuo a não querer estar onde estou e a sentir que neste momento não pertenço a lado nenhum (parece que dois anos depois sou mesmo emigrante), mas ainda não encontrei o meu poiso futuro e isso neste momento provoca-me alguma angústia.  

marido em estado comatoso

Diz a Guilhim, e muito bem, que as mulheres são um bicho do caraças. Concordo com todas as minhas forças e hoje com um sorriso no rosto. No quarto ali ao lado tenho um marido em estado comatoso. Estive uns dias sozinha com o rebento e superei bem a tarefa. Ainda assim fiquei feliz quando ontem o vi entrar em casa, por todos os motivos e também porque isso significava ter uns minutinhos só para mim. Qual quê! Entrou-me porta a dentro um marido enjoado. Está ali metido na cama com ar de quem tem só mais meia dúzia de segundos de vida, mas já estamos nisto desde manhã. Decidi que o nem o pai morre nem a gente almoça não é para mim e almocei mesmo. De vez em quando ouço uns gemidos de sofrimento e depois segue-se o silêncio. Para confirmar se ainda respira tenho entrado no chat do FB e verifico que ou está ligado ou esteve há poucos minutos. Desconfio que não será grave!

6 meses

O pequeno grande Miguel fez 6 meses. Já passou meio ano desde aquelas duas horas em que descobri o que eram contracções, e desde aqueles 15 minutos na marquesa a fazer força até que o rebento fosse lançado no seu novo mundo. Tão pouco tempo e tanto ao mesmo tempo. Desde que descobri que estava grávida que o tempo deixou de ter um valor absoluto, tudo é muito e pouco, dependendo da perspectiva. O bebé passou do ovo para a cadeira do carrinho, ultrapassou os 9 quilos e os 70 centímetros e tem 2 dentes a espreitar. Parece-me crescido e enorme, embora aos olhos dos outros seja apenas um pequeno bebé. Já se senta e já me permite ter vida. Já voltei a escrever (coisas de trabalho) e já me meti em mais isto e aquilo (também coisas de trabalho). Os dias não chegam, estico as noites até onde posso e consigo. Descobri que era isto que idealmente faria: trabalhar a tempo parcial e poder dedicar-me ao Miguel a tempo inteiro. Parece que o mundo não é perfeito e que não poderá ser assim por muito mais tempo. Ainda não consigo conceber a minha vida com um bebé e a trabalhar o dia todo fora de casa. Sei que sobreviverei (não sobrevivem todas?), mas ainda não sei o que me vai custar. 

9.6.15

2 semanas

2 semanas num sítio diferente. Voltamos a Itália e o pequeno panda come melhor, consegue estar mais tempo acordado sem ficar resmungão, faz sestas maiores (louve-se o criador!), consegue brincar sozinho por alguns instantes, já quase se senta e já dorme sozinho no quarto dele. Mais 2 ou 3 idas a Aveiro e temos aqui um adulto!

8.6.15

dos reajustes

Duas semanas em Aveiro. Estive na minha casa, senti-me em casa em alguns momentos, noutros nem por isso. Há alturas em que me sinto a viver num acampamento de ciganos, e isso faz-me ter vontade de voltar a Itália. Em Itália temos a casa preparada para viver com um bebé. Em Aveiro tenho a casa que deixei há dois anos quando, sozinha, me mudei. Rio-me sempre que vejo no cesto da roupa suja roupa que lá deixei nessa altura. Que desmazelo, pensarão vocês. Eu vejo aquela roupa e sorrio, e propositadamente lavo a roupa mais recente e aquela fica ali a marinar. Se me perguntarem por que razão o faço talvez não saiba responder, ou talvez seja uma forma (parva, eu sei) de manter viva por mais uns tempos a pessoa que era há dois anos. Gosto muito da minha nova vida e gostava muito da anterior. Sim, tenho saudades de sair de casa à hora que bem me apetecia e fazer o que bem queria. Nesta ida a Aveiro descobri que já é possível sair de casa à hora a que antes saía, de máquina fotográfica na carteira… e com um carrinho de bebé. Aos poucos junto o melhor da minha vida anterior com o melhor da minha vida actual. Aos poucos reencontro-me ou encontro-me de novo, de uma forma diferente, mas é um processo difícil e nada imediato. Actualmente há tantas decisões a tomar, tantos prós e contras a pesar. Às vezes sinto que me falta uma hora de silêncio, só comigo, para respirar fundo e encontrar o caminho acertado. Não vale a pena sonhar com o que não terei, tenho de me habituar ao novo ritmo dos dias e continuo a achar que isso é o que mais me está a custar. Aos poucos chego lá, espero eu!