25.8.15

tudo é relativo

Não me recordo do nome do blog, mas lembro-me de há um ano ou dois me ter cruzado com ele. Eram relatos de uma mulher que tentou engravidar durante 20 anos. A dada altura conseguiu, mas acabou por abortar. Não desistiu, continuou a fazer tratamentos e 20 anos depois conseguiu finalmente ter uma filha nos braços. Perante casos destes o meu terceiro aborto, depois de ter um filho saudável, é nada. Eu consigo engravidar, mas tenho dificuldade em que o embrião se continue a desenvolver para além das 7 semanas. Mas, de uma forma racional, tenho todos os meses uma nova janela de oportunidade. Não preciso de tratamentos e isso é uma vantagem sem tamanho. Mas tudo é relativo. Engravidar para mim não é necessariamente sinónimo de vir a ter um filho, enquanto que para muitas amigas e conhecidas ver as duas riscas no teste é garantia de que passados 9 meses a família cresce. Tenho amigas que planificam tudo de modo a que o rebento nasça no mês X ou Y. Eu dar-me-ia por contente por engravidar numa altura qualquer e saber que a gravidez não teria um fim antecipado. Tudo é relativo e há situações que dificilmente conseguiremos entender até termos de as viver.

23.8.15

a 3ª vez

Já ter um filho não atenua a dor, mas diminui a ansiedade. Depois do primeiro aborto achei que tinha tido azar. Depois do segundo achei que seria demasiado azar seguido e a ideia de que poderia haver algo de errado connosco ganhou força. Seguiu-se uma gravidez com alguns sustos, mas um final feliz. Acreditei que tinha tido muito azar nas duas primeiras vezes, mas que poderia não ter passado disso: azar. Ao terceiro aborto deixei de acreditar no factor azar (talvez tenha começado a pensar que tive muita sorte por hoje termos o Miguel connosco). A verdade é que estar próxima dos 40 não abona a favor da qualidade dos meus óvulos e talvez o meu historial não seja assim tão estranho. Mas é certo que há muitas mulheres da minha idade que engravidam sem problemas, assim como é verdade que há muitas mulheres mais novas que lidam com o mesmo tipo de problemas. Voltamos ao factor sorte/azar aos olhos do comum mortal, como eu.

A dada altura tive vontade de fazer de novo a análise à HCG (a ausência de sintomas andava a fazer-me espécie), depois pensei de novo e achei que estava a ser um pouco paranóica. O mais certo seria nessa altura os valores já não serem os mais normais para a fase em que estava. Na prática ter repetido essa análise e ter obtido um valor preocupante só me deixaria ansiosa sem poder fazer absolutamente nada. Conheço bem esta fase inicial da gravidez e sei que não há curas milagrosas, nem há como evitar um aborto que se adivinha. Por esse motivo não corri para o hospital quando percebi o que se poderia estar a passar. É também nesta forma de agir que me sinto menos ansiosa e muito mais ponderada. Há situações em que não adianta ser control freak, e esta é claramente uma delas.

22.8.15

3-1

Este é um jogo que já não posso empatar nem ganhar. O terceiro aborto bateu-me à porta na já muito minha conhecida sétima semana. Estas 7 semanas passaram mais depressa do que as 7 semanas das gravidezes anteriores. Desta vez tive um bebé de quase 8 meses a ocupar-me todos os minutos dos dias. A dada altura dei comigo a pensar "Oh diabo, estou na semana fatídica", mas o pensamento não foi muito além disso porque a falta de tempo não o permitiu. Até que se tornou impossível ignorar que estava na tal semana. 

Quatro gravidezes: um filho e três abortos.

Pela primeira vez dou comigo a pensar que não sei se quero continuar a tentar engravidar. Não sei se me apetece correr o risco de voltar a chegar à sétima semana e voltar ao ponto de partida. Não ponho a ideia totalmente de parte, mas não tenho a postura que tive nas perdas anteriores, em que sabia que assim que pudesse voltaria a tentar.

Não tinha pensado sequer como seria a reacção a uma perda depois de já ter um filho, mas teoricamente imaginei que deveria ser mais fácil. Não é. Não é uma dor maior nem menor, é uma dor diferente. É a dor de se saber exactamente o que se perde, de já ter imaginado isto e aquilo não a três, mas a quatro, e já com conhecimento de causa e experiência. É a dor de planos desfeitos, como foi de todas as vezes.

16.8.15

Maio 2013 | Hoje

Estávamos em Maio de 2013 e a última coisa em que pensava era em ser mãe. Pensava em viagens, pensava no emprego novo, pensava no que aconteceria connosco quando mudasse de país, pensava em como seria viver uma vida nova num país novo. Não poderia imaginar que a tal vida nova que me esperava incluiria mini-pessoas e desejos que não sabia existirem em mim. Em Maio de 2013 tinha chegado há poucos meses de uma viagem alucinante do outro lado do mundo, tinha passado o ano no calor do Cambodja e poucas horas depois passeava os braços destapados nos muitos graus negativos da China. Em Maio de 2013 já tinha decidido que o meu amor por Timor ficaria em standby e tinha a certeza que tinha tomado a decisão certa. Tinha razão, mas por motivos que não poderia imaginar.

Em Maio de 2013 era só eu, era uma pessoa no singular. Hoje somos três, com perspectivas de virmos a ser quatro. Hoje não há viagens loucas decididas em cima do joelho. Hoje há decisões muito pensadas a dois, mas pensando nos três (ou quatro). Hoje o meu sono é interrompido inúmeras vezes por noite e a cada manhã sou brindada com o sorriso mais bonito e sincero. Hoje sou muito diferente de quem era há dois anos e tal e sou feliz de uma forma muito diferente.

14.8.15

quase 7 semanas

Sintomas é coisa que não abunda por estes lados, a não ser o cansaço no degrau acima do habitual. De resto nada de nada. Não sei se está tudo bem ou tudo mal, porque consulta só daqui a pouco mais de uma semana. Os obstetras, não obstante a minha gravidez, decidiram ir de férias, que grande lata! Já me passou pela cabeça inventar uma desculpa qualquer e ir ao hospital só para ver se há embrião com batimento cardíaco. Poucos segundos depois a pessoa equilibrada que sou normalmente baixou sobre mim e mandou-me ter juízo e bom senso. Durante as gravidezes anteriores tornei-me cliente habitual das urgências do hospital cá do sítio e sempre fui atendida de forma célere. Isto também porque não havia lá grávidas com desculpas esfarrapadas para fazerem uma ecografia. De modo que se não há evidências para preocupação não vale a pena inventá-las. Esperarei mais uma semana para saber que novidades esconde o meu útero.

Deve ser dos meus olhos (aliás, espero que seja dos meus olhos!), mas acho-me mais pançuda!

7.8.15

os testes de gravidez

Dois anos e muitos poucos meses e vou na quarta gravidez. A gravidez actual tem um pouco da primeira: não surgiu tão inesperadamente como a primeira, mas foi uma grande surpresa. Só fiz um teste de gravidez, tal como na primeira, e já numa altura em que não havia grandes dúvidas.

Na segunda e terceira vezes fartei-me de fazer testes de gravidez. Acho que posso dizer que era aquilo que vejo frequentemente designado nos fóruns internacionais como POAS addicted (pee on a stick!). Da segunda vez aconteceu algo que me deixou alerta (e depois vim, infelizmente, a confirmar que com razão): depois de 4 ou 5 testes de gravidez, feitos diariamente, em que a linha ia ficando mais escura, a linha deixou de escurecer. Li muito sobre isto e tentei acreditar que os testes só nos dão uma indicação qualitativa (ou seja, ou há HCG no organismo e estamos grávidas - linha rosa, ou não há HCG, não estamos grávidas e não aparece linha nenhuma), como li em muitos sítios. Mas continuava a achar estranho que à medida que a concentração de HCG aumentava, a linha não ia ficando mais escura. Não precisei de muitos dias para perceber que a linha não ficava mais escura porque os meus valores de HCG tinham deixado de aumentar.

Ainda guardo o teste de gravidez que fiz na primeira gravidez (foi feito tão tarde que a linha de controlo é mais clara que a outra!) e todos os testes que fiz da gravidez do Miguel: uma sucessão de testes feitos todos os dias em que se vê claramente a linha rosa a escurecer. Não sei porque os guardo, mas sou incapaz de me separar deles. Ou melhor, talvez até saiba porque os guardo: o primeiro foi a descoberta não só da minha primeira gravidez, mas foi mais que isso, foi a descoberta de que eu conseguia engravidar, apesar de tudo indicar o contrário. Os testes que fiz na gravidez do Miguel lembram-me aquela fase de receio e incerteza, mas com um final feliz, e as histórias com final feliz merecem que todos os seus momentos e detalhes sejam guardados.

Desta vez fiz apenas um teste. Primeiro nem a linha de controlo aparecia, achei que o teste não estava em bom estado. Pus o teste no bolso da carteira e umas horas depois encontrei duas linhas feitas de esperança.

os 7 meses e algumas semanas do Miguel

Descobriu já em Portugal que gosta de comer. As primeiras vezes que comeu sopa e fruta correram bem (talvez pelo efeito novidade), mas depois tudo se complicou. Fazia cara feia, fechava a boca, cuspia e era muito difícil que comesse alguma sopa. Com a fruta foi tudo muito mais simples, mas a sopa foi um pequeno suplício. Durante as férias, num novo ambiente e rodeado de pessoas novas, ganhou o gosto a comer. Começou a comer muito mais (muitas vezes de forma sôfrega), seja sopa, fruta ou papa.

Continua a não gostar de estar de barriga para baixo, mas já vai ficando nesta posição alguns bocados sem reclamar. Para já gosta mesmo é de estar sentado. Senta-se na perfeição, abana-se, salta sentado e não cai. 

Noto que desde que viemos para Portugal está mais atento a tudo e todos, nada lhe escapa. Vira constantemente a cabeça para ver quem chega e quem está a falar. Começou a dizer "da da da" e tem 3 dentes já bem visíveis.

6.8.15

5 semanas e poucos dias

Esta deve ser a maior loucura da minha vida, e consigo contar várias de dimensão razoável! Continuo pouco consciente da nova realidade. Preciso de mais tempo para enraizar a novidade que, a correr bem, virará as nossas vidas de novo do avesso.

Porque na segunda gravidez tudo começou a correr mal logo de início, e tenho quase a certeza que se tivesse feito análises à HCG na altura teria percebido de imediato que o desfecho nunca poderia ser feliz, desta vez fui mesmo fazer esta análise por iniciativa própria. Valores de HCG medidos num dia e medidos de novo após 48 horas. Aparentemente tudo OK, os valores duplicaram como é normal nesta fase. As 7 semanas continuam a provocar-me algum receio, mas a verdade é que agora não me sobra tempo para nada, o que acredito que fará com que o tempo passe com muito mais ligeireza. Agora estou de férias, mas daqui a poucos dias voltarei a ser mãe a tempo inteiro do pequeno panda. Para além disso terei vários trabalhos exigentes para fazer em casa, quando ele me permitir, de modo que não há tempo para devaneios.

Se tudo correr bem tenho mil e uma coisas para re-equacionar, tenho que me re-formatar para uma realidade a quatro, tenho que ultrapassar receios e esclarecer dúvidas, mas ainda tenho muitos meses pela frente.

Esta é a maior loucura da minha vida, mas eu quero muito que se concretize.

2.8.15

as duas riscas... de novo!

Disse há uns tempos que gostava de engravidar de novo rapidamente. A verdade é que por diversos motivos esse desejo ficou esquecido. Convenci-me que o pequeno Miguel seria filho único como eu e o pai. Habituei-me à nossa realidade a três. Não foi imediato nem fácil, mas agora nós somos três e é nesse número que penso em todas as equações do nosso dia-a-dia. Andava tão embrenhada em trabalhos pontuais e nos preparativos para as férias que não me apercebi que algo andava sumido este mês. Até que um dia, em pleno sossego alentejano, nos poucos segundos que tive para mim, encostada no limite da piscina, se fez luz. Somei os dias, recordei ciclos anteriores. Este estava a ser demasiado longo, o que poderia não significar nada, já que depois da gravidez o meu corpo se transformou numa espécie de relógio ligeiramente avariado. Mas comecei a juntar a constipação sem motivo e as dores de cabeça vindas não se sabe de onde e não tive dúvidas. No dia seguinte fiz o teste e, sem surpresa, duas riscas bem visíveis a olharem para mim.

Estou grávida!

Não tomo o teste positivo como um sinal de uma gravidez de 40 semanas, porque o meu historial não mo permite. Tenho os pés assentes no chão, e estou preparada para todos os desfechos. Mas o mais relevante é que agora estou grávida. 

trabalhei fora de casa (2 dias, já é um ponto de partida!)

Em Portugal trabalhei dois dias inteiros fora de casa. Significa isto que trabalhei longe da pequena criatura que me preenche os dias. Ele ficou com o pai, e provavelmente foi isso que me sossegou e me fez estar aqueles dois dias efectivamente a trabalhar. Soube-me bem ser trabalhadora, para além de mãe. 7 meses depois a vida continua, em todas as suas dimensões.