28.5.14

yeah! 8 semanas!

Quero lá saber que hoje tenha tido teste de italiano e que tenha um trabalho importante para entregar. A notícia do dia é que às 8 semanas e 3 dias continuo a ter dois corações a bater dentro de mim! Parece uma goma com formato de ursinho. Tem esboços de braços e pernas que abanam quando lhe apetece e um coração a palpitar que se assemelha a um mini-candeeiro. Isto tudo em 2 centímetros de gente. É desta!

23.5.14

finalmente sexta


Um destes dias, no sítio onde moro.


Das duas vezes anteriores foi nesta semana que o sonho deixou de o ser. Os dias cheios de trabalhos, relatórios, aulas e testes de italiano ajudam a que os pensamentos não se centrem na gravidez, mas admito que quando me sobram uns minutos de sossego me pergunto Será que ainda está tudo bem?.  Os sintomas continuam por cá: enjoos, fome, muito sono, cansaço, insónias (eu com insónias? O mundo já esteve mais longe do seu fim), mas eu sei bem que isso não é garantia de nada. Tenho demasiados termos de comparação, é o que é! Esta semana foi particularmente longa, imagino que fruto do cansaço acumulado resultante das noites mal dormidas. O fim-de-semana vai ser de trabalho e estudo. Mas, na verdade, o que me apetecia era daqui a umas horas ir para casa, deitar-me ao sol na espreguiçadeira à beira-lago, adormecer e só tornar a acordar na quarta de manhã.

20.5.14

diferenças

Do meu ponto de vista a diferença entre engravidar depois de um  aborto (ou mais) e engravidar sem experiências anteriores menos felizes encontra-se claramente na limitação dos sonhos e dos planos. Na primeira gravidez eu imaginava a minha vida daí a nove meses. Agora o meu limite temporal encurtou e está carregado de "ses". Continuo a acreditar que desta vez é diferente, mas não posso nem quero esquecer as minhas experiências anteriores. Vivo esta gravidez, pelo menos para já, semana a semana.

Na primeira gravidez comprei dois livros sobre gravidez e maternidade. Quase não tive tempo para os ler. Quando as coisas correram mal acabaram numa prateleira, no meio de outros livros. Fiquei sem saber o que fazer com eles, naquela altura nem sequer colocava a hipótese de conseguir engravidar de novo. Ficaram ali, semi-escondidos, para não avivar memórias. Já eu tinha abortado quando chegaram dois babetes que tinha encomendado online. Já nem me lembrava deles. Perguntei ao H. o que fazer com eles: dá-los a uma amiga grávida? Sugeriu guardá-los para uma próxima vez. Não sei onde ele os guardou e desconfio que nesta altura já nem ele deve saber. Devem estar bem arrumados - escondidos - algures. Na segunda gravidez não olhei para os livros, não comprei nada e nem sequer me lembrei dos babetes. Não fizemos planos e é com dificuldade que me lembro da data prevista do parto.

Desta vez comprámos uma chupeta (com um bigode!), em jeito de quem quer mostrar que acredita, que desta é de vez. Ontem peguei num dos livros e folheei-o. Mas no nosso discurso há sempre duas hipóteses: se correr bem fazemos isto, se não correr bem fazemos aquilo. Antes das duas riscas cor-de-rosa estávamos a planear uma viagem fantástica, neste momento estamos em standby sem saber o que fazer. Se correr bem talvez não seja prudente ir para o outro lado do mundo, correndo o risco de precisar de assistência médica de um momento para o outro. Se correr mal podemos ir frente com o plano da road trip. Se correr bem dificilmente conseguiremos passar o Natal em Portugal, se correr mal a tradição mantém-se.

Não pensamos em roupinhas, carrinhos de bebé e decoração de quartos. Muito menos fazemos apostas sobre se é menino ou menina. Enquanto os casais "sem passado" se perdem também nestas questões, nós focamo-nos simplesmente no Será que é desta? Será que na próxima ecografia o coração vai continuar a bater? Será que na próxima ecografia vai ter o tamanho certo? Será?

16.5.14

foi assim

Andei estranhamente calma estas semanas, mas ontem, já depois de estacionar e enquanto caminhava para o consultório, dei comigo a pensar que ia ter um daqueles momentos que podem decidir tanta coisa. Não esperei tempo nenhum, entrei no consultório e expliquei resumidamente o meu percurso de 3 gravidezes num ano e mostrei os resultados das análises que fiz já depois do segundo aborto, na tentativa de encontrar uma razão para o fim abrupto do desenvolvimento do embrião. Simpatizei com a médica. Viu os resultados das análises com calma, e confirmou o que já suspeitava. Não há, aparentemente, motivo que explique o que tem acontecido. Mas não me falou de má sorte, nem de ansiedade, nem de stress, nem dos lugares comuns que vindos da boca de um médico me fazem ter vontade de virar costas e sair do consultório. 

Nunca eu imaginei ter tanta vontade de fazer uma ecografia ginecológica! Acho que naquele momento nem pensei em nada, fixei os olhos no monitor e vamos lá ver o que se tem andado aqui a passar nas últimas semanas. Apanhei um susto enorme, e lembro-me perfeitamente que naquela hora pensei "Há quem coleccione cromos nas cadernetas do Mundial, eu colecciono situações infelizes no que diz respeito a engravidar. Et voilà, desta vez saiu-me uma anembrionária". A médica pensou o mesmo (a parte da caderneta de cromos é capaz de lhe ter escapado, vá), vi-o na expressão dela e na frase que iniciou "O saco embrionário está implantado no útero, não é uma gravidez ectópica, mas..." E eis que o embrião aparece na imagem. Respirámos fundo e rimo-nos e confirmámos que estávamos a pensar exactamente o mesmo. Embrião com o tamanho correspondente ao tempo de gravidez. Para já tudo normal.

Saiu-me um peso de cima, mas o medo continua cá. Esta gravidez não é claramente uma repetição da segunda, em que nada foi normal desde o início, mas ainda pode ser a repetição da primeira. Quase há um ano, estava eu grávida do mesmo tempo, e na ecografia tudo era perfeito. Não sei se acaso (imagino que sim, já que as situações foram claramente diferentes), mas nas duas gravidezes anteriores o embrião deixou de se desenvolver às 7 semanas e poucos dias. Passarei por esta fase na próxima semana, e inevitavelmente não tenho apenas pensamentos sorridentes e cor-de-rosa. 

Farei nova ecografia daqui a duas semanas, depois da "fase crítica", no mesmo dia em que viajarei para Portugal. Na segunda gravidez abortei exactamente no dia em que deveria ter regressado a Portugal... De modo que, embora seja estranho para quem não passou por situações deste tipo, mas ter acordado hoje, mais uma vez, com uma leve sensação de enjoo me deixa um pouco mais descansada. Da primeira vez, o embrião deixou de se desenvolver, mas não houve sinais exteriores evidentes de nada, a não ser ir perdendo aos poucos os sintomas de gravidez. Na altura não liguei grande coisa, estava tão distante do mundo das gravidezes que não chegam a bom porto.

Resumindo e concluindo, tenho 8.1 mm de gente dentro de mim e, mais uma vez, dois corações a bater em simultâneo. Se daqui a duas semanas continuar a ter corações aos pares sou capaz de começar a acreditar realmente que corro o risco de ter uma passagem de ano bastante original!

14.5.14

o bom humor dos amigos:

"E se amanhã as novidades não forem boas vamos para os copos, porque nesse caso já podes!"

1 ano de Itália

Muito trabalho, muitas reuniões (grande parte sem interesse nenhum), outras tantas chatices profissionais, aulas de italiano, prazos que se aproximam a olhos vistos, ou seja, o cenário ideal para não pensar muito na gravidez, para o bem e para o mal.

O médico português a que fui da última vez que estive em Portugal disse-me que assim que engravidasse de novo devia reduzir a actividade física e intelectual*. Eu tento, juro que tento, mas como é que se limita a actividade intelectual? Bom, eu bem que prometi a mim mesma pelo menos não me irritar e andar em paz com o mundo, mas parece que há criaturas que insistem em me testar os limites e eu, sendo calma, não sou amorfa, e há alturas em que não consigo ficar calada, ainda que sabendo que vou irritar os outros e me vou irritar também. Ontem a meio de uma reunião lá disse meia dúzia de verdades que mereciam ser ditas e ouvidas, mas senti claramente o nervosismo que aquela situação me provocou e só pensava "Não te podes irritar, não te podes irritar". Claro que quando se tem um pensamento destes já a tampa nos saltou há muito. 

O que é mesmo relevante: amanhã tenho consulta e estou mortinha por ver no ecrã o que se passa cá por dentro, já que o que se vai sentindo é um misto de fome e enjoo permanentes que não consigo colocar por palavras. Quem se lembrou de chamar a isto "enjoos matinais" esqueceu-se do pequeno pormenor de que isto dura o dia todo, desde que acordo até que me deito. E, ainda assim, acredito que é um bom sinal. Estou-me a transformar num ser estranho, fico contente por ter enjoos! E ontem, a meio da reunião, juro-vos que tive pena de não ter vontade de vomitar ali mesmo, que seria uma belíssima forma de exprimir o que me ia na alma! E... continuo a achar que é desta, mais do que alguma vez achei na segunda gravidez.

De resto, faz por estes dias um ano que me mudei para Itália!



*É certo que também olhou para nós e exclamou "Vocês têm os dois bom aspecto, não têm problema nenhum!", que é sempre uma coisa simpática de se ouvir quando se passou por dois abortos seguidos e queremos encontrar uma razão médica para o sucedido, de modo que o que ele diz vale o que vale. 

12.5.14

forma de ser

Hanging clothes (Dubrovnik mais uma vez, e cá continua a mania dos estendais!)


Contei aos meus pais e aos amigos próximos sobre a gravidez. Sei que há quem pense que é um risco, que tudo pode correr mal e depois terei que dar a má notícia. Mas não são estas as pessoas que terei ao meu lado para me ajudarem a dar a volta se o desfecho não for o que todos mais ansiamos? Sinto frequentemente que deve haver algo de pouco habitual em mim na forma como divulgo a novidade, mas não o sei fazer de outro modo e é este que me deixa confortável. 

semana 6

Dubrovnik, uma cidade encantadora 


Tanto adiei a ida a uma consulta que quando a quis marcar vi o caso complicado. A médica habitual só tinha vaga em Junho, e as outras opções que tentei só depois dessa data. Já me imaginava a ser pouco correcta, a inventar uma dor qualquer e a ir à urgência só para me fazerem uma ecografia. Bom, acabei por descobrir uma médica mesmo ao lado de casa e, estranhamente, arranjei uma consulta para o final desta semana. Ainda é muito cedo, mas dado o meu historial, a "fase crítica" aproxima-se e não queria que esta chegasse sem fazer uma ecografia e saber qual o ponto da situação. Se tudo estiver a correr como é suposto, no final desta semana devo ver um embrião com um coração acelerado. Não que este panorama seja diferente dos anteriores, porque nas duas gravidezes anteriores houve sempre dois corações a bater dentro de mim, mas é um passo essencial para chegar a bom porto. Mantenho-me optimista, mas racional, tendo sempre presentes as experiências anteriores. Para já sinto-me bem, com uma leve sensação de enjoo que me acompanha de manhã à noite. Suponho que deve ser um bom sinal. E, para já, nada mais me resta fazer para além de esperar e sonhar.