5.8.13

Ainda não sei bem como escrever sobre este assunto.

Achei que tinha vindo para Itália sozinha, mas enganei-me. Dentro de mim vinha um ser minúsculo que eu nem imaginava existir. Só quando os sintomas se tornaram impossíveis de ignorar coloquei a hipótese de estar grávida. Era uma hipótese muito remota dado o meu historial médico, mas não era totalmente impossível, como se veio a confirmar. Contra tudo o que os médicos me haviam dito, a ecografia mostrou-me um útero habitado. Só aí acreditei que era real. Antes, quando havia visto as duas riscas cor-de-rosa à minha frente, não consegui crer. Estes dias de felicidade imensa, expectativa e receio duraram poucas semanas. Bem sei que tudo nos parece mais injusto quando a dor bate à nossa porta, mas por que raio de razão me é dado a saber que afinal é possível, se logo a seguir essa alegria maior me foi retirada?

Chorei baba e ranho no dia em que a notícia que não queria ouvir se confirmou. Não tornei a chorar, nem no dia em que completamente sozinha fui ao hospital para que os vestígios da curta gravidez me fossem retirados. Sozinha, rodeada de grávidas e de recém-nascidos num sítio em que ninguém fala outra língua que não seja italiano. Estranhamente penso que estar sozinha tornou mais fácil a tarefa de ultrapassar este momento.

Dois meses em Itália, o que mais me espera?

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