De vez em quando batem-me à porta pessoas do passado. Pessoas que em dado momento acreditei poderem vir a fazer parte dos meus dias de forma permanente, ou que eu quis que fizessem e que acabaram por entrar e sair da minha vida em tempo record. Normalmente depois do adeus forçado ou de comum acordo não olho para trás e corto todo o contacto. Parece-lhes cruel, ou no mínimo estranho, mas é assim que sou. Não toco nas feridas (nem nas minhas nem nas dos outros) quando ainda estão em carne viva, nem que seja um toque suave que tem apenas como intenção atenuar a dor. Não quero qualquer contacto e fujo a qualquer tipo de aproximação.
Reapareceste agora do nada, tanto tempo depois. Falei contigo normalmente e reconheci as conversas fluidas que tivemos e que a dado momento deixámos de ter. Queixaste-te das vezes que não quis falar contigo. Não me apeteceu explicar-te que naquela altura uma simples conversa contigo me fazia doer tudo cá dentro, me fazia recordar cada momento bom e me recordava do que nunca teríamos juntos. Agora, tanto tempo depois, tanta vida depois, voltei a ser capaz de falar contigo. Perguntei-te por ela, perguntaste-me por ele. Sem sabores amargos, nem dores, nem falsos discursos. Agora somos perdidamente felizes, cada um no seu mundo.