30.9.13

serenidade

De vez em quando batem-me à porta pessoas do passado. Pessoas que em dado momento acreditei poderem vir a fazer parte dos meus dias de forma permanente, ou que eu quis que fizessem e que acabaram por entrar e sair da minha vida em tempo record. Normalmente depois do adeus forçado ou de comum acordo não olho para trás e corto todo o contacto. Parece-lhes cruel, ou no mínimo estranho, mas é assim que sou. Não toco nas feridas (nem nas minhas nem nas dos outros) quando ainda estão em carne viva, nem que seja um toque suave que tem apenas como intenção atenuar a dor. Não quero qualquer contacto e fujo a qualquer tipo de aproximação. 

Reapareceste agora do nada, tanto tempo depois. Falei contigo normalmente e reconheci as conversas fluidas que tivemos e que a dado momento deixámos de ter. Queixaste-te das vezes que não quis falar contigo. Não me apeteceu explicar-te que naquela altura uma simples conversa contigo me fazia doer tudo cá dentro, me fazia recordar cada momento bom e me recordava do que nunca teríamos juntos. Agora, tanto tempo depois, tanta vida depois, voltei a ser capaz de falar contigo. Perguntei-te por ela, perguntaste-me por ele. Sem sabores amargos, nem dores, nem falsos discursos. Agora somos perdidamente felizes, cada um no seu mundo.

27.9.13

assédio no local de trabalho

Ganha outra dimensão quando nos bate à porta. Confirma-se que não fui feita para aturar gente sem escrúpulos e princípios, e subir na vida na posição horizontal não faz parte da minha forma de pensar nem de agir. E se fosses para o c#/%¿'(º¡$, hein?

Finalmente sexta. Esta foi a semana mais longa dos últimos tempos.

17.9.13

4 meses italianos


- durante algumas semanas tive dois corações a bater dentro de mim
- vivo numa casa com uma vista de sonho: adoro acordar e adormecer com o lago
- voltei a ter carro, mas continuo a vir de bicicleta para o trabalho
- continuo a não ter TV e não me faz falta
- nunca antes comi tanta pizza e tanta massa
- tenho aulas de italiano
- fui a Portugal três vezes
- aqui o Outono já chegou nas temperaturas matinais e de fim de tarde, e nas folhas acumuladas junto ao lago
- fui a Bruxelas, comi os melhores macarons de sempre e senti-me a fazer algo realmente importante
- fizemos uma road trip Portugal - Itália, cheguei morta de cansaço e a transbordar de felicidade
- comecei a aventura italiana sozinha, mas poucos meses depois passou a ser uma aventura a dois (quem diria, quando eu vim, que tão pouco tempo depois te juntarias a mim?)
- pela primeira vez tenho que cumprir um horário de trabalho
- estou fã do meu horário flexível
- fomos à Suíça num passeio de Domingo - ainda não me habituei a estar numa posição mais central e a não estar numa ponta da Europa
- tenho muito mais trabalho do que tinha antes: ao trabalho novo juntam-se muitas tarefas do antigo, que vou mantendo como posso, e enquanto for possível
- em breve vou voltar a Bruxelas e irei a Barcelona
- mantenho a minha paixão por Timor
- fazemos caminhadas ao final da tarde para explorar as redondezas
- temos várias viagens planeadas e a passagem de ano já está marcada

11.9.13

recomeçaram as aulas de italiano, aleluia!

Percebo praticamente tudo, construir frases é que não é muito comigo, pelo menos para já. Quero acreditar que em pouco tempo a coisa vai ao sítio. Pelo menos já perdi a vergonha de falar numa espécie de dialecto da selva ("mim Tarzan, tu Jane"). Uma pessoa tem que se desenrascar, quero lá saber se as frases estão correctas ou não!

4.9.13

a ver vamos

Sempre fui muito pragmática em questões importantes. Ora, se há muitos anos me havia sido dito que teria muitas dificuldades em engravidar, essa foi ideia que deixou de me atravessar o pensamento. Se com vinte e poucos anos seria difícil engravidar, não seria com mais quinze anos que criaria ilusões. Até que, estranhamente, engravidei. Tive uma série de sintomas que não deixavam margem para dúvidas, mas recordei-me do tom pesaroso com que o médico me comunicou há mais de uma década que ter filhos não seria nada fácil. Assim, e apesar dos sintomas, assumi que não poderia estar grávida, apesar de tudo e do teste de gravidez conclusivamente positivo. Achei realmente que estava doente. Fui à net, pesquisei o que poderia estar na origem da minha aparente gravidez e concluí que estava mesmo muito doente. Uma semana depois fui ao médico preparada para ouvir o pior, e saí do consultório com a imagem de uma ecografia com um embrião minúsculo. Não vou dizer que pulei de felicidade, porque não é verdade. Fiquei sem reacção, completamente incrédula. Eu grávida? Ele chorou de emoção, contou aos amigos todos, rebentou de felicidade e eu continuava sem acreditar que tinha ouvido um coração, que não o meu, a bater dentro de mim. Aos poucos a realidade foi-se apoderando de mim e idealizei os sete meses que teria pela frente e o que se seguiria. Ponderei questões práticas, que isto de se estar sozinha num país diferente há meia dúzia de dias e descobrir que se está grávida é coisa para nos fazer pensar muito. Fui muito feliz nestas semanas, semanas estas que foram curtas, com um desfecho muito afastado do esperado.

Ora, mas se aconteceu uma vez por acaso e sem nenhum tipo de plano nem cuidado, é bem possível que se repita. E já não estar sozinha em Itália é capaz de ser um ponto muito favorável na conjuntura. Ainda me soa estranho pensar e escrever isto, mas a verdade é neste momento tenho muita vontade de ser mãe. É isto. A ver vamos no que dá.

2.9.13

a dois

Setembro será lembrado como o mês em que deixámos de estar um cá e o outro lá. A partir de agora somos dois em Itália. 

Recebi a notícia da tua vinda no momento em que abri os olhos depois da anestesia, no dia em em que deixei oficialmente de estar grávida e em que engoli todas as lágrimas que quis chorar. Uma espécie de compensação que tornou esse meu dia menos agreste.