7.12.16

ainda aqui venho de vez em quando

Os dias são feitos de cansaço, correria e algum desnorte. Depois ouço o Miguel a bater palmas deitado na cama, quando supostamente estaria a dormir a sesta há um bom tempo, e tenho que me rir. O cansaço desaparece com estes pequenos nadas: uma palavra nova, uma atitude inesperada, um sorriso que nos desarma. Quase de certeza que este é o melhor tempo da minha vida: estou em casa com os dois pequenos seres que me preencheram a vida enquanto eles próprios transbordam de vida e espanto. Esta é uma fase sem viagens, quase sem liberdade, sem tempo para mim, sem tempo para nada para além de cuidar deles. É uma fase dura, dolorosa mesmo. Eu era feita de trabalho, escrita, viagens, fotografias e compras. Sobra tão pouco dessa pessoa. Não sei se algum dia voltarei ao ponto de partida. Aliás, sei que não voltarei, sei que continuarei a vibrar com viagens, com a fotografia e com a escrita. Não sei de que forma encaixarei tudo nesta nova vida com dois filhos.

Hoje sou uma pessoa melhor do que era há três anos. Sou melhor mãe agora do que quando era só mãe do Miguel. A maternidade amaciou-me, mostrou-me perspectivas da vida e das pessoas que desconhecia. A maternidade, e o meu afastamento do mundo das pessoas "normais", fez-me ver o mundo com outros olhos. Há dias difíceis, em que há mais birras, em que não dormem, em que o maior não quer comer, em que o mais novo faz cocó até às orelhas vezes sem conta. Nesses dias anseio por aquele bocadinho de noite a seguir ao jantar em que o tempo é apenas meu e sinto que cada dia deviam ser dois: um para cuidar deles, o outro para (cuidar de) mim. Noutros dias dou comigo a pensar que não fossem os constrangimentos financeiros e era louca o suficiente para ter um terceiro filho. Detestei estar grávida do Miguel e agora tenho saudades e dói-me saber que é algo irrepetível. 

Vou acabar de aproveitar este bocadinho de dia só meu :)

1 comentário: