8.4.14

consequências

(lago Maggiore, como quase sempre)

Tenho lido relatos e desabafos de mulheres que têm dificuldade em engravidar ou que já sofreram vários abortos. Grande parte delas refere-se à dificuldade que têm em contactar com grávidas, em acompanhar as gravidezes de amigas e colegas de trabalho. Relatam também, com tristeza, a inveja que sentem das grávidas com que se cruzam na rua, das que lhes são mais próximas e especialmente de quem engravida com a mesma facilidade com que respira.

Há poucos dias uma amiga contou-me que estava grávida. Senti-me genuinamente feliz por ela. Uns minutos depois dei comigo a pensar quanto tempo mais manteria esta minha neutralidade. Quanto tempo mais irá passar até eu sentir uma pontada de inveja antes de me sentir feliz pela felicidade de quem me é próximo? Tenho mais receio de me tornar uma pessoa amarga do que de não ter um filho.

4 comentários:

  1. Não consigo perceber essa inveja, por mais que ma tentem explicar. Neste percurso de 6 anos na luta por ter um filho, nunca senti inveja por nenhuma barriga. No meu caso em particular, tenho de lidar com a dificuldade de os outros lidarem com este problema que é meu e do meu marido. Apesar de saber que não é por mal que o fazem, andam quase com pézinhos de lã e dão a notícia de uma gravidez acompanhada de "Não fiques triste...a tua vez há-de chegar quando menos esperares!" Como poderia ficar triste com a alegria de outra pessoa?? E é que nem sequer reajo com o mínimo de tristeza! Espero conseguir, tal como tu, manter esta "neutralidade" como tu lhe chamas. Mas sinceramente, não creio que seja neutralidade, mas uma questão de feitio e da forma como se encaram as situações.

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  2. Su, muito bom saber que é possível viver esta luta mantendo-nos normais e saudáveis! :-)

    Tive dúvidas na palavra "neutralidade". Foi usada apenas porque não me ocorreu outra melhor, mas concordo que não é a melhor.

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  3. Rosa, é a primeira vez que comento mesmo tendo acompanhado o teu blogue nesta viagem em que embarcaste. Tenho imensa pena pelo sofrimento que te calha e espero muito, muito que o futuro te sorria.

    Resolvi comentar agora porque acho que posso contribuir activamente (estou a tentar conceber há quase 3 anos) e também para oferecer um ponto de vista diferente daquele que tiveste nos comentários. Não para ser combativa. Mas, talvez, para oferecer um ponto de vista mais tolerante.

    Acho muito importante nunca esquecer de que todos temos o potencial para reagir de forma diferente. Acho também pertinente reiterar a confusão que se pode sentir, não em relação à dualidade de sentimento que se pode sentir quando uma amiga que nos diz que está grávida, mas em relação ao facto de que somos capazes de sentir essa dualidade. Será assim tão estranho conceber que a ocorrência de algo que aparentemente traz tanta alegria (a concepção de uma criança) poderá trazer também devastação na sua ausência?

    Igualmente, que o facto de nos sentirmos honestamente felizes por outra pessoa não invalida a possibilidade de nos sentirmos infinitamente tristes por não sermos nós? Atitudes mais extremistas não ajudam ninguém - não ajudam as grávidas que se sentem tristes por saberem de amigas que não conseguem passar pelo mesmo e pessoas que estão a tentar conceber, que sentem esta dualidade de sentimentos e que, muito provavelmente, se sentem culpadas por assim sentirem.

    Como é óbvio, há sempre pessoas com atitudes tristes em ambas as partes. Mas, honestamente, acho que a grande maioria tenta lidar com esta situação da melhor forma possível. Em momentos de tristeza profunda, o "não consigo perceber..." poderá ser menos eficaz do que o "queres falar acerca de como te sentes?". O primeiro é prescritivo, inadequado a afazeres do coração. O segundo é tolerante.

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  4. Obrigada pelo comentário e pelo contributo. Ainda estou no início de uma caminhada que não sei quão longa será. Acredito que este percurso ajuda a amadurecer e a alterar alguns sentimentos. Por esta mesma razão coloquei a questão sobre quanto tempo demorará até que as minhas formas de sentir e de pensar se alterem. Penso que a dualidade de que fala é quase inevitável, eu já a sinto ainda sem a sentir (consigo-me fazer entender?). Gostamos que os nossos sentimentos e pensamentos sejam bons, e a inveja (ainda que justificada) tem sempre uma conotação negativa. É legítimo alguém que quer ter um filho ficar triste por não conseguir e outros, ao lado, o conseguirem sem esforço? Claro que sim. Preferia continuar a ficar feliz pela felicidade dos outros, sem que essa felicidade me torne mais infeliz? Claro que sim. Se isso é possível? Tenho muitas dúvidas.

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