Amamentei o Miguel durante muito pouco tempo. Estava preparada para ter dores ao amamentar. Estava preparada para uma subida do leite dolorosa. Não estava preparada para que o meu filho não aumentasse de peso e a amamentação ficasse pelo caminho. Sempre me senti "eu" durante toda a gravidez do Miguel e no pós-parto também, não senti que as hormonas tivessem tomado conta de mim, excepto no dia em que tive que abrir uma lata de suplemento e preparar um biberão. Nesse dia chorei baba e ranho. Estava a fazer o que me era possível na altura, mas a sensação de estar a falhar e de não estar a dar ao meu filho o que ele merecia tomou conta de mim. Depois, quando vi o ponteiro da balança a subir, confirmei que dada a situação estava a fazer o que era correcto e até encontrei vantagens em lhe dar leite adaptado (não ter que ser sempre eu a dar-lhe o biberão era uma delas), mas fiquei sempre com um travo amargo na boca. Senti que se estivesse em Portugal saberia onde me dirigir para procurar ajuda, e que estando longe estava um pouco perdida nesse aspecto. Para além disso, tudo era novidade, estávamos só os três e penso que isso condicionou a minha capacidade de me mexer e dar luta ao suplemento.
Quase não preparei nada para o nascimento do João. Não li nada, não me preparei para o parto. Ainda estava tudo muito fresco de toda a experiência com o Miguel e a verdade é que tudo o que se relaciona com o parto e com o cuidar de um recém-nascido me parece muito intuitivo. Tudo me parece intuitivo, menos a amamentação. Sobre amamentação li, informei-me, pesquisei onde poderia procurar ajuda se tivesse dificuldades mais uma vez. O João mamou pela primeira vez na sala de partos e não me magoou, como aconteceu com o Miguel. Achei que seria um bom augúrio. Mas a verdade é que o João não parecia ficar saciado depois de mamar quando ainda estava no hospital. Por três ou quatro vezes bebeu suplemento (e como o bebeu rapidamente!) e eu não chorei nem me senti mal. Desta vez sabia que estava a fazer tudo, mesmo tudo, o que podia: pedi a várias enfermeiras que verificassem a pega (tudo OK), fizemos o que não é indicado (pesar o bebé antes e depois de mamar), mas que nos ajudou a perceber o que se passava: o peso não aumentava e vimos que naquela altura eu basicamente não tinha leite. Para além disso o João debatia-se imenso para pegar na mama (o que não acontecia com o biberão do suplemento), o que não ajudava nada. Saímos do hospital e, apesar de ter comprado uma lata de leite adaptado, decidi não lhe dar suplemento até à pesagem seguinte, passados dois dias. Depois de o pôr na mama dava-lhe leite meu no biberão, tirado com a bomba. Bebia bem esse leite e a verdade é que o peso aumentou. Senti-me mais confiante: o problema não estava no meu leite. Mas o João continuava a lutar com a mama. Tirar leite com a bomba resolvia o problema, mas por quanto tempo? Até quando conseguiria eu tirar leite várias vezes por dia tendo outro bebé em casa? Falei com duas CAM (conselheiras de apoio à amamentação) portuguesas. Uma aconselhou-me a deixar o biberão gradualmente, a outra a cortar com o biberão de forma radical. Eu já sabia que era esse o caminho, mas tinha medo que o peso baixasse de novo. Enchi-me de coragem e fui pela abordagem radical. Arrumei a bomba e o biberão. O João continuou a aumentar o seu peso. Não lhe tornei a dar leite meu pelo biberão. A confiança ajuda muito nestas situações e eu sentia-me bem mais confiante do que na altura do Miguel.
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