Pouco mais de dois meses fora do país e hoje foi o dia em que mais senti que estava no sítio errado. Viver noutro país é, para mim, estar onde quero, mas também é estar longe da família, de parte dos amigos, dos nossos sítios, mas, mais que isso, é não estar em momentos únicos, com significado, que não se repetem. Hoje foi um desses dias. O que mais queria era poder acompanhar-te de manhã à noite num dia de nervosismo, ansiedade, alegria e êxtase. Acompanhei-te o mais que pude, mas à distância. Teremos outros momentos importantes no futuro e nesses, sabemos agora, estaremos juntos. Mas hoje não se repete e estivemos tu aí e eu aqui.
25.7.13
"sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam"
Timor não me larga, ou eu não largo Timor. Ou não nos largamos um ao outro. Não sei qual das três descreve melhor a situação actual. Hoje comecei o dia com uma longa conversa telefónica para o outro lado do mundo e aquele português com sotaque moreno e sabor de água de côco avivou mais as saudades e as memórias de pessoas de sorriso doce e do pôr-do-sol cor de fogo. Parece que foi ontem e, ao mesmo tempo, foi há tanto tempo já. Eu mudei, aconteceu-me tanta coisa, mas a mais relevante foi ter-te reencontrado, por acaso, e desta vez sabermos que é para sempre. Ainda não sei se voltar ao outro lado do mundo em breve é uma possibilidade, mas sei que a ser só faria sentido contigo ao meu lado a partilhar o azul límpido e deserto de Jako e a silhueta de Ataúro.
23.7.13
anoitecer | fechar os olhos | acordar
Nos últimos dias tem sido assim, tons de fogo antes da escuridão. Um mês depois de me ter mudado não me canso desta vista, dos diferentes brilhos e cores ao longo do dia, e de como estes vão também mudando à medida que o Verão avança. Ontem, depois destes tons delico-doces, chegou uma tempestade imensa: relâmpagos, trovões, vento e chuva. Abanou e lavou as montanhas por fora e arrastou das minhas entranhas os vestígios da tristeza dos últimos dias. Nada como recomeçar com ar fresco e o verde das folhas ainda húmido do temporal da noite, uma espécie de renascer silencioso depois de um vendaval furioso que se abateu sobre mim.
22.7.13
Se há coisa de que não me posso queixar é de monotonia, para o bem e para o mal. O que há dias me fazia escrever posts a transbordar felicidade transformou-se numa dor imensa. Não é que me achasse frágil, mas descobri que sou muito mais forte do que poderia imaginar. Passei sozinha por algo que deixa de rastos quem está rodeado de gente. Chorei quando a notícia me atingiu como uma bala (descobri que é possível chorar em conjunto por Skype, partilhar uma dor profunda à distância e, no entanto, em pura sintonia), depois respirei fundo, ergui a cabeça e avancei. Não chorei mais. Estive sozinha num sítio completamente desconhecido, nas mãos de quem não me entende quando falo, rodeada de felicidade e sorrisos, mas no extremo oposto dos sentimentos. No mesmo dia, aliás, no exacto momento em que fechava um ciclo e iniciava outro, recebi a notícia que mais me poderia fazer feliz depois dos últimos dias de tristeza profunda. Dois meses em Itália e já me aconteceu tanto, mas tanto. Continuo a ter dificuldade em encaixar tantas vivências e tantos sentimentos em tão poucos dias.
10.7.13
dias felizes
Eu achava que já tinha tido momentos de felicidade pura, até que dei comigo a viver uma fase que superou tudo o que tinha vivido ou até imaginado. Às vezes sou demasiado comedida nos sonhos, com receio de que nunca passem disso mesmo, sonhos, e que eu me magoe entre o que é e o que gostaria que fosse. Digo-vos, agora, sabendo do que falo, que é possível que a realidade supere o que algum dia desejámos e que demos connosco a rebentar de felicidade de um momento para o outro. Timor foi importante, foi marcante, constituiu um ponto de viragem. Creio que se não tivesse estado em Timor não teria ido ao Cambodja, e não me teria libertado das poucas amarras que ainda me prendiam ao cantinho em que vivia. Sem Timor, muito provavelmente, não estaria agora em Itália. E Itália, mesmo antes de cá chegar, trouxe-me tudo o que poderia querer e aquilo que nem sabia que queria.
céus coloridos
O silêncio continua a imperar por estes lados. Confirmo que a felicidade é sinónimo de poucas palavras escritas. Deixo-vos então com as cores que os meus olhos encontraram quando este fim-de-semana voltaram a Portugal.
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