6.1.15

o 12º dia foi um dia mau

Eu com o Miguel ao colo, em pé, e de um momento para o outro sinto algo quente a escorrer-me pelas pernas: ou estou a perder sangue como se não houvesse amanhã ou estou incontinente. Não estava incontinente. Meti-me na banheira e vi uma espécie de mar Vermelho a aparecer junto aos meus pés. Se isto tivesse acontecido logo a seguir a ter voltado do hospital não ficaria admirada, era o tempo certo para algo do género acontecer, mas quase duas semanas depois não pude deixar de ficar preocupada. Afinal estava a perder sangue como no dia do parto. Terminámos a noite no hospital, onde queriam que passasse a noite em observação, mas lá os consegui convencer a deixar-me vir para casa. Ficou combinado que voltaria de imediato se algo do género voltasse a acontecer e que, independentemente do que sucedesse, voltaria dois dias depois para novas análises e observações. Estou bem. Não se repetiu. Não encontraram razão para o sucedido. A única razão lógica será ter tido um coágulo a bloquear a passagem do sangue. Quando o coágulo saiu saiu também um rio de sangue.

Cheguei a casa já bastante mais descansada, mas a achar que tinha apanhado um susto dos diabos. Entretanto recebo uma mensagem do meu grupo de grávidas - agora muitas já mães - e afinal descobri que o meu dia tinha sido perfeito. O que nunca imaginámos que pudesse acontecer aconteceu mesmo. O primeiro bebé do grupo morreu com 3 semanas. É daquelas notícias que não se quer ler nunca, e muito menos quando se tem um filho com meia dúzia de dias. Não soube o que dizer aquela mãe que me (nos) acompanhou durante quase 9 meses e que era uma das mais bem dispostas do grupo. O que é que se diz a uma mãe que acabou de perder um filho? Disse-lhe apenas que não sabia o que lhe havia de dizer. Não conheço nenhuma das minhas colegas grávidas pessoalmente, mas criaram-se laços à distância, frutos de uma caminhada comum com os mesmos passos e as mesmas dúvidas. E agora todas sentimos a morte do primeiro bebé do grupo, aquele que nos fez ver que tudo era real, que mais dia menos dia também teríamos os nossos bebés junto a nós. O bebé nasceu prematuro e estava internado. Tinha uma imunodeficiência ainda não identificada, mas nunca nenhuma de nós imaginou que o desfecho pudesse ser este. Houve gravidezes interrompidas logo numa fase muito inicial - e nessa altura tive um medo terrível de poder vir a fazer parte deste grupo, mas depois tudo correu da melhor forma. Houve vários sustos no nosso grupo, mas todos ultrapassados da melhor forma. O primeiro bebé do nosso grupo não resistiu e o funeral é hoje.

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