20.2.15

um ano depois

Há um ano estava grávida e deixaria de estar poucas semanas depois. Estive grávida três vezes. Tenho um filho. Cada um lida com a sua dor da forma que melhor sabe e pode. Há quem diga que tem estrelinhas no céu. Isso nada me diz, talvez por não acreditar nesse tipo de céu. Este tempo todo depois, e também depois do sonho concretizado, continuo a achar que lidei com tudo isto da melhor forma. Não fui abaixo, não desisti, corri atrás do que queria e, à terceira, fruto do acaso ou de uma biologia mais feliz, a coisa deu-se.

Nunca pensei em desistir, mas a dada altura tive receio que aqueles poucos meses de desilusões fossem apenas o início de uma caminhada dolorosa e sem fim. Não escrevo longa propositadamente porque a minha idade já não permitia que o fosse, mas poderia ser um percurso penoso sem que o objectivo fosse atingido. Nunca houve um plano para o que faria se a terceira gravidez não fosse avante. Em todo este processo fui vivendo os dias, saboreando as pequenas vitórias feitas de corações a bater e poucos milímetros de gente e respirando fundo quando a derrota se dava. 

Não há uma fórmula para lidar com os abortos, e muito menos para lidar com os abortos de repetição. Encontrei a minha forma de lidar com eles, de seguir em frente e continuar a viver feliz, mas cada uma de nós é diferente. Contei a quem me rodeava o que se ia passando, conheço outras mulheres que guardaram para si a realidade e a dor. Não me revejo nessa forma de estar (preciso que a dor expluda em palavras para me libertar), mas aceito que essa seja a melhor maneira de superar a dor para outras pessoas.

Sorrio quando penso em tudo o que aconteceu de há um ano para cá: uma segunda desilusão, maior que a primeira, e um filho perfeito deitado agora, aqui, à minha frente. É o maior cliché de todos, mas o tempo faz efectivamente milagres.

2 comentários:

  1. Obrigada pelas tuas palavras. Encontrei o teu blog quando pesquisava sobre o assunto, há algum tempo. Eu preferi guardar só para mim essa dor da perda, da perda repetida... Mas agora também dorme no berço o meu pequeno milagre... tranquilamente. E eu sorrio, tranquila.
    A.

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  2. Queria um dia tb eu poder olhar para o berço e esquecer tudo o que tenho passado...Talvez não chegue lá, cada FIV me parece mais uma via sacra...Obrigada por escrever e partilhar (eu não consigo mesmo partilhar). Acredite que ler a história das outras ,ajuda mesmo e é um balsamo nos momentos mais escuros. Obrigada mesmo!
    Â.F

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