Eu não sei o que é que eu tenho que faz com que qualquer pessoa se sinta à-vontade para falar comigo. As conversas vão dos assuntos mais banais àqueles que para mim seriam mais reservados, mas que algumas pessoas abordam como se estivessem a falar do tempo.
Há meia hora cruzei-me com um vizinho do prédio, pessoa que vejo para aí uma vez de mês a mês e com quem devo ter trocado meia dúzia de palavras... isto era verdade até há meia hora atrás, quando nos encontrámos no elevador.
- Já não a via há muito tempo!
- Estive uns dias fora.
- Eu também, mas tive que regressar porque tive que ir ao médico por causa da bexiga [aqui o meu alerta disparou, sempre que a conversa mete médicos e doenças tem potencial para se alongar e entrar em pormenores desnecessários] blá blá blá E agora vou ter que lá voltar para o médico me meter uma aparelho pela uretra acima [eu sei que é ruim da minha parte, que é um assunto delicado, mas foi aqui que comecei a ter uma vontade de rir quase que incontrolável] blá blá blá Ainda há dias estava no andar de baixo e ia no elevador lá para cima e não me consegui controlar, fiz pelas pernas abaixo. Ainda bem que estava de calças!
Consegui não me rir. Sou resistente ou não sou? Eu sei que os homens têm um outro à-vontade a falar das funções fisiológicas do próprio organismo, mas que diabo, têm que falar sobre elas com desconhecidos?
Posso garantir, com um grau jeitoso de certeza, que a coisa é bem pior quando somos, mesmo, psicólogos e o interlocutor tem noção disso... No final, inapelavelmente, surge um de dois comentários: "estiveste este tempo todo a analisar-me, certo?" ou "o que é que tu achas disto tudo?".
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