21.12.10

Num mundo ideal todos viveríamos num equilíbrio perfeito entre vida pessoal e profissional. Mas o mundo não é ideal nem perfeito e as ideias de perfeição são do mais relativo que há. E depois há profissões que na verdade não o são. Para mim a profissão traz colada a si obrigações e deveres que não se coadunam com prazer e paixão. E, ou muito me engano, ou se é investigador 24 horas, 7 dias por semana, ou não se é. Não estou a dizer que se trabalhe e não se faça mais nada (Deus me livre). Estou a dizer que as ideias não tiram férias nas idas ao cinema, nem enquanto se cozinha o melhor bolo de chocolate do mundo e arredores, nem quando se fecha a porta do gabinete às 8 da noite de um dia qualquer. Estou a dizer que por muito que queiramos os artigos correm atrás de nós, e não é fácil deixá-los ali quietos e desamparados enquanto nos piscam o olho de forma sedutora. E é por isso que desconfio sempre do genuíno ser investigador de quem desaparece de circulação uma semana antes do Natal e reaparece já no novo ano mais rechonchudo e com ar de descanso total. Mas isto é o meu mau feitio a falar.

2 comentários:

  1. Compreendo-te tão bem...
    É um trabalho eternamente inacabado... Nunca desligamos... Não fechamos gavetinhas com facilidade... Nunca nada está suficientemente bem até que se acabe a nossa deadline... Enfim...

    "Na investigação, por exemplo, tornamo-nos seres de rotinas muito solitárias, com um ritmo muito próprio e dificuldades em fazer o Mundo entender que, naquele dia, àquela hora, ter apagado aquelas 5 linhas é mesmo uma coisa capaz de nos arrumar com a auto-estima. Todos os trabalhos têm as suas dificuldades. No nosso, tenho para mim, esta é a pior: explicar o inexplicável, a sensação absurda de constante dívida a um projecto que às vezes não passa de ideia, a piração doentia de quem, de folga, de férias, a dormir, pode lembrar-se de uma coisa tão importante que é preciso anotar e, por isso, nunca descansa mesmo. O pior desta vida, tenho para mim, é a consciência da necessidade de um fim que parece que nunca vamos alcançar e que só alcançamos quando não dá mesmo mais. Isto, por outro lado, também pode ser o melhor. A permanente descoberta, o afinamento de uma ideia, a insatisfação eterna, a busca interminável. São visões diferentes do mesmo fenómeno. Este, digo-vos, parece-me bem um projecto a sós."
    31 de Julho de 2010

    Beijinho*

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  2. R., é mesmo isso, e é tão difícil de explicar a quem está "por fora" (e a alguns que supostamente estão por dentro também!).

    :-)*

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