21.12.14

de 2014 ainda antes do meu acontecimento do ano

A 10 dias do final do ano sei bem que o balanço feito hoje ficará muito incompleto, mas se não houver balanço hoje o mais certo é não haver.

Gosto muito de mim, apesar da minha forma de ser e da minha forma de agir me trazerem muitas vezes situações menos boas. 2014 confirmou-o. Tive aborrecimentos de sobra a nível profissional, cortei relações com algumas pessoas, mas para mim o balanço é claramente positivo: fui fiel a mim própria e à minha forma de ser. Não posso estar em completo desacordo com uma situação e fazer de conta que concordo ou que não quero saber. Tenho sangue a correr dentro de mim e não água. Para muitos seria mais fácil não tomar posição, ignorar e ser politicamente correcto, eu não sei (nem quero saber) ser assim. Tenho perfeita noção que ter esta postura me torna um alvo a abater, é o preço a pagar por ter coluna vertebral.

Em 2013 fui vítima de assédio sexual, em 2014 o assédio transformou-se em assédio moral, fruto da não cedência às investidas no final do ano anterior. Nunca pensei ver-me envolvida em algo deste género e hoje teria tido uma postura diferente no primeiro momento em que me senti assediada. Ficou-me a lição para o futuro, se bem que espero que esta tenha sido uma experiência única em toda a minha vida. 

Este ano afastou-me de algumas pessoas que eu achava estarem lá de pedra e cal, e confirmou que há outras com quem poderei contar para sempre. A primeira parte da frase anterior deixou-me triste, mas agora centro-me na segunda parte, que é efectivamente a mais importante. Quem se foi não merece tempo de antena, quem se mantém merece-me de todas as formas.

2014 trouxe-me mais um aborto. Houve um momento, a altura em que ambos fizemos dezenas e dezenas de análises para tentarmos encontrar a causa do não desenvolvimento dos embriões, em que tive um medo enorme que este fosse apenas o início de uma longa caminhada. Tive noção que a ser assim muita coisa mudaria em mim e em nós. Ninguém consegue fazer uma longa caminhada no mundo da infertilidade sem mudar as suas prioridades e sem se centrar no seu principal objectivo de vida. E eu não sabia se queria centrar a minha vida num objectivo que poderia nunca atingir. Mas 2014 trouxe-me uma terceira gravidez inesperada e hoje já ultrapassámos as 38 semanas do M. 

Sei bem que há quem tenha passado por situações incomparavelmente mais difíceis, mas gosto da forma como consegui lidar com tudo o que aconteceu. Lembro-me de ter contado a algumas pessoas próximas que estava grávida pela terceira vez e vi no olhar delas uma descrença enorme, li naqueles olhos um vamos lá ver quantas semanas dura desta vez. E não quis saber, porque apesar de todos os receios acreditei que era possível. E foi. Gostei da forma como consegui encarar a situação com humor, mesmo nos momentos mais negros. Todas as decisões que tomei foram baseadas num misto de razão e intuição e não me arrependo de nada. Ficam-me imagens na memória de momentos sem grande significado aparente, mas que se ficaram vincados é porque representam algo especial:
  • recordo-me perfeitamente do segundo aborto, quando estava sentada no terraço ao sol, num ambiente aparentemente idílico e de vez em quando corria para a casa de banho para, entre contracções, expulsar o que restava daquela gravidez; depois voltava ao terraço e ligava para a TAP a desmarcar os voos que seriam para aquele dia, se tudo tivesse corrido bem;
  • lembro-me do teu olhar de desespero naquele corredor do hospital quando se confirmou que a segunda gravidez tinha chegado ao fim, lembro-me de chorarmos juntos; sei que até hoje aquele corredor te traz más memórias, embora depois do menos bom já lá termos passado momentos de alegria (e outros sustos, é verdade);
  • lembro-me da foto que tirei ao cisne, enquanto caminhava para me libertar dos maus momentos que tinha acabado de viver - o fim da segunda gravidez - e de ter pensado que o cisne estava com ar de fénix, e que eu também iria renascer;
  • e, obviamente, não me esqueço da sensação que tive antes do teste de gravidez, aquela estranha certeza de que estava grávida e que se veio a confirmar; a intuição andou certeira em 2014, sempre achei que seria um menino e é mesmo.

2014 levou-nos a muitos sítios, inicialmente a dois, e depois já a três. Está prometido que assim que o M. for crescido o suficiente o vamos levar ao sítio onde duas células deram origem a uma que não mais parou de se multiplicar, e vamos levá-lo também a Macau que, no meio duma suposta brincadeira, acaba por ter um significado especial para os três.

2014 juntou-nos para sempre, num casamento só a dois. O nosso casamento foi aquilo que para mim um casamento deve ser: um compromisso de união para sempre, sem aspectos acessórios sem interesse nenhum. O nosso casamento fomos nós, mais nada nem mais ninguém. 

Faltam 10 dias para 2014 terminar e ainda há tanto para acontecer.

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