17.12.14

do que ficou lá atrás

Só houve um momento neste percurso em que me virei completamente do avesso com Ele. Estava grávida pela segunda vez com a nítida sensação (e algumas evidências) de que algo não estava a correr bem, e que o mais certo era a gravidez ter o mesmo fim infeliz da primeira. Ele disse-me que se tentava concentrar noutras coisas para não estar constantemente a pensar no mesmo, e que eu devia fazer o mesmo. Foi a gota de água. Sei bem que foi dito com boa intenção, mas a verdade é que tudo se passava no meu corpo. Eu é que sentia as mudanças, eu é que desesperava de cada vez que ia à casa de banho e via uma gota de sangue. Para mim era impossível desligar do que se estava a passar porque eu não podia ignorar os sinais evidentes de que algo parecia não estar bem. Naquele dia tentei engolir a fúria, mas não consegui. Sempre tive noção de que a gravidez é, obviamente, vivida de forma muito diferente pelo pai e pela mãe. Mas naquele dia ser-me dito que era possível centrar-me noutro assunto e ignorar o que se passava teve, para mim, proporções avassaladoras.

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