22.12.15

as teorias da maternidade 1

Vir a Portugal é ouvir pérolas quase que diariamente (se morasse cá ou teria já perdido a pouca sanidade mental que ainda me sobra ou teria saltado de uma ponte, não me ocorre terceira opção).

- Dei duas tesouradas à franja do miúdo que ele já tinha o cabelo quase dentro dos olhos.
- Mas não pode cortar o cabelo do bebé antes de completar um ano ou depois o bebé não cresce!

Salta-me a tampa interiormente, mas peço que me explique a relação entre o corte de cabelo e o bloqueio no crescimento do petiz.

- Ah, estava a brincar...

E meia dúzia de segundos depois:

- Cortaram o cabelo ao não-sei-das-quantas ainda ele não tinha um ano e parou de crescer. Tiveram que o passar por baixo do andor do Santo não-me-lembro-do-nome-do-raio-do-santo para voltar a crescer.

Eu, já sem paciência nenhuma:

- Ah, pronto, se passar por baixo do andor reverte a situação temos o problema resolvido.


1 ano de Miguel

Há 1 ano era mãe há poucas horas. Nunca tinha mudado uma fralda e o meu contacto com bebés era igual a nenhum. Ainda assim, e talvez fruto do meu risco pelo abismo, o que me apetecia mesmo era pegar naquele recém-nascido de 3 quilos e ir para casa viver o Natal com deve ser. Tive que esperar dois dias e às 8 da noite do dia 24 entrámos a casa a três. E tudo mudou. Não vou dizer que foi tudo fácil e cor-de-rosa porque não foi, ainda hoje me estou a adaptar à nova realidade. Mas também não é o bicho de sete cabeças que às vezes nos querem dar a entender que é, ou não estaria agora grávida de novo (sou uma inconsciente e não faço ideia nenhuma daquilo em que me estou a meter, essa é que é essa!).

Ainda não acredito, um ano?

16.12.15

até já, em Portugal!

Vamos para Portugal sem alterações na data prevista. Vamos quatro: três e um escondido. Pouco mais de dois centímetros e meio de gente que se inicia assim nas viagens de avião, nas viagens por outros países já se iniciou com poucos milímetros.

Os enjoos começam a atenuar, mas a maior parte da comida continua a fazer torcer-me o nariz. Acho que isto é coisa para se resolver em Portugal, com comida tradicional e com o Natal.

Tal como na gravidez do Miguel não vou fazer o rastreio do primeiro trimestre. Na próxima semana faço pela segunda vez o teste Harmony (fujo a sete pés de uma amniocentese quase certa, dada a minha idade e o meu histórico), e depois é esperar umas duas ou três semanas até haver resultados. Espero que o Natal e o ano novo não atrasem isto tudo, mas o mais importante é que os resultados não mostrem aquilo que nenhuma mãe quer ver, venham os resultados quando vierem. Com o relatório do teste virá também o veredicto sobre o sexo do bebé. Espero poder festejar a chegada de mais um rapaz ou da primeira rapariga, porque isso significará que os resultados não indicam nada de estranho e me permitem focar naquilo que é completamente acessório.

12.12.15

9 semanas!

Custa-me "comemorar" as 9 semanas sem um comprovativo de que chegámos efectivamente lá. Desta vez, como na vez anterior em que aqui chegámos, há um misto de alegria e desconfiança, uma amálgama de acreditar e de receio. Não sei se poderá ser de outra forma depois de nos perdermos pelo caminho 3 vezes. 

Haverá nova eco no dia antes de ir para Portugal. Admito que tenho algum medo de ficar em terra. Este também não seria um inédito. Na segunda gravidez abortei no dia antes da viagem e fui, naturalmente, proibida de voar. Desta vez a viagem tem um significado diferente. É Natal e o último Natal foi passado sem a família por perto, ainda que pelo melhor motivo que poderíamos ter. Este ano apetece-nos realmente pegar em nós e rumar a um Natal menos gelado no clima e na companhia.

Quero acreditar que esta semana pegaremos nas malas e irei, entre outras coisas, matar saudades do meu mar. A ver vamos.

11.12.15

nova fase

Já não é possível adiar mais o meu regresso ao trabalho. O Miguel começa a creche em Janeiro. Até ir para a pré-primária fui criada em casa pela minha mãe, totalmente dedicada a mim. Talvez por isso para mim tenha sido importante ficar em casa pelo menos até o Miguel completar um ano. Fazia-me confusão entregar um recém-nascido a alguém estranho. Tive a sorte de trabalhar num contexto que me permitiu ficar em casa este tempo todo, entre licença de maternidade e licença parental. 

Nos dois últimos dias fomos à creche, primeiro ter uma reunião com a directora, e no dia seguinte conhecer o espaço e as educadoras. Adorámos o espaço e as pessoas. Gostei particularmente do sossego e do silêncio, do espaço amplo, e de ter percebido que respeitam o ritmo de cada criança. Se antes de visitar a creche ainda estava de pé atrás por ir deixar de ter o meu filho comigo 24 horas por dia, esse receio sumiu quando o pus no chão e ele, sem medos nem angústias, gatinhou pela sala, começou a explorar os brinquedos e a seguir a única miúda que já caminhava. Começamos a adaptação em Janeiro e de acordo com a evolução logo se vê por quantas semanas irá apenas parte do dia.

8.12.15

8 semanas

As 8 semanas chegaram e a ecografia mostrou-me um embrião de pernas para o ar com o coração a bater forte. Pela segunda vez chegámos aqui. O receio não diminuiu, mas ultrapassámos mais um obstáculo. Continuo enjoada e juro que se não tivesse visto que era só um embrião começaria a achar que estava grávida de gémeos. Sim, eu sei que é suposto na segunda gravidez a barriga fazer-se notar mais cedo, mas bolas! Eu estou grávida de 8 semanas e estou mais pançuda do que na gravidez do Miguel com umas 16 ou 17 semanas. A continuar assim não sei onde irei parar, mas sei como lá vou chegar: a rebolar!

3.12.15

7 semanas e 5 dias

Ontem durante o dia a sensação de náusea deu-me tréguas. Vi a vida a andar para trás. Pensei de imediato que a maldição das 7 semanas tinha voltado a atacar. À noite os enjoos voltaram em força. Fiquei mais descansada enquanto lutava para conseguir comer alguma coisa ao jantar. Quase não consegui. Numa situação normal sou feliz alimentada a ovos e cogumelos. Ontem não consegui comer os meus adorados cogumelos gratinados com queijo. Tudo o que tenha um sabor mais acentuado faz com que o meu estômago dê meia dúzia de pinotes. Nesta fase sabem-me bem os sabores simples, pouco ou nada condimentados. O meu pequeno-almoço foram tomates-cereja, ovos mexidos e café com leite. Os tomates souberam-me bem, o resto nem por isso.

7 semanas e 5 dias e aparentemente tudo normal. Há esperança.

2.12.15

a árvore de Natal, o pequeno panda e as luzinhas

Temos árvore de Natal há para aí uma hora. A pequena criatura que habita cá em casa ainda não a destruiu, estou estupefacta! É certo que tentou comer algumas luzes, mas tirando isso, para já, tudo está sereno.

29.11.15

A semana

Entrámos na semana complicada, aquela que só por uma vez conseguimos ultrapassar. Espero, daqui a uma semana, poder dizer que pela segunda vez vencemos este obstáculo.

26.11.15

à 5ª gravidez é assim

Reacção da obstetra quando entrei no consultório: "A sério?" E riu-se. 

como estás?

Enjoada, ou porque acabei de comer ou porque tenho fome. Não consigo perceber onde acaba a sensação de ter acabado de comer meio leitão e onde começa a sensação de estar esfomeada por não trincar nada para aí há uns 15 dias.

Na verdade, apesar do desconforto, esta sensação de enjoo permanente deixa-me mais descansada.

24.11.15

6 semanas!

O dia da ecografia chegou finalmente. Para além de uma pequena esfera de células tive direito a ouvir um pequeno coração galopante. A semana em que habitualmente os sonhos caem por terra ainda não chegou, mas há que celebrar cada pequena vitória, independentemente do que virá. Hoje voltei a saber que tenho dois corações a bater dentro de mim, e há poucas coisas com um sabor mais doce que este.

tudo ou nada, como sempre

Trabalho de sonho, em destino de sonho (um cenário com águas límpidas azuis e transparentes, palmeiras e calor, muito calor), bate-me à porta numa altura em que me é impossível dizer que sim. Eu, grávida, sou uma espécie de bomba-relógio. Não posso arriscar percorrer meio mundo neste estado. E custa-me tanto, mas mesmo tanto, dizer que não a algo que queria com todas as minhas forças. 

17.11.15

esperar

Estou, mais uma vez, nesta fase da espera, já tão minha conhecida, mas nem por isso mais fácil. Da última vez custou menos. Estava de férias, mais distraída entre a piscina e os passeios. Agora estou rodeada de dias comuns, daqueles dias aborrecidos de Inverno, em que às cinco horas é de noite e em que o tempo, só por si, já parece custar mais a passar. Estou de novo nesta fase dos dias que não avançam e das semanas que ganham dimensões de meses. Da última vez, mais descontraída pelas férias e porque a última gravidez tinha sido bem sucedida, estava mais confiante. Marquei a primeira ecografia para a semana em que os sonhos costumam tombar. Sabia que independentemente do resultado nada poderia fazer para o alterar, de modo que decidi não ir a correr para o consultório. Não cheguei a ir a essa consulta. Não chegámos lá. Desta vez marquei a ecografia para a semana anterior à semana da prova de fogo. Falta uma semana e os dias parecem não querer avançar. Às vezes dou comigo a perguntar-me como é que voltei a estar nesta posição. Talvez seja loucura, talvez seja inconsciência. Não é fácil tornar a estar aqui, assim, sem saber para que lado penderá o prato da balança desta vez. Mas sei que estou no sítio em que é suposto estar. Uma semana, só falta uma semana.

13.11.15

é torcer, minha gente, é torcer!

Tanta, tanta coisa a acontecer, menos o blog.

O mais importante: o resultado do jogo ainda está em aberto. Sou doida varrida, eu sei. Torçam muito por mim nós.

10.10.15

ninguém o pára!

Depois de muito aperfeiçoar a técnica de gatinhar para trás, descobriu que a coisa também funciona para a frente. 

6.10.15

nunca irei entender

Mediante o panorama político actual não há grande voltar a dar: não voltarei a Portugal tão cedo. Custa-me especialmente pelos meus pais, mas não tenho alternativa. O problema deve ser meu, porque se uma parte considerável dos Portugueses quer que o país continue como está (já se sabe que vai piorar, mas façamos de conta que continuará igual) é porque a situação deve ser favorável. Estou fora do país há 2 anos e meio, deve ter melhorado muito entretanto e eu não me apercebi.

4.10.15

simbolismo

Ver os resultados das eleições e começar a fazer as malas para amanhã regressar a um país que não é o meu.

2.10.15

inspirar, expirar, estou quase a ir embora

Meia dúzia de dias em Portugal e bato palmas pela distância que normalmente me separa cá do sítio. O motivo resume-se numa palavra de cinco letras começada por S, terminada em A, e que pelo meio tem quase um ogre.

ainda sobre as eleições

A certeza de que os resultados ditarão a (im)possibilidade de um dia destes regressar.


Não entendo como é que famílias que vivem miseravelmente, que viram os seus emigrar, que não podem dar aos seus o que gostariam, têm como intenção manter a situação política actual. É algo que sempre me ultrapassou e agora que a situação é mais grave, mais difícil me é entender. 

1.10.15

Há dias saí de casa às 6 da manhã. O bebé estava a dormir. Entrei em casa passava das 9 da noite. O bebé estava a dormir. Nos 9 meses de existência do Miguel foi o primeiro dia assim. No dia seguinte quando o tornei a abraçar (com força redobrada para compensar a ausência do dia anterior) dei comigo a pensar que talvez a ideia de ter outro filho não estivesse totalmente de lado.

resumo dos dias

Em Portugal a saborear esta espécie de Verão fora de tempo. Sei que quando voltar a Itália voltarei também ao Outono, pelo que estes dias amenos me sabem a um bónus valioso. O bebé voltou a acordar de hora a hora durante a noite. Aguento-me bem durante o dia se dormir umas 2 ou 3 horas seguidas à noite, mas ultimamente é raro conseguir dormir uma hora de uma vez. Não me sinto cheia de sono, mas sinto o cansaço físico como nunca tinha sentido antes. Sei que ainda estou dentro dos meus limites e vou esticando a corda. Fui sozinha a Lisboa em trabalho. Podia ter dormido as 4 horas de viagem, mas fui incapaz de o fazer. Aproveitei para trabalhar, aproveitar cada minuto só meu sem interrupções. Foram 4 horas de silêncio e concentração que não sei quando poderei repetir. Estou a trabalhar num projecto interessante com o outro lado do mundo. Confirma-se que é isto que me dá gozo. É um trabalho útil para alguém, que sei ter impacto. Estou cansada de trabalhos de faz de conta que se arrumam em gavetas ou são usados em discursos políticos sem qualquer interesse ou consequência. Não vim nesta altura propositadamente para votar, mas fico feliz por estar cá neste momento. Penso que é a primeira vez que sinto verdadeiramente que os resultados destas eleições são fundamentais para o país e tenho um receio enorme que nada mude e tudo piore. Vou votar de forma que pode ser chamada de não útil. Não poderei votar de outra forma.

26.9.15

sábado, 7 da manhã, a trabalhar

O que acontece a uma workaholic a quem nasce um filho? Transforma-se numa workaholic com um filho.

Nos primeiros meses ainda pensei que a nova realidade (me) pudesse mudar, mas os hábitos falam mais alto.

22.9.15

começo de dia

A reunião por skype estava combinada para as 8 da manhã de cá (fim da tarde do lado de lá do mundo). Acordo às 7 e tal. Vejo o mail e tenho uma mensagem das 6 e pouco da manhã a dizer que podíamos começar a reunião quando eu quisesse. Lavo a cara a correr, nada de maquilhagem, visto uma camisola de malha, agarro no portátil e vou para a varanda para não acordar a família. Está frescote e chove. Skype ligado e uma mensagem a dizer que se tinha enganado nas horas, que falávamos às 8 e não às 6 da manhã. Vê-me ligada e começa a reunião. Eu às 7 e meia da manhã na varanda, de calças de pijama e camisola a fazer de conta que estou apresentável, e com chuva miudinha à minha volta. Do outro lado do monitor o dia quase a chegar ao fim, temperaturas altas e muito mar. Enquanto não posso estar do outro lado sou feliz assim.

egoísmo?

Talvez seja egoísmo, talvez seja perfeitamente normal. A verdade é que agora que me começo a sentir eu de novo, agora que me voltei a envolver em projectos que me agradam e que me fazem pensar que trabalhar pode ser mesmo um grande prazer, dou comigo a pensar se quero mesmo ter outro filho. Talvez esteja a ressacar destes 9 meses em casa num país que não é o meu, longe de tudo e todos. Talvez inconscientemente eu quisesse engravidar logo de seguida porque sabia que quando voltasse a sentir o sabor das outras facetas da vida não teria vontade de tornar a hibernar. O mais certo é isto passar-me em três tempos, mas hoje, no dia em que o Miguel faz 9 meses, sinto esta interrogação no ar.

14.9.15

consegui, consegui!

Supostamente estou em casa apenas a tomar conta do bebé. Mas, na verdade, divido-me em várias. Uma trata do Miguel, a outra escreve artigos e capítulos, há ainda uma outra que se candidata a tudo o que lhe parece relevante, e ainda há a dona de casa. Às vezes pergunto-me em silêncio se esta correria desenfreada em que vivo vale a pena. Depois há dias, como hoje, em que acordo e tenho uma resposta positiva a um tipo de trabalho que perseguia há algum tempo e só não dou pulos de contente porque tenho que ir deitar o pequenote e arranjar um esquema qualquer que me permita fazer efetivamente este trabalho e continuar a tomar conta da pequena criatura. Esta correria vale a pena, vale tanto a pena. Consegui, pá! Consegui! Sempre achei que o difícil era conseguir o primeiro contrato deste tipo e que a seguir seria bem mais fácil conseguir mais. Agora vou poder testar! Oh yeah!

10.9.15

3-1, resultado que espero não ser o final

O primeiro aborto surgiu do nada, de forma inesperada, tão inesperada quanto a primeira gravidez. Depois de saber que estava grávida nunca pensei que poderia abortar. Claro que conhecia casos de mulheres que tinham passado por isso, mas para mim, nessa altura, esses casos eram excepções que não me mereciam atenção nem preocupação. Depois veio o balde de água fria. Desfizeram-se os sonhos e os planos. Eu, que nem era suposto engravidar, imaginei que o meu acaso improvável e feliz tinha terminado desta forma e o mais certo era nem se vir a repetir. Ainda assim não pensei duas vezes para voltar a tentar. Recordo-me que na mesma consulta em que a ecografia me mostrou um coração que já não batia, perguntei quando poderia voltar a tentar engravidar. Acho que eu própria me surpreendi com a pergunta e acho que foi ali que percebi que queria engravidar. Ironias do destino, descobri que gostava de ser mãe no dia em que descobri que a gravidez tinha deixado de evoluir. Assumi que este tinha sido um acaso infeliz e segui em frente.

O segundo aborto congelou-nos as esperanças e colocou sobre nós a nuvem negra do medo. Receio de que algo nos impedisse de ter filhos. O segundo aborto dói tanto como o primeiro. Não há o factor surpresa que há da primeira vez, mas já não há como achar que tivemos azar. Ter azar duas vezes seguidas é demasiado azar junto.

O Miguel fez-nos olhar para traz com outros olhos. Podíamos efetivamente ter tido muito pouca sorte das duas primeiras vezes. Afinal as dezenas de análises e testes que fizemos não encontraram nenhum motivo para as duas perdas sucessivas. Ou talvez eu tivesse algum problema menor, não detectado, que a cardioaspirina, tomada religiosamente desde o início até quase ao final da gravidez, tivesse resolvido. 

O terceiro aborto não surgiu do nada, sempre houve uma ténue sombra que se reflectia em "ses" quando pensávamos no futuro. "Se tudo correr bem." Mas, na verdade, não queríamos desperdiçar muito tempo com essa possibilidade. Já tínhamos o Miguel, por que haveria de correr mal desta vez? Mas correu. A cardioaspirina não foi a solução. O terceiro aborto mostrou-nos que se calhar não tivemos azar das duas primeiras vezes, mas tivemos antes muita sorte na terceira. Temos connosco um bebé vivaço e sorridente e isso faz-nos ver a realidade com outros olhos, mas o terceiro aborto doeu tanto como os anteriores, ainda que de forma diferente. Como já disse antes, depois de se ter um filho sabemos o que estamos a perder. Esta foi a primeira vez em que parei para pensar se queria continuar a tentar engravidar. Agora estou claramente a perder o jogo e imagino que o mais certo é a minha desvantagem aumentar. Ainda assim o meu gosto por correr riscos não se perdeu. Façamos figas e lancemos os dados.

a mudança dos ritmos

Tarefa importantíssima para terminar e um bebé para cuidar 24 horas por dia. Isto de não ter apoio familiar não é complicado quando o bebé tem 2 dias, é complicado quando o bebé já tem vários meses e nós queremos voltar a ter alguma vida. Convenço-me que só se consegue com muito jogo de cintura e muita habilidade para sermos o artista de circo que mantém vários pratos a rodar em cima de pauzitos sem deixar cair nenhum. A dada altura achei que não ia conseguir terminar este trabalho, que era impossível conseguir pensar, reflectir, tomar decisões e escrever enquanto troco fraldas, faço sopas, faço o aviãozinho porque não quer comer a sopa, passo horas a tentar adormecê-lo porque dormir é coisa que não lhe assiste alegremente. A poucos dias do prazo-limite posso dizer que superei a prova. É possível. Estava habituada a fugir do mundo durante dias, semanas ou meses e centrar-me no trabalho do momento. Agora trabalho na meia hora em que dorme, ou nos 10 minutos em que se distrai sozinho e à noite, depois de ele adormecer, quando já tenho os olhos semi-fechados. É outro ritmo, é todo um outro universo, mas é possível. Agora vou ali dar os últimos retoques no trabalho e ver se despacho isto de vez, para depois poder ter uns dias de paz e sossego para me dedicar à pequena criatura.

25.8.15

tudo é relativo

Não me recordo do nome do blog, mas lembro-me de há um ano ou dois me ter cruzado com ele. Eram relatos de uma mulher que tentou engravidar durante 20 anos. A dada altura conseguiu, mas acabou por abortar. Não desistiu, continuou a fazer tratamentos e 20 anos depois conseguiu finalmente ter uma filha nos braços. Perante casos destes o meu terceiro aborto, depois de ter um filho saudável, é nada. Eu consigo engravidar, mas tenho dificuldade em que o embrião se continue a desenvolver para além das 7 semanas. Mas, de uma forma racional, tenho todos os meses uma nova janela de oportunidade. Não preciso de tratamentos e isso é uma vantagem sem tamanho. Mas tudo é relativo. Engravidar para mim não é necessariamente sinónimo de vir a ter um filho, enquanto que para muitas amigas e conhecidas ver as duas riscas no teste é garantia de que passados 9 meses a família cresce. Tenho amigas que planificam tudo de modo a que o rebento nasça no mês X ou Y. Eu dar-me-ia por contente por engravidar numa altura qualquer e saber que a gravidez não teria um fim antecipado. Tudo é relativo e há situações que dificilmente conseguiremos entender até termos de as viver.

23.8.15

a 3ª vez

Já ter um filho não atenua a dor, mas diminui a ansiedade. Depois do primeiro aborto achei que tinha tido azar. Depois do segundo achei que seria demasiado azar seguido e a ideia de que poderia haver algo de errado connosco ganhou força. Seguiu-se uma gravidez com alguns sustos, mas um final feliz. Acreditei que tinha tido muito azar nas duas primeiras vezes, mas que poderia não ter passado disso: azar. Ao terceiro aborto deixei de acreditar no factor azar (talvez tenha começado a pensar que tive muita sorte por hoje termos o Miguel connosco). A verdade é que estar próxima dos 40 não abona a favor da qualidade dos meus óvulos e talvez o meu historial não seja assim tão estranho. Mas é certo que há muitas mulheres da minha idade que engravidam sem problemas, assim como é verdade que há muitas mulheres mais novas que lidam com o mesmo tipo de problemas. Voltamos ao factor sorte/azar aos olhos do comum mortal, como eu.

A dada altura tive vontade de fazer de novo a análise à HCG (a ausência de sintomas andava a fazer-me espécie), depois pensei de novo e achei que estava a ser um pouco paranóica. O mais certo seria nessa altura os valores já não serem os mais normais para a fase em que estava. Na prática ter repetido essa análise e ter obtido um valor preocupante só me deixaria ansiosa sem poder fazer absolutamente nada. Conheço bem esta fase inicial da gravidez e sei que não há curas milagrosas, nem há como evitar um aborto que se adivinha. Por esse motivo não corri para o hospital quando percebi o que se poderia estar a passar. É também nesta forma de agir que me sinto menos ansiosa e muito mais ponderada. Há situações em que não adianta ser control freak, e esta é claramente uma delas.

22.8.15

3-1

Este é um jogo que já não posso empatar nem ganhar. O terceiro aborto bateu-me à porta na já muito minha conhecida sétima semana. Estas 7 semanas passaram mais depressa do que as 7 semanas das gravidezes anteriores. Desta vez tive um bebé de quase 8 meses a ocupar-me todos os minutos dos dias. A dada altura dei comigo a pensar "Oh diabo, estou na semana fatídica", mas o pensamento não foi muito além disso porque a falta de tempo não o permitiu. Até que se tornou impossível ignorar que estava na tal semana. 

Quatro gravidezes: um filho e três abortos.

Pela primeira vez dou comigo a pensar que não sei se quero continuar a tentar engravidar. Não sei se me apetece correr o risco de voltar a chegar à sétima semana e voltar ao ponto de partida. Não ponho a ideia totalmente de parte, mas não tenho a postura que tive nas perdas anteriores, em que sabia que assim que pudesse voltaria a tentar.

Não tinha pensado sequer como seria a reacção a uma perda depois de já ter um filho, mas teoricamente imaginei que deveria ser mais fácil. Não é. Não é uma dor maior nem menor, é uma dor diferente. É a dor de se saber exactamente o que se perde, de já ter imaginado isto e aquilo não a três, mas a quatro, e já com conhecimento de causa e experiência. É a dor de planos desfeitos, como foi de todas as vezes.

16.8.15

Maio 2013 | Hoje

Estávamos em Maio de 2013 e a última coisa em que pensava era em ser mãe. Pensava em viagens, pensava no emprego novo, pensava no que aconteceria connosco quando mudasse de país, pensava em como seria viver uma vida nova num país novo. Não poderia imaginar que a tal vida nova que me esperava incluiria mini-pessoas e desejos que não sabia existirem em mim. Em Maio de 2013 tinha chegado há poucos meses de uma viagem alucinante do outro lado do mundo, tinha passado o ano no calor do Cambodja e poucas horas depois passeava os braços destapados nos muitos graus negativos da China. Em Maio de 2013 já tinha decidido que o meu amor por Timor ficaria em standby e tinha a certeza que tinha tomado a decisão certa. Tinha razão, mas por motivos que não poderia imaginar.

Em Maio de 2013 era só eu, era uma pessoa no singular. Hoje somos três, com perspectivas de virmos a ser quatro. Hoje não há viagens loucas decididas em cima do joelho. Hoje há decisões muito pensadas a dois, mas pensando nos três (ou quatro). Hoje o meu sono é interrompido inúmeras vezes por noite e a cada manhã sou brindada com o sorriso mais bonito e sincero. Hoje sou muito diferente de quem era há dois anos e tal e sou feliz de uma forma muito diferente.

14.8.15

quase 7 semanas

Sintomas é coisa que não abunda por estes lados, a não ser o cansaço no degrau acima do habitual. De resto nada de nada. Não sei se está tudo bem ou tudo mal, porque consulta só daqui a pouco mais de uma semana. Os obstetras, não obstante a minha gravidez, decidiram ir de férias, que grande lata! Já me passou pela cabeça inventar uma desculpa qualquer e ir ao hospital só para ver se há embrião com batimento cardíaco. Poucos segundos depois a pessoa equilibrada que sou normalmente baixou sobre mim e mandou-me ter juízo e bom senso. Durante as gravidezes anteriores tornei-me cliente habitual das urgências do hospital cá do sítio e sempre fui atendida de forma célere. Isto também porque não havia lá grávidas com desculpas esfarrapadas para fazerem uma ecografia. De modo que se não há evidências para preocupação não vale a pena inventá-las. Esperarei mais uma semana para saber que novidades esconde o meu útero.

Deve ser dos meus olhos (aliás, espero que seja dos meus olhos!), mas acho-me mais pançuda!

7.8.15

os testes de gravidez

Dois anos e muitos poucos meses e vou na quarta gravidez. A gravidez actual tem um pouco da primeira: não surgiu tão inesperadamente como a primeira, mas foi uma grande surpresa. Só fiz um teste de gravidez, tal como na primeira, e já numa altura em que não havia grandes dúvidas.

Na segunda e terceira vezes fartei-me de fazer testes de gravidez. Acho que posso dizer que era aquilo que vejo frequentemente designado nos fóruns internacionais como POAS addicted (pee on a stick!). Da segunda vez aconteceu algo que me deixou alerta (e depois vim, infelizmente, a confirmar que com razão): depois de 4 ou 5 testes de gravidez, feitos diariamente, em que a linha ia ficando mais escura, a linha deixou de escurecer. Li muito sobre isto e tentei acreditar que os testes só nos dão uma indicação qualitativa (ou seja, ou há HCG no organismo e estamos grávidas - linha rosa, ou não há HCG, não estamos grávidas e não aparece linha nenhuma), como li em muitos sítios. Mas continuava a achar estranho que à medida que a concentração de HCG aumentava, a linha não ia ficando mais escura. Não precisei de muitos dias para perceber que a linha não ficava mais escura porque os meus valores de HCG tinham deixado de aumentar.

Ainda guardo o teste de gravidez que fiz na primeira gravidez (foi feito tão tarde que a linha de controlo é mais clara que a outra!) e todos os testes que fiz da gravidez do Miguel: uma sucessão de testes feitos todos os dias em que se vê claramente a linha rosa a escurecer. Não sei porque os guardo, mas sou incapaz de me separar deles. Ou melhor, talvez até saiba porque os guardo: o primeiro foi a descoberta não só da minha primeira gravidez, mas foi mais que isso, foi a descoberta de que eu conseguia engravidar, apesar de tudo indicar o contrário. Os testes que fiz na gravidez do Miguel lembram-me aquela fase de receio e incerteza, mas com um final feliz, e as histórias com final feliz merecem que todos os seus momentos e detalhes sejam guardados.

Desta vez fiz apenas um teste. Primeiro nem a linha de controlo aparecia, achei que o teste não estava em bom estado. Pus o teste no bolso da carteira e umas horas depois encontrei duas linhas feitas de esperança.

os 7 meses e algumas semanas do Miguel

Descobriu já em Portugal que gosta de comer. As primeiras vezes que comeu sopa e fruta correram bem (talvez pelo efeito novidade), mas depois tudo se complicou. Fazia cara feia, fechava a boca, cuspia e era muito difícil que comesse alguma sopa. Com a fruta foi tudo muito mais simples, mas a sopa foi um pequeno suplício. Durante as férias, num novo ambiente e rodeado de pessoas novas, ganhou o gosto a comer. Começou a comer muito mais (muitas vezes de forma sôfrega), seja sopa, fruta ou papa.

Continua a não gostar de estar de barriga para baixo, mas já vai ficando nesta posição alguns bocados sem reclamar. Para já gosta mesmo é de estar sentado. Senta-se na perfeição, abana-se, salta sentado e não cai. 

Noto que desde que viemos para Portugal está mais atento a tudo e todos, nada lhe escapa. Vira constantemente a cabeça para ver quem chega e quem está a falar. Começou a dizer "da da da" e tem 3 dentes já bem visíveis.

6.8.15

5 semanas e poucos dias

Esta deve ser a maior loucura da minha vida, e consigo contar várias de dimensão razoável! Continuo pouco consciente da nova realidade. Preciso de mais tempo para enraizar a novidade que, a correr bem, virará as nossas vidas de novo do avesso.

Porque na segunda gravidez tudo começou a correr mal logo de início, e tenho quase a certeza que se tivesse feito análises à HCG na altura teria percebido de imediato que o desfecho nunca poderia ser feliz, desta vez fui mesmo fazer esta análise por iniciativa própria. Valores de HCG medidos num dia e medidos de novo após 48 horas. Aparentemente tudo OK, os valores duplicaram como é normal nesta fase. As 7 semanas continuam a provocar-me algum receio, mas a verdade é que agora não me sobra tempo para nada, o que acredito que fará com que o tempo passe com muito mais ligeireza. Agora estou de férias, mas daqui a poucos dias voltarei a ser mãe a tempo inteiro do pequeno panda. Para além disso terei vários trabalhos exigentes para fazer em casa, quando ele me permitir, de modo que não há tempo para devaneios.

Se tudo correr bem tenho mil e uma coisas para re-equacionar, tenho que me re-formatar para uma realidade a quatro, tenho que ultrapassar receios e esclarecer dúvidas, mas ainda tenho muitos meses pela frente.

Esta é a maior loucura da minha vida, mas eu quero muito que se concretize.

2.8.15

as duas riscas... de novo!

Disse há uns tempos que gostava de engravidar de novo rapidamente. A verdade é que por diversos motivos esse desejo ficou esquecido. Convenci-me que o pequeno Miguel seria filho único como eu e o pai. Habituei-me à nossa realidade a três. Não foi imediato nem fácil, mas agora nós somos três e é nesse número que penso em todas as equações do nosso dia-a-dia. Andava tão embrenhada em trabalhos pontuais e nos preparativos para as férias que não me apercebi que algo andava sumido este mês. Até que um dia, em pleno sossego alentejano, nos poucos segundos que tive para mim, encostada no limite da piscina, se fez luz. Somei os dias, recordei ciclos anteriores. Este estava a ser demasiado longo, o que poderia não significar nada, já que depois da gravidez o meu corpo se transformou numa espécie de relógio ligeiramente avariado. Mas comecei a juntar a constipação sem motivo e as dores de cabeça vindas não se sabe de onde e não tive dúvidas. No dia seguinte fiz o teste e, sem surpresa, duas riscas bem visíveis a olharem para mim.

Estou grávida!

Não tomo o teste positivo como um sinal de uma gravidez de 40 semanas, porque o meu historial não mo permite. Tenho os pés assentes no chão, e estou preparada para todos os desfechos. Mas o mais relevante é que agora estou grávida. 

trabalhei fora de casa (2 dias, já é um ponto de partida!)

Em Portugal trabalhei dois dias inteiros fora de casa. Significa isto que trabalhei longe da pequena criatura que me preenche os dias. Ele ficou com o pai, e provavelmente foi isso que me sossegou e me fez estar aqueles dois dias efectivamente a trabalhar. Soube-me bem ser trabalhadora, para além de mãe. 7 meses depois a vida continua, em todas as suas dimensões.

19.7.15

voltei ao meu estado normal

Não sei como cheguei a este ponto, mas a verdade é que apesar de estar em casa, supostamente sem trabalhar, estou cheia de trabalho. Tenho 4 dias para terminar uma série de coisas e mesmo depois disso, até Setembro, tenho muito com que me entreter. Se as coisas corressem pelo melhor (ou pior, se pensar no tempo livre que não tenho) até Outubro seria um fartote de tarefas novas, desafiantes e daquelas que ficam bem no CV. Continuo a roubar tempo às noites e, às vezes, a acordar como se tivesse sido atropelada por um camião, mas é mais forte que eu. Confirmo que o meu ideal de vida não seria ser mãe a 100%, mas seria poder estar 100% do meu tempo com o meu filho e poder trabalhar a partir de casa. A maternidade anestesiou-me durante uns meses, mas agora voltei ao meu estado normal.  Desconfio que estou a trabalhar mais do que se estivesse no meu trabalho habitual, com o pequeno pormenor de agora ter um pequeno ser que me merece grande parte do tempo e da atenção. É possível, inspira, expira, é possível!

15.7.15

cão ou gato?

Eu sei que há por aí umas redes para pôr pedaços de comida dentro para os bebés poderem comer sem haver o perigo de se engasgarem. Entendo as vantagens da coisa, mas aquilo parece-me um bocado contra natura. Talvez seja demasiado descontraída, mas eu sou por lhe pôr pedaços de comida na mão e deixá-los explorar os alimentos em todas as suas vertentes. Assim, mal o puto pode comer glutén comecei a pôr-lhe pedaços de pão na mão. Até agora tudo tem corrido bem. Tudo, salvo seja… Estou a ponderar arranjar um cão ou um gato para me resolver o problema documentado na foto abaixo.

Itália, as transportadoras e eu

De novo a longa saga das transportadoras italianas…

Comprei uma Bimby, aliás, paguei uma Bimby. Já vos explico o resto.

Tinham-me feito a demonstração em Portugal já há uns bons anos. Na altura não fiquei nada convencida, mais pela falta de jeito da vendedora, do que pelo desempenho do robot. Na verdade na altura vivia sozinha e não precisava de uma Bimby para nada. Agora também não é nada que me seja essencial, mas é um robot, tem botões, e é sabido que os homens gostam de maquinetas com botões. O de cá de casa não varre com vassoura, mas se for para aspirar não lhe custa nada. Há que juntar tecnologia às tarefas domésticas e é ver o sexo masculino a juntar-se às lides da casa. Pois que eu estou a precisar de ajuda na cozinha e o homem cá de casa foge a 7 pés do fogão. Compre-se uma Bimby para que ele se mexa. Homem convencido, robot pago e diz a vendedora que a entrega é feita por transportadora umas 6 a 8 semanas depois do pagamento recebido. Isto é maquineta para ser muito requisitada e não as há assim disponíveis do pé para a mão. Seja. Imaginei-me a fazer papas para o puto no dito aparelho e pesquisei receitas para nós. Passaram-se 3 meses e nada. A transportadora diz sempre que até ao final da semana entrega, mas até agora não chegou nada cá a casa. Pronto, já não quero Bimby nenhuma, resigno-me às actividades solitárias na cozinha e agradeço que me devolvam o dinheiro. 

Já disse que Itália me cansa?

isto passa, não passa?

Há uns tempos o mini-panda dormiu várias noites seguidas sem interrupções. Nós sorrimos, dormimos tudo o que conseguimos e pensámos que a saga do acordar a meio da noite estava a terminar, ou tinha já terminado. Um amigo com experiência nestas lides riu-se e disse-nos para esperarmos pelos 6 meses. Nós achámos que ele se estava a meter connosco e ignorámos. Pois que agora o que nos ocorre é perguntar-lhe quando é que esta fase miserável que estamos a viver acaba. Aos 3 meses o puto dormia a noite toda ou acordava uma ou outra vez e agora, ultrapassados os 6 meses, nunca nos levantamos menos de 5 vezes por noite. Batemos o record há poucos dias quando nos levantámos 11 vezes na mesma noite. 

Está um calor a rasar os 40ºC, o que só por si já me deixa em estado semi-vegetativo. Agora juntemos a isso alçar o rabinho da caminha uma meia dúzia de vezes por noite. Sim, esta que vos escreve não sou bem eu, mas uma espécie de 50% de mim, que a outra metade partiu para parte incerta e desconfio que tão cedo não regressa.

12.7.15

eu agora

Tenho dificuldade em distinguir as consequências da maternidade e de ser emigrante. A primeira gravidez aconteceu exactamente na altura em que saí do país, o que dificulta perceber qual é  causa de quê. Bom, isto também não é propriamente o topo das minhas preocupações. A verdade é que mudei, que me tornei mais tolerante e menos explosiva, que comecei a relativizar o acessório, que deixei de perder tempo com o que não é relevante, que comecei a valorizar algumas coisas que antes ignorava. Mudei de país, mudei de contexto de trabalho, fui vítima de assédio sexual e moral, casei, fui mãe, muito estranho seria se me mantivesse igual.

11.7.15

não foi fácil, mas está feito

Tarefa do post ali de baixo terminada. Corpo dorido a queixar-se das poucas horas de sono dos últimos dias. Se consegui fazer isto nos minutos em que o mini-panda dormiu, consigo fazer tudo. É que o rebento nos últimos dias decidiu reduzir as sestas ao mínimo dos mínimos e eu vi a vida a andar para trás e o prazo limite a andar para a frente em passo de corrida. Está feito.

Agora vamos lá ver se aproveito o ritmo dos últimos dias e avanço com o livro do blog que está para ali a ganhar pó no fundo de uma gaveta.

10.7.15

dormir, essa actividade sobrevalorizada

Digo eu um ou dois posts abaixo que trabalho só no próximo ano e agora venho para aqui queixar-me porque ando a deitar-me às tantas para terminar uma tarefa que me comprometi a fazer. Parece contradição, mas não é (é a minha vida no seu estado habitual de normalidade, ou de falta dela!).

Há umas semanas (meses? a minha noção do tempo anda um pouco tremida) convidaram-me para fazer um trabalho engraçado. Engraçado não é bem a palavra certa, mas digamos que é um trabalho que fica bem ter no CV. Bom, vai daí fiz de conta que eu era o eu de há um ano e disse que sim feliz da vida. Na verdade não me esqueci que agora cá em casa mora um bebé, mas achei que por esta altura a pequena criatura já seria relativamente independente e me deixaria trabalhar alegremente. Pois que o moço com 6 meses e tal parece que ainda não come sozinho nem prepara as suas refeições, não vai sozinho para a cama, quer companhia para a brincadeira e quer passeio no exterior. Quer isto dizer que o meu tempo para trabalhar é bastante reduzido (basicamente quando o pequenote dorme, e há que agradecer aos céus por finalmente o rebento fazer umas sestas decentes) e resta-me ir roubar tempo aonde me é possível para concluir o raio do trabalho que aceitei alegre(e inconsciente)mente: pois que se dorme muito pouco por estes lados nos últimos dias. Isto já não era novidade porque a mini-criatura anda a acordar de hora a hora (às vezes mais), mas agora para além disto deito-me de madrugada. Houve uma altura na minha existência em que eu punha a vida em standby, vestia o pijama, punha a música a tocar e trabalhava o que tinha que trabalhar sem distracções. Pois que agora a minha vida tem fome, tem sono e precisa de mudar a fralda, o que me impede de repetir o procedimento antigo. Isto amanhã tem que estar pronto e depois durmo daqui a uns anos hei de pôr o sono em dia.

4.7.15

adeus com tempo e detalhe

A maioria das minhas decisões é pensada com tempo, embora muitas vezes pareça não ser assim. O "sim", o "não" ou o "vamos fazer isto" podem parecer aparecer de um momento para o outro, o que não significa que não estivessem a ser fermentados há dias, semanas ou meses. Nisto de ir ou voltar preciso de tempo. Preciso de me sentir segura do caminho a seguir. Preciso de me despedir dos sítios, de fazer uma espécie de luto e dizer adeus muitas vezes. Preciso passar nos sítios e absorver cores, detalhes e formas e respirar fundo, porque se foi aquela a última vez que lá passei, já levo comigo tudo o que queria levar. Apercebi-me há dias que me ando a despedir de Itália há já algum tempo, ainda que não tivesse noção de que o estivesse a fazer. A minha experiência italiana tem partes difíceis e muito más, mas Itália será sempre o país onde confirmei o amor e tive o meu filho. Itália merece um adeus com tempo. Não sei quando partirei, mas a despedida já anda a ser feita.

28.6.15

ficar em casa até a mini-criatura ter 1 ano

Pesámos vantagens e desvantagens a vários níveis e chegámos à conclusão que me parece sabermos desde o início que seria esta: vou tentar ficar em casa com o mini-panda até ele ter 1 ano. Agora é preciso que a hierarquia concorde. Lado complicado da coisa: o chefe mudou desde que eu vim para casa, o que significa que o chefe actual não me conhece de lado nenhum, o que pode não jogar muito a meu favor quando esta "estranha" lhe disser que quer ficar em casa até final do ano.

Esta decisão tem a forma de um rombo orçamental considerável, mas tem um sabor doce, tão doce, que não é possível para nós tomar outra decisão nesta fase. Agora é torcer para que o mundo penda para o nosso lado.

26.6.15

8 anos

Acho que foi a primeira vez que não me lembrei do aniversário do doutoramento. Passaram 8 anos no final do mês passado e à hora a que defendi a tese devo ter estado a tentar adormecer a pequena criatura (é o que mais faço durante o dia, dadas as longas lutas contra o sono do pequenote). 8 anos, valha-me Deus! 8! Estava com a vida pessoal virada do avesso. Escuso-vos aos pormenores, mas que bastariam para uma pequena comédia romântica (sem final feliz), bastariam! Ainda hoje me rio quando me lembro que separei dois marmanjos que decidiram chegar a vias de facto supostamente por minha causa. Devia tê-los deixado digladiar-se e assistir da bancada. Enfim, aquela já não sou eu.

coisas boas cá do sítio

O sítio onde vivo tem muita coisa má (as transportadoras e as entregas estão no cimo da minha lista de desgraças locais), mas há que admitir que também há coisas bem boas. Não vou falar dos gelados, vou passar logo para o lado mais sério da coisa: a saúde. Tenho razão de queixa de muita coisa, mas a verdade é que a parte dos cuidados de saúde funciona. Bom, o que se paga paga-se e muito bem (análises que em Portugal faço por menos de 10 euros aqui custam quase 100), mas os profissionais de saúde são competentes e atenciosos (a parte da simpatia é coisa rara na zona de Itália onde vivo). Durante a gravidez tornei-me cliente habitual do hospital cá do sítio e fui sempre atendida de imediato, nada de filas de espera. E agora o pequeno urso tem direito a pediatra gratuito escolhido por nós, disponível todos os dias da semana (se for preciso telefono de manhã e pouco depois tenho consulta), com excepção do fim-de-semana. Para o médico de família nem precisamos marcar, é aparecer e esperar uns minutitos. E também não se paga. Vá, nem tudo é mau!

25.6.15

a parede

Antes, quando morava na minha casa (aonde agora vou de visita e vou sentindo cada vez menos minha) sentia falta de uma varanda. Na verdade essa minha casa tem uma varanda minúscula onde devo ter estado uma meia dúzia de vezes, porque é mais um devaneio de arquitecto do que uma verdadeira varanda. Agora, em Itália, tenho uma varanda a sério (tive uma em cada uma das quatro casas onde já vivi desde que mudei de país), e sinto falta de algo que tenho e não tenho (sim, sim, isto anda bonito!). Queria uma parede para poder furar à vontade e pôr fotos das viagens e do mini-urso. Sim, tenho aqui duas paredes a piscar-me o olho e tenho umas molduras que comprei antes do bebé nascer e outras que se mudaram cá para casa já depois do nascimento. Tenho tudo, até berbequim, mas estas paredes não são minhas. Daqui a uns meses arrumamos as tralhas, pegamos em nós e vamos sabe-se lá para onde. Não me apetece furar as paredes todas para daqui a pouco tempo termos o trabalhão de tapar os buracos todos, tentar deixar tudo bonitinho, não acertar com o tom de branco e deixar as paredes às bolinhas brancas amareladas. Ainda antes do pequenote nascer agarrei-me ao berbequim e foi um fartote de furos: o quarto do mini-urso está furado tipo passador e ainda tem um vinil gigante. Meti na cabeça que o miúdo havia de ter um quarto mais ou menos normal, ainda que numa casa temporária. Nessa altura parece-me que ainda não tinha bem noção que o tempo por estes lados tem os dias meses contados. Ou então nessa altura não tinha tanta vontade de sair daqui, também é possível que seja isso. De modo que tenho ali fotografias e molduras à espera de serem penduradas, mas falta-me uma parede mais permanente.

raro momento caseiro de silêncio

Um dia e um momento atípicos: oito da noite e reina silêncio em casa. Dormem os dois. Sobro eu de olhos abertos e olheiras ainda mais acentuadas que o normal: o pequenote na noite passada decidiu acordar já não sei quantas vezes (não é forma de dizer, é que me perdi mesmo nas contas na madrugada, tantas foram as vezes em que os meus pés saltaram da cama e tocaram o chão). Ser mãe tornou-me menos explosiva e mais ponderada, apesar do cansaço. Antes disparava a torto e a direito se algo não me agradava. Agora raramente me queixo e quando isso acontece não é sob a forma de uma explosão vulcânica, fico-me pelo arremesso de uma única farpa certeira. Comecei a engolir os momentos de fúria e explosão quando estava grávida. Não me apetecia que culpassem as hormonas quando os culpados eram outros. Depois do Miguel se juntar a nós essa forma mais recatada de reagir apoderou-se de mim de uma forma suave. Não me apetece gastar energia com o que não a merece, é a conclusão a que chego. Não é uma resolução intencional, nem um ponto de partida, é uma forma intuitiva de valorizar o que é relevante. Tenho os meus momentos de fúria interior, em que em silêncio grito tudo o que me mói a alma, mas até agora esses gritos nunca chegaram a ecoar realmente. Ainda estou em processo de mudança (nunca se deixa de estar, certo?) e a tentar perceber o que quero e o que não quero e como lidar com decisões futuras. Continuo a não querer estar onde estou e a sentir que neste momento não pertenço a lado nenhum (parece que dois anos depois sou mesmo emigrante), mas ainda não encontrei o meu poiso futuro e isso neste momento provoca-me alguma angústia.  

marido em estado comatoso

Diz a Guilhim, e muito bem, que as mulheres são um bicho do caraças. Concordo com todas as minhas forças e hoje com um sorriso no rosto. No quarto ali ao lado tenho um marido em estado comatoso. Estive uns dias sozinha com o rebento e superei bem a tarefa. Ainda assim fiquei feliz quando ontem o vi entrar em casa, por todos os motivos e também porque isso significava ter uns minutinhos só para mim. Qual quê! Entrou-me porta a dentro um marido enjoado. Está ali metido na cama com ar de quem tem só mais meia dúzia de segundos de vida, mas já estamos nisto desde manhã. Decidi que o nem o pai morre nem a gente almoça não é para mim e almocei mesmo. De vez em quando ouço uns gemidos de sofrimento e depois segue-se o silêncio. Para confirmar se ainda respira tenho entrado no chat do FB e verifico que ou está ligado ou esteve há poucos minutos. Desconfio que não será grave!

6 meses

O pequeno grande Miguel fez 6 meses. Já passou meio ano desde aquelas duas horas em que descobri o que eram contracções, e desde aqueles 15 minutos na marquesa a fazer força até que o rebento fosse lançado no seu novo mundo. Tão pouco tempo e tanto ao mesmo tempo. Desde que descobri que estava grávida que o tempo deixou de ter um valor absoluto, tudo é muito e pouco, dependendo da perspectiva. O bebé passou do ovo para a cadeira do carrinho, ultrapassou os 9 quilos e os 70 centímetros e tem 2 dentes a espreitar. Parece-me crescido e enorme, embora aos olhos dos outros seja apenas um pequeno bebé. Já se senta e já me permite ter vida. Já voltei a escrever (coisas de trabalho) e já me meti em mais isto e aquilo (também coisas de trabalho). Os dias não chegam, estico as noites até onde posso e consigo. Descobri que era isto que idealmente faria: trabalhar a tempo parcial e poder dedicar-me ao Miguel a tempo inteiro. Parece que o mundo não é perfeito e que não poderá ser assim por muito mais tempo. Ainda não consigo conceber a minha vida com um bebé e a trabalhar o dia todo fora de casa. Sei que sobreviverei (não sobrevivem todas?), mas ainda não sei o que me vai custar. 

9.6.15

2 semanas

2 semanas num sítio diferente. Voltamos a Itália e o pequeno panda come melhor, consegue estar mais tempo acordado sem ficar resmungão, faz sestas maiores (louve-se o criador!), consegue brincar sozinho por alguns instantes, já quase se senta e já dorme sozinho no quarto dele. Mais 2 ou 3 idas a Aveiro e temos aqui um adulto!

8.6.15

dos reajustes

Duas semanas em Aveiro. Estive na minha casa, senti-me em casa em alguns momentos, noutros nem por isso. Há alturas em que me sinto a viver num acampamento de ciganos, e isso faz-me ter vontade de voltar a Itália. Em Itália temos a casa preparada para viver com um bebé. Em Aveiro tenho a casa que deixei há dois anos quando, sozinha, me mudei. Rio-me sempre que vejo no cesto da roupa suja roupa que lá deixei nessa altura. Que desmazelo, pensarão vocês. Eu vejo aquela roupa e sorrio, e propositadamente lavo a roupa mais recente e aquela fica ali a marinar. Se me perguntarem por que razão o faço talvez não saiba responder, ou talvez seja uma forma (parva, eu sei) de manter viva por mais uns tempos a pessoa que era há dois anos. Gosto muito da minha nova vida e gostava muito da anterior. Sim, tenho saudades de sair de casa à hora que bem me apetecia e fazer o que bem queria. Nesta ida a Aveiro descobri que já é possível sair de casa à hora a que antes saía, de máquina fotográfica na carteira… e com um carrinho de bebé. Aos poucos junto o melhor da minha vida anterior com o melhor da minha vida actual. Aos poucos reencontro-me ou encontro-me de novo, de uma forma diferente, mas é um processo difícil e nada imediato. Actualmente há tantas decisões a tomar, tantos prós e contras a pesar. Às vezes sinto que me falta uma hora de silêncio, só comigo, para respirar fundo e encontrar o caminho acertado. Não vale a pena sonhar com o que não terei, tenho de me habituar ao novo ritmo dos dias e continuo a achar que isso é o que mais me está a custar. Aos poucos chego lá, espero eu!


18.5.15

2 anos em Itália

Já vivi em 4 casas diferentes e perdi a conta ao número de viagens que fiz, fora e dentro do país. Vim para cá grávida sem saber e sem uma relação sólida. Entretanto a relação ganhou raízes e vários andares. Engravidei mais duas vezes. Casei-me. Tive um filho. Soube na primeira pessoa o que de animalesco tem um parto. Vim sozinha e agora somos três. Passaram só dois anos e eu sinto-me a viver outra vida, e sinto que o Eu de hoje é tão diferente do de há dois anos.

Sinto que o que Itália tinha para me dar já me foi dado (e, ao contrário do que supunha quando me mudei, nada tem a ver com trabalho), agora é tempo de seguir em frente.

há uns meses nem eu me imaginava a dizer isto

É a coisa mais improvável de ouvir vinda de mim, mas se pudesse, e apesar do cansaço, dizia adeus ao trabalho por uns anitos e dedicava-me a 100% à pequena criatura que agora dorme aqui ao lado. Em que ser me estou eu a tornar?

13.5.15

fato de apicultor precisa-se!

Ao segundo dia a pequena criatura descobriu como cuspir a sopa.

regresso a 2001

O portátil ficou sem bateria e quando voltou à vida acordou a 1 de Janeiro de 2001. Há várias vida atrás. Dei comigo a pensar quem era no início de 2001. Tinha acabado o curso há dois anos e tinha-me iniciado a dar aulas no ensino superior há poucos meses. Morava em Leiria e a minha paixão por São Pedro de Moel nasceu naquela altura. Tinha sido operada há pouco tempo e tinham-me dito que dificilmente poderia ter filhos. Era apaixonada por um amigo que continua a ser amigo e que nunca passou disso. Estava a começar a explorar o mundo da internet. Daí a pouco tempo haveria de passar horas e horas num chat (o meu único vício até hoje, felizmente superado há muitos anos) e aí iria conhecer duas pessoas que tiveram um papel fundamental na minha vida. Uma delas mantém-se na minha vida até hoje, apesar da distância e do afastamento, a outra sumiu. Houve alturas em que tive curiosidade em saber o que seria feito dele, hoje tenho mais em que pensar e com que me entreter. 

E agora vou regressar a 2015, que a minha realidade chama literalmente por mim.

12.5.15

o vento

O Miguel sentiu o vento na cara pela primeira vez no Domingo. Estava calor e uma brisa quente. Gostou da sensação: riu-se muito. Eu sorri. Nunca tinha pensado nestas pequenas grandes coisas: quando é que sentimos o vento pela primeira vez? Quando é que sentimos a chuva a molhar-nos pela primeira vez? Como reagimos? É um privilégio poder acompanhar todas estas primeiras vezes do meu pequeno ser.

já come

A pediatra recomendou começarmos a alimentação complementar ao quinto mês. Acaso dos acasos, no dia em que completa 5 meses vamos para Portugal. As rotinas vão ficar viradas do avesso. Achei que juntar sopas e frutas a uma altura já de si tão diferente não seria uma ideia brilhante. Segui a minha intuição: começou a experimentar os sólidos duas semanas antes do previsto. Estou a fazer isto de uma forma aparentemente pouco organizada, mas mais uma vez sigo a minha intuição. Ou talvez siga mais do que isso: li sobre as várias possibilidades de introdução dos sólidos e vou tentar seguir o caminho que me parece mais sensato. Para já só uma refeição diária de sólidos, o almoço. Começámos com fruta e hoje experimentámos a sopa. Para já não se fez de esquisito, embora pela expressão me pareça que a fruta (mais doce!) lhe conquistou mais as papilas gustativas. A seguir vamos experimentar uma papa caseira (vou tentar fugir às papas de compra). Assim que tiver mais desenvoltura nas mãos vou tentar dar-lhe pedaços de alimentos (maçã, cenoura, ...) para que possa explorar o alimento na sua totalidade. Já consigo imaginar o olhar horrorizado das avós a achar que a criança se vai engasgar e que a mãe é uma desnaturada! 

o terceiro e o quarto meses

Todas me disseram que o mais complicado eram as primeiras semanas. Eu acreditei e preparei-me mentalmente para o pior. Passou o primeiro mês e passou o segundo e eu dei comigo a achar que se o pior já tinha passado isto afinal não era o bicho de sete cabeças que me tinham pintado.

Errado, tão errado!

Talvez seja de mim que lido relativamente bem com a privação de sono, mas os primeiros dois meses não me custaram por aí além. O que eu não imaginava era que ao terceiro e ao quarto não ia conseguir fazer NADA DE NADA a não ser tomar conta do meu pequeno rebento. Passei a acordar menos vezes durante a noite, mas durante o dia a pequena criatura não estava sem chorar se não estivesse ao colo ou eu não estivesse a brincar com ele - atenção que isto não significa que ele não chorava se estivesse ao colo ou se estivesse a brincar! Ah, descansavas quando ele fazia as sestas!, diziam-me as iluminadas profundas da maternidade. Pois que não dormia, não! A pequena criatura não é dada ao sono e numa sesta daquelas mesmo boas dormia uns 15 minutos. Recapitulemos: não estou em Portugal, não tenho família nem amigos chegados por perto. Quer isto dizer que não há a quem deixar a cria nem que seja por meia hora (isto é assunto para outro post, mas entre não ter a quem o deixar e não ter que ouvir palpites a toda a hora a primeira ganha!, continuo muito feliz por estar longe). O terceiro e o quarto meses foram de uma exaustão profunda, sem tempo para respirar e muito menos para me dedicar a candidaturas a empregos - esta tarefa teve que ser adiada uns meses, parece que finalmente o pequeno Miguel decidiu colaborar na empreitada de deixar Itália o quanto antes.

Portanto, tudo é mesmo muito relativo. Os primeiros dois meses foram cansativos, mas os dois seguintes foram terríveis e houve alturas em que dei comigo a achar que não tinha sido talhada para isto. Acho que me disseram tantas coisas ruins dos primeiros dois meses que eu me preparei para viver uma catástrofe… que veio nos meses seguintes, quando eu esperava uma espécie de bonança. Agora, ainda antes do quinto mês, sinto que o mini-panda está um pouco mais autónomo, chora menos, dorme sestas mais longas e… rufem os tambores… até já me deixa escrever posts e concorrer a empregos! Talvez tivesse vivido estes meses de forma mais serena se não quisesse mudar de emprego e não stressasse de cada vez que deixava um prazo passar porque simplesmente não tinha tido tempo nem disponibilidade mental para me candidatar.

Escrevo-vos agora com ele a dormir no meu braço esquerdo. E agora… enviar uma candidatura! Torçam por mim, para que rapidamente o nome do blog possa mudar!

4 meses e tal

Há umas boas semanas o Miguel fez uma sestas mais longas e eu dei pulos de felicidade. Foi sol de pouca dura. Rapidamente voltou às sestas de 10 ou 15 minutos: uma desgraça para mim. Num quarto de hora não faço quase nada e, para além disso, tinha um bebé acordado quase o dia inteiro. E convenhamos que não é fácil entreter um bebé de 3 ou 4 meses durante horas a fio. O rebento sozinho chorava baba e ranho, tinha mesmo que ter companhia a interagir com ele sempre que estava acordado.

Agora, mais crescidito, parece que começou mesmo a dormir mais tempo seguido durante o dia, o que só traz vantagens. O rapaz dorme mais, logo acorda mais bem-disposto. Brinca sorridente e já vai estando alguns minutos entretido só a olhar em redor, mas especialmente a olhar para mim. Parece que ver-me a fazer as tarefas domésticas rotineiras é a sua maior fonte de entretenimento por estes dias. Ora, isto dá um jeitão, porque finalmente consegui começar a tratar decentemente das tarefas da casa.  Também já é possível sair de casa sem que o pequenote desate num pranto. Começo a vislumbrar uma possibilidade de vida compatível com a maternidade.

24.4.15

o segundo

São muito poucos os que sabem que estou a tentar engravidar de novo. Desses poucos devem sobrar 1 ou 2 que não me acham doida varrida. Uns acham que já tenho sarna mais do que suficiente para me coçar, os outros simplesmente não entendem. É verdade, nunca quis ter filhos. Aliás, sabia que dificilmente poderia ter filhos, de modo que foi algo que foi sempre colocado no fundo da minha lista de prioridades. Por outro lado, demorei muito a encontrar um homem que pudesse ser o pai dos meus filhos. Num golpe certeiro do destino dei comigo acidentalmente grávida com a pessoa certa. E a partir daí a minha vida nunca mais acalmou. Passei a ter uma vida muito mais agitada do que quando pegava em mim e viajava por aí. À terceira tentativa veio o pequeno Miguel e descobri que aquela pequena criatura que me condiciona os passos e me retirou liberdade, me dá muito mais do que me tira. Lá mais para o final da gravidez a ideia de alargar a família começou a fazer sentido para mim. A idade não me dá grande margem de manobra e, para além disso, não quero perder a minha liberdade de novo daqui a uns anos. Gostava de ter outro filho já, para que esta fase mais limitativa passe de uma vez só. Ter o primeiro não foi tarefa fácil, de modo que o mais certo é não haver segundo, mas não será por não tentar.

1 ano depois

Faz amanhã um ano que soube que o Miguel existia. Na verdade já tinha feito um teste no dia anterior, mas a risca era tão ténue que me escapou. Só no dia 25 quando vi uma espécie de sombra no teste voltei a olhar para o de dia 24 e vi o que no dia anterior me tinha passado ao lado. Ainda morava na casa junto ao lago. Subi as escadas e disse-lhe que parecia uma loucura, que a risca era muito muito clara, mas que estava lá. Tinha abortado no mês anterior. Ele ainda adormecido achou que era maluquice minha, que isto de ter passado por dois abortos em poucos meses me deveria estar a afectar. Não me disse nada disto, mas eu vi-o bem nos seus olhos. Tenho jeito para ler pessoas, nada a fazer. Virou-se para o lado e continuou a dormir. Não me lembro se continuei na cama se me levantei (se soubesse o que sei hoje teria ficado na cama a aproveitar cada segundo de sorna a que me podia permitir na altura). Sei que rebentei de felicidade por haver uma segunda risca cor-de-rosa e senti-me descansada por estar realmente grávida. Sentia-me grávida há já alguns dias. É estranho, não comentei com ninguém, não fossem achar que estava doida varrida, mas sentia-me grávida. E foi essa sensação de ter outra vida dentro de mim que me fez fazer o teste de gravidez uns dias antes do que era suposto. Um ano depois tenho um bebé de 4 meses em casa, noutra casa. Falta-me tempo e sobra-me felicidade e cansaço. 

Onde estarei daqui a um ano?

17.4.15

arranjou um amigo


corpo e mente

Quase quatro meses depois o balanço é o seguinte:
- menos 4 quilos e meio do que quando engravidei;
- nem uma estria;
- barriga no seu estado pré-gravidez.

Não é uma forma de me vangloriar de nada, são apenas constatações, porque engravidar não significa necessariamente dizer adeus ao corpo que se tinha antes. Tinham-me feito relatos tão medonhos quando engravidei que eu quase fiz o luto ao meu corpo. Suponho que a ausência de estrias é obra da genética e que os quilos a menos foram o lado positivo dos diabetes. 

Fisicamente estou bem e em equilíbrio. Mentalmente ainda me estou a adaptar à revolução que se deu na minha vida a partir de dia 22 de Dezembro. A vida muda mesmo radicalmente de um momento para o outro, e quatro meses não são suficientes para assimilar tudo e para me adaptar a todas as novidades. Ter o pequeno Miguel comigo é o maior e o melhor acontecimento da minha vida, mas as mudanças são tantas que é como se um tremor de terra tivesse abalado a minha vida. O retorno a um novo equilíbrio exige o seu tempo. Ainda estou em fase de adaptação ao novo ritmo da minha vida. Sim, continuo a querer engravidar o mais rápido possível, o que só significa que o sismo que se abateu sobre mim não causou grandes estragos, apenas alterou rotinas e prioridades.

16.4.15

sai à mãe, não é dado a meios termos

O puto não é de meios termos, ou bem que não dorme nada durante o dia (diz quem sabe que nesta fase deve dormir 5 horas durante o dia) ou bem que dorme horas e horas seguidas (e lá vou eu a toda a hora ver se respira).

Como bem se vê por ter tempo para vir ao blog, hoje é dia de dormir como se não houvesse amanhã!

9.4.15

Finalmente silêncio

Fomos a Portugal e regressámos ontem. Depois de tanto passeio e colo, a mini-criatura está insuportável: chora porque tem fome, chora porque comeu, chora porque tem sono, chora assim que acorda, chora deitado, chora sentado, chora com o brinquedo favorito. Conclusão: chora de qualquer maneira. Pego no puto, meto-o no carrinho e vamos lá passear até ao lago. Escrevo-vos sentada num banco de jardim enquanto a mini-criatura finalmente dorme! Sossego!

30.3.15

3 meses e tal

Rumámos a Portugal por uns dias. Custa-me escrever que são dias de férias, porque não os sinto assim. Tenho os dias ligeiramente menos pesados porque estamos a três, e não a dois como estou habitualmente durante quase todo o dia. Mas a verdade é que mantenho as tarefas de todos os dias, apenas com mais dois braços livres para dar colo à mini-criatura de vez em quando. Gostava de poder dizer que o pai da casa troca fraldas com cocó, veste o rebento, dá-lhe banho e não mo passa sempre para as mãos quando bolça ou chora, mas não posso. Mentir não é comigo.

A vida mudou sem volta no dia 22 de Dezembro. Deixei de ter tempo para mim. Passei a ter banhos com uns minutos contados, passei a jantar a desoras e passei a visitar sítios em função da presença ou ausência de fraldário. Há momentos em que é sufocante e de uma exaustão sem tamanho, mas, e lá vamos cair no lugar comum, vale tanto a pena. 

Já não sou de morrer de amores num abrir e piscar de olhos e assumo que me apaixonei pelo meu filho aos poucos. Foi extraordinário senti-lo pele com pele naqueles primeiros momentos, mas não senti aquele amor avassalador instantâneo sobre o qual tanto li. Esse amor chegou devagarinho e foi-se entranhando aos poucos. Pouco mais de 3 meses depois posso afirmar que  sou completamente apaixonada por aquela pequena criatura que me limita a liberdade e os movimentos. Por outro lado, e apesar de terem passado apenas 3 meses, aquele pequeno ser já me mudou sem possibilidade de voltar ao ponto de origem. Redescubro-me a cada dia que passa porque o tenho na minha vida. Mudou-me as prioridades e as vontades e torna doce cada segundo de cansaço. Para já é esta a minha definição de maternidade.

26.3.15

finalmente o dia chegou!


O bebé dormiu finalmente uma noite inteira. Ferrou no sono às 20:30 e deu sinal às 7:00. Eu fartei-me de acordar por achar estranho o silêncio da mini-criatura. Parece que ser mãe também é isto!

23.3.15

:(

Não é um pensamento feliz, mas é impossível não o ter. Olhando para o passado e para o presente sinto-me usada. Descobri-o há muito tempo e confirmo-o agora: os desgostos nas amizades doem muito mais do que os desgostos de amor. É como se a dada altura eu tivesse dado jeito como amiga e assim que virei costas tivesse deixado de ter interesse porque nada mais havia a ganhar com a manutenção do contacto. Ah, é efeito da distância... É efeito da distância uma ova! Mantenho contacto com outros amigos que estão longe, e que não têm filhos, nem pretendem vir a ter. Assim salvaguardo já a questão do ah, os interesses mudaram e agora não há pontos em comum. Ou se calhar nunca houve genuinamente interesses comuns. Bom, é a vida. Nesta fase já não me devia surpreender, mas de vez em quando o meu coração de Bambi vem à tona.

dias bons

2 convites excelentes numa semana: 1 fica bem no CV, o outro vai para além disso, é exactamente aquilo que me dá gozo e me enche a alma. 2 convites que me bateram à porta quando estou longe de tudo e todos. Às vezes a vida é simpática.

17.3.15

então e tu?

Eu? Tive outro teste negativo. Só vos digo que se algum laboratório me põe a mão em cima fico lá como cobaia.

o puto e as vacinas

Fomos às vacinas com o puto. Tinha lido testemunhos de outros pais e estava pronta para sofrer tanto ou mais que a criança quando a visse a chorar baba e ranho e a contorcer-se com dores. Pois que o rebento fez uáa uáa, pôs o seu melhor sorriso e terminou com um arrrr, som que faz quando está feliz da vida. Ficámos meia hora no centro de saúde, não fossem as vacinas provocar alguma reacção inesperada. Dormiu o tempo todo. Chegados a casa tudo normal: berra se não está ao colo, dorme feliz da vida no quentinho do colinho. Não são duas vacinas que derrubam um mini-urso.

16.3.15

testar o teste

Perguntava-me Ele, completamente perdido nesta gravidez que ora é ora não é, E se os testes não estão bons? Verifiquei a data de validade - tudo OK, e são do mesmo lote dos que usei na gravidez anterior. À partida  não seria esse o problema, mas tudo bem, testa-se o teste. Afinal havia outro no fundo da gaveta (no meio dos testes de ovulação - para quem desconhecia, sim, isto existe mesmo) e usei-o... com água. Informo que a água não está grávida.

há que ter muita paciência para aturar esta mãe


15.3.15

só a mim mais uma vez

Já não sei o que pense, se bem que o melhor é mesmo não pensar, bem sei. Ontem estive toda a manhã enjoada como um perú. Não me lembro de alguma vez ter estado enjoada assim, nem quando estive grávida. Pois que as ideias de uma mulher podem ser demoníacas e hoje de manhã dei comigo com o último teste de gravidez que ainda morava cá por casa desde a gravidez anterior (sim, compro de empreitada no ebay). E fiquei sem palavras, coisa pouco comum por estes lados: positivo, daqueles claros, sem ter que estar quase a encostar a tirita aos olhos para vislumbrar a segunda risca. É isto, teste positivo - teste negativo - teste positivo. Pés assentes no chão com clara noção de que isto de normal tem pouco e, logo, desfecho sem grandes alternativas. Mas há sempre aquela réstia de loucura e de esperança.

tentativa de regresso à normalidade - a verdade dos factos

Sim, conseguimos sair de casa a 3. O sítio ficava a uns 40 minutos de carro e desencantámos um fraldário, que acabou por não ser necessário. Na verdade estamos a descobrir que o puto não gosta de fazer cocó fora de casa (o que nos deixa verdadeiramente felizes). Já é a segunda vez que saímos de casa por umas horas e assim que pomos os pés em casa o rebento faz cocó até meio das costas. Cá p'ra mim vai ser daqueles seres estranhos incapazes de fazer o seu número dois em casas de banho partilhadas!

Bom, mas voltando à saída de casa. Saímos, mas para aí umas 3 horas depois do que era suposto. O rebento decidiu alimentar-se vagarosamente, demorou que tempos a arrotar e quando eu estava serenamente a tentar acalmá-lo (porque entretanto desatou aos berros) decidiu bolçar. Devia ter feito um vídeo, seria mais fácil de perceber. Decidiu bolçar como nunca antes havia feito, uma espécie de cena de filme de terror: várias golfadas generosas de leite com um alcance considerável. Resultado: fomos parar os dois de novo ao banho.

Depois desta cena assustadora saímos os 3 de casa para mostrarmos ao puto que a população do globo não somos só nós os dois. Pois que a mini-criatura não viu nada: fechou os olhos desde que entrou no carro e só os tornou a abrir já depois de estarmos em casa.

E foi isto. Confirma-se que quando sai à rua é o mais sereno dos seres, e quando está em casa tem , de vez em quando, ataques severos de mau humor. 

14.3.15

retomar a normalidade

Vamos hoje tentar retomar os nossos hábitos de fim-de-semana em Itália: pegar no carro e ir conhecer algum sítio relativamente perto, mas desta vez com um bebé com quase 3 meses acoplado. A ver vamos como corre. No fim-de-semana passado fomos pela primeira vez com o rebento a Milão e ele portou-se muito bem, nada de birras nem choros no carro, no metro ou na cidade. Estou a torcer para que repita a façanha. Espero que aos poucos consigamos voltar aos nossos velhos hábitos com ligeiras adaptações, como pesquisar fraldários antes de sair de casa (coisa que em Itália é pouco comum e que nos condiciona os passos).

Deus existe!

Esta noite só acordou uma vez às 3 e pouco da manhã! É certo que fez uma birra monumental e esteve acordado mais de uma hora, mas são agora quase 9 horas e eu estou a tomar serenamente um pequeno-almoço solitário no meio de silêncio. 

13.3.15

decisões alucinadas e morrer na praia

O bebé ainda não tem 3 meses e eu dei comigo a olhar para um teste de gravidez positivo. Acalmem-se os ânimos que eu avanço já com o desfecho: não estou grávida.

Ainda eu estava grávida e ainda longe de chegar ao fim da aventura e já cá em casa se falava de um segundo filho. Eu e Ele somos filhos únicos. Ele não gostou da experiência e defendia que o bebé que aí vinha não devia ser filho único. Eu admito que só já na idade adulta senti falta de um irmão. Ele muito a favor de um segundo filho e eu ainda sem saber muito bem se o primeiro chegaria mesmo. A verdade é que quando a meta da gravidez se começou a avistar a ideia de ter um segundo filho começou a fazer sentido para mim. Provavelmente isto aconteceu quando eu comecei a gostar de estar grávida e a desfrutar verdadeiramente do estado sem medos. Ainda antes do pequenote nascer a decisão estava tomada, apenas com uma condicionante: a minha experiência do parto podia fazer-me fugir a sete pés de uma segunda tentativa. Não foi o caso. De modo que, apesar de sabermos que poderia vir a ser uma empreitada difícil dado o meu histórico, decidimos que iríamos tentar... logo após a mini-criatura nascer. Ah, é uma loucura!, pensam vocês. Pois é, confirmo eu, mas eu tenho a vida preenchida de loucuras, por que não mais uma?

Achava eu que a obstetra me iria lançar um olhar lancinante quando lhe falasse sobre isto. Pelo contrário, mandou-me aproveitar o pico de fertilidade pós-gravidez. Coisa fácil de dizer, mas mais difícil de fazer quando se tem uma pequena criatura em casa que nos condiciona as energias, os passos e outros tipos de movimentos. Segundo a obstetra seria esperar o primeiro período após o parto e passar à acção. 

A verdade é que antes disso, o período ainda não deu sinal por estes lados, dei comigo a aperceber-me de sintomas meus conhecidos (já o disse e repito, isto de ter engravidado 3 vezes num ano deu-me um conhecimento profundo do meu corpo). Passou um dia, passaram dois e eu não resisti: teste de gravidez por descargo de consciência. Negativo, nada que me causasse espanto ou tristeza. Uns bons minutos depois pego no teste para o pôr fora e eis que lá vejo uma pequena sombra que olhando bem era uma risca cor-de-rosa do mais ténue que possam imaginar (mas ainda assim mais visível que a que encontrei no primeiro teste que fiz da gravidez do Miguel). Fiquei sem pio e sem movimentos. Poderia ser? Tive um filho há menos de 3 meses e ainda não tive período e tenho um testes com duas riscas cor-de-rosa à frente? Inspira, expira e decide fazer novo teste no dia seguinte. Teste esse que também me pareceu negativo, até que depois lá vejo uma risca ainda mais clara que a do dia anterior. Aqui não consegui guardar isto só para mim e falei com ele. Os dois espantados, mas serenos, e a antever o desfecho breve da história. Faço novo teste e morava lá uma risca solitária. Teste digital para provar que os nossos olhos estão a funcionar bem e "não grávida".

Na altura em que os abortos me bateram à porta li muito e li também sobre gravidez química. Neste tipo de gravidez há fecundação, mas a gravidez termina pouco depois. Muitos estudos referem que numa situação destas o ovo é libertado aproximadamente na altura em que se daria o período, pelo que grande parte das mulheres não se apercebe sequer que esteve grávida. Não sei ainda ao certo se foi isto que me aconteceu (caso tenha sido o período deve dar sinal de si nos próximos dias), mas a verdade é que tive um teste positivo que em dois dias se transformou em negativo, e não consigo encontrar outra explicação.

Diz-me Ele que nunca teve uma vida tão agitada como depois de se juntar a mim. É um facto que não faltam emoções fortes nos nossos dias, umas melhores que as outras. Há um ano esta situação deixar-nos-ia de rastos e a maldizer a sorte. Agora é claramente diferente. Temos junto a nós uma mini-criatura que nos preenche os sonhos e sabemos que, apesar de querermos ter um segundo filho, se este objectivo não for atingido a nossa felicidade não será ceifada, apenas não será aumentada. De qualquer forma fica um sentimento muito ténue de morte na praia.

8.3.15

2 meses e 13 dias

Duplicou o peso do nascimento. Temos uma pequena lontra com mais de seis quilos em casa.

Tenho escrito pouco. Ele cresce a olhos vistos e agora começa a haver novidades todos os dias - diz arrr quando está feliz e descobriu que pode tocar objectos com os pés, e eu tomo decisões aparentemente loucas, mas que a intuição me incita a tomar. Tenho os dias cheios de tudo o que não é fácil colocar em palavras. Um dia destes digiro tudo e volto a escrever diariamente.

4.3.15

como é que isto aconteceu?

É ainda estranho pensar em mim como uma mulher que tem um marido e um filho. É como se de um momento para o outro me tivesse tornado verdadeiramente adulta sem dar conta e sem saber muito bem como. 

1.3.15

2 meses


Passaram 2 meses e poucos dias desde que passámos a ser três cá em casa. Estás mais crescido e já deixaste de parecer um recém-nascido. Continuas a gostar de tomar banho na floreira, continuas a ter uma cabeleira que provoca comentários e tens agora umas bochechas rechonchudas que só apetece beijar. As tuas pernas deixaram de parecer pernitas esqueléticas de rã e as mãos são papudas. Estás mais independente. Dormes mais tempo seguido durante o dia, mas durante a noite é raro dormires mais de 2 horas seguidas (pobre de mim!). Começaste a sorrir. Continuas a não gostar da chupeta e és obviamente o bebé mais bonito que já conheci!

Eu estou bem e recomendo-me, mas não me importava de dormir um bocadito mais, ou pelo menos dormir mais algum tempo seguido. Isto de acordar de hora a hora (nos últimos dias tem sido assim) não é coisa que se deseje a ninguém. Mas isto é um pequeno pormenor, o que há a assinalar destes dois meses é o bom que é ter-te connosco, e a forma como sinto que me estás a mudar apenas por existires.

21.2.15

o melhor chá é italiano

Eu sei, é estranho. Estando em Itália esperava-se que eu me rendesse às pizzas, ao risotto, à pasta e à lasanha, mas a verdade é que foi o chá que me seduziu. Todos os chás da Blend Tea são fabulosos, mas o de amêndoa é uma espécie de néctar dos deuses. Parece que a sede da empresa fica a poucos quilómetros da minha casa, mas ainda não consegui dar com ela. Vou fazendo encomendas online, depois de, por mero acaso, há já mais de um ano, ter bebido um chá desta marca num café cá do sítio. Em Portugal fiquei surpreendida por os ver à venda na El Corte Inglès, já que em Itália não os encontro em lado nenhum. Felizmente existe a loja online, o que me deixa feliz agora e me continuará a deixar a deixar de sorriso nos lábios depois de ir de Itália sabe-se lá para onde.


mudanças

Nunca eu pensei dizer isto antes, mas se pudesse não voltava ao trabalho tão cedo. Sempre imaginei que depois de alguns meses muito me agradaria voltar ao trabalho, mas a verdade é que por mim ficava com o bebé a tempo inteiro (um emprego a tempo parcial também seria uma óptima opção) durante os primeiros anos. Dou comigo a pensar mas quem sou eu e em quem me transformei? Sim, esta fase é dura: acorda, chora, quer comer, já não quer, adormece enquanto come, não adormece quando devia, noite passada em branco, aerossóis, nariz entupido, respiração atabalhoada, arrota, não arrota, bolça e suja a roupa toda pela terceira vez em duas horas, lava roupa, passa roupa, veste, despe, come a correr e à vez, vai à casa de banho menos vezes que o habitual, fica em clausura em casa semanas seguidas, toma banho em velocidade record, vestir enquanto se abana a espreguiçadeira, pôr rímel com o bebé ao colo, dores nas costas... muitas, e, no entanto, prolongava estes dias do demo se pudesse.

20.2.15

um ano depois

Há um ano estava grávida e deixaria de estar poucas semanas depois. Estive grávida três vezes. Tenho um filho. Cada um lida com a sua dor da forma que melhor sabe e pode. Há quem diga que tem estrelinhas no céu. Isso nada me diz, talvez por não acreditar nesse tipo de céu. Este tempo todo depois, e também depois do sonho concretizado, continuo a achar que lidei com tudo isto da melhor forma. Não fui abaixo, não desisti, corri atrás do que queria e, à terceira, fruto do acaso ou de uma biologia mais feliz, a coisa deu-se.

Nunca pensei em desistir, mas a dada altura tive receio que aqueles poucos meses de desilusões fossem apenas o início de uma caminhada dolorosa e sem fim. Não escrevo longa propositadamente porque a minha idade já não permitia que o fosse, mas poderia ser um percurso penoso sem que o objectivo fosse atingido. Nunca houve um plano para o que faria se a terceira gravidez não fosse avante. Em todo este processo fui vivendo os dias, saboreando as pequenas vitórias feitas de corações a bater e poucos milímetros de gente e respirando fundo quando a derrota se dava. 

Não há uma fórmula para lidar com os abortos, e muito menos para lidar com os abortos de repetição. Encontrei a minha forma de lidar com eles, de seguir em frente e continuar a viver feliz, mas cada uma de nós é diferente. Contei a quem me rodeava o que se ia passando, conheço outras mulheres que guardaram para si a realidade e a dor. Não me revejo nessa forma de estar (preciso que a dor expluda em palavras para me libertar), mas aceito que essa seja a melhor maneira de superar a dor para outras pessoas.

Sorrio quando penso em tudo o que aconteceu de há um ano para cá: uma segunda desilusão, maior que a primeira, e um filho perfeito deitado agora, aqui, à minha frente. É o maior cliché de todos, mas o tempo faz efectivamente milagres.

consegui!

O capítulo foi submetido, apesar das últimas noites terem sido das mais curtas dos últimos dois meses.